Fiquei grávida no carnaval de 2003. Foi tudo tão rápido assim: primeiro, quando eu estava na faculdade, tinha vontade de ter um filho mas não tinha vontade de casar... produção independente naquela dureza estava fora de cogitação... aí me formei, nesse meio tempo minhas duas irmãs tiveram suas filhas... eu gostei de ser tia, e o jogo virou. Então eu queria casar, mas não queria ter filhos. Casei. E aí estava casada havia um ano, e um dia pensei... será mesmo que não quero ter filhos? Hehehe... engravidei no mesmo mês, nem deu tempo de pensar muito no assunto. Ainda bem, por que no mesmo mês meu marido perdeu o emprego, portanto se eu já não estivesse grávida não teria mais permitido.
Eu já tinha feito uma pequena peregrinação por médicos da cidade onde morava, por conta de uma dor nos seios que não me deixava em paz. Tinha encontrado um médico, que por acaso já tinha trabalhado junto com meu marido. Ele era simpático, brincalhão, minha dor melhorou, portanto eu estava muito satisfeita com ele como ginecologista. E estava prestes a descobrir que um bom ginecologista não é necessariamente um bom obstetra.
Logo nas primeiras semanas tive um sangramento (com dez semanas), e do alto da minha ignorância achei que tinha perdido o bebê. Era sexta-feira à noite. Fiquei triste, fui dormir chorando, e no outro dia o sangramento tinha parado. Passei o fim de semana bem quietinha, e acho que tomei uns dez copos de suco puro de limão. Depois li em algum lugar que suco de limão é cicatrizante. Fui no médico na segunda de manhã e levei a maior bronca, nos seguintes termos: "sua caipira! Você podia mesmo ter perdido esta gestação, vc devia ter me ligao, eu teria te internado... vc vai fazer um ultrassom agora mesmo...", mas tudo isso em tom de brincadeira. Fui fazer o exame, deu descolamento de placenta em vias de cicatrização. Voltei nele e ele disse prá ficar de "barba de molho" por duas semanas e repetir o exame.
Quando eu disse que queria parto normal ele respondeu que era a favor, só que não exitava em fazer cesárea: "se o feto olhar torto eu faço cesárea."
Duas semanas depois depois lá fui eu, me sentindo muito bem... fiz o ultrassom, percebi uma linha afastada das costas do feto, percebi que o exame demorou demais... e quando cheguei ao consultório médico, no final da tarde, escutei ele dizendo: "a Vânia já está aí?", e em seguida veio a secretária e pediu que só meu marido entrasse. Minutos depois ela me chamou também, e veio a notícia: "Vânia, existe uma grande chance desse bebê que está na sua barriga ser mongolóide". Juro que na hora pensei que o termo certo seria "portador da síndrome de down", e fiquei com pena do médico por que ele estava suando e apertando as mãos, dizendo que queria estar em qualquer outro lugar menos me dizendo aquilo... prá encurtar a história saí de lá com o nome e número de um geneticista de Campinas, e consegui marcar consulta para o dia seguinte. Fomos prá Campinas, fizemos o exame, e duas semanas depois recebemos o seguinte resultado: "feto cromossomicamente normal. Aconselha-se realizar exames de demais patologias que cursam com a translucência nucal aumentada". Traduzindo: síndrome genética ele não tem, mas provavelmente terá algum outro problema. Daí prá frente minha vida ficou um inferno de exames com resultados normais, mas o médico não se conformava em não achar o que estaria errado... Infelizmente o cordão umbilical também era diferente, tinha só uma artéria ao invés de duas, e tinha mais líquido amniótico do que seria considerado normal, e com sete meses eu tive um sangramento que não acharam de onde vinha! Estava tudo bem com aplacenta, com o útero, etc, até onde se podia ver no exame, mas eu estava sangrando... Então o médico disse que eu deveria tomar a primeira série de injeções de corticóides, para acelerar a maturação pulmonar do feto, "para o caso dele nascer antes". Se eu conseguisse chegar ao oitavo mês de gestação tomaria mais duas injeções, e a mesma coisa se chegasse aos nove meses.
Isso era muito mais que "olhar torto"... o carimbo de cesárea já estava batido na minha testa fazia bastante tempo, mas até aí eu não tinha percebido.
Felizmente eu tinha essa semente do desejo pelo parto normal, o que tinha me levado a procurar informações na internet, e eu já fazia parte da lista de discussão sobre parto do yahoo - das amigas do parto - que na época ainda estavão juntas. Troquei muitos e-mails com a Ana Cris, com a Angelina e com a Adriana. E também com a Ingrid, com a Silvia Schiros e com a Socorro Moreira. O Ric Jones tinha me chamado a atenção para o fato de estar sendo tratada como um mulher bomba, mas depois disso nunca mais respondeu uma pergunta minha. Lacuna que foi coberta pelas respostas da Adriana e da Ana Cris. Trocando em miúdos, ele puxou o tapete e elas me ajudaram a me levantar mais forte. Me deram as informações que me salvaram. O Ric reforçou, recomendando que eu não tomasse nenhuma resolução baseada no medo ou na angústia.
Eu disse ao meu marido que não tomaria nenhuma injeção antes de ter uma segunda opinião. Fomos prá Ribeirão Preto, prá uma médica recomendada pelas amigas do parto, e também liguei prá Eleonora Moraes, que passei a chamar de amiga do meu parto.
Tive uma paz relativa, do sétimo ao nono mês de gestação, apesar de continuar fazendo um ultrassom a cada mês. Foi um período tranquilo, fianalmente curtindo a barriga, me sentindo enorme e linda.
E aí chegou o parto. Conto na próxima postagem.
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