Quem sou eu

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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Tatiana Manuela e Lúcia

Tatiana me procurou mais ou menos no meio da segunda gestação. A primeira filha, Rita, nasceu de cesárea, que a Tatiana heróicamente conseguiu segurar por muito mais tmpo do que o médico que a acompanhava na época. Para a segunda gestação queria preparar-se melhor para o parto, e fizemos uma sessão de preparação, muita leitura indicada, muitos e-mails trocados. E finalmnte Tatiana decidiu ir para São Paulo e ter seu parto por lá, muito bem acompanhada pela Ana Cris, e frequentando os encontros do Grupo de Apoio à Maternidade Ativa. ___________________________________________

Tatiana : "Olá! Obrigada por todas as mensagens. Estamos super bem! No fim a ansiedade atingiu meu médico e lá fomos nós para a indução -o que eu já achei um feito, pois ele sempre disse que indução ele não faria por causa da cicatriz, etc. No fim, o avanço das semanas, o tamanho da Lúcia, eu não ter tido sinal de TP começaram a deixá-lo preocupado; ele que sugeriu a indução....Daí correu tudo mais ou menos dentro do comum (soro, muuita contração, anestesia, loucura, episio....e infelizmente clavícula quebrada....mas não estou reclamando nem um pouco); Assim que eu me organizar, escrevo meu relato e mando para todos. Por enquanto estamos nos adaptando e bem -a Rita está louca de amores pela irmã!! Este e-mail está um pouco apressado, peço desculpas. Voltamos assim que o médico me der alta para viajar (em 15 dias mais ou menos). Beijos a todos, Tati e Lúcia (4 dias) PS: a Ana Cris é realmente fantástica! "

terça-feira, 23 de junho de 2009

Respostas ao relato da (desne)cesárea da Andréia

Resposta da Ana Cristina Duarte, de São Paulo:

"Caramba.. como é que um ato fisiológico é transformado numa barbárie dessas? Que horror...Quanto sofrimento...Essa semana está sendo difícil, recebi outro depoimento cavernoso desses. Não sei porque ainda não pegamos em armas. Beijos, Ana Cris, muuuuito revoltada"

Resposta da Taína, de Americana:

"Juro, mas eu juro....Em hospital eu não tenho mais filho."

Resposta da Eleonora, de Ribeirão Preto:

"Que absurdo o depoimento do seu parto. É revoltante ver historias como essa acontecendo a nossa volta. A desculpa de seu médico é a mais corriqueira que conheço (eu ganhei ela também, mas consegui dar tchau pro obstetra 3 dias antes da desne-cesárea), quase todas gestantes que acompanho ganham ela debrinde entre a 38ª e 39ª semana. Deve ser uma moda nos centros cirúrgicos por aí. Agora, ser tratada da forma como vcs foram.... só batendo de chicote na equipe hospitalar inteira! Tenho certeza que sua história e indignação contribuíram em muito para Vânia ter lutado por um parto mais digno. Tenho certeza que sua presença na lista irá contribuir com os futuros partos de muitas mulheres por aí. Parabéns pela revira-volta e indignação. Você já é uma “Vânia” por botar a boca no trombone. Bote mesmo!!!!!!

Sobre a depressão pós-parto da Andréia e de milhares de mulheres que passam por uma cesariana, tenho a dizer o seguinte: existem pesquisas, a primeira que conheço feita em 1956, fazendo correlações entre partos com pouca participação ativa da mulher e depressão pós-parto. Michel Odent também fala de todo o coquetel de hormônios que deixa de ser liberado numa cesariana de hora marcada (sem iniciar o trabalho de parto) e de suas conseqüências na mulher e na formação do vínculo. E é fácil entender que pular uma etapa de um processo psiquicamente tão intenso como é a transição da gravidez para o nascimento deixa mesmo um buraco mental tremendo. É bom entrar em depressão, ou melhor, fazer o luto do parto não vivido. Ajuda a elaborar e não transformar tudo em doença. Bjus!Eleonora"

E a resposta da Andréa a todos nós:


Meninas, sabe o que me consola? Que já faz 9 anos....as coisas hão de estar melhores....Estarmos nós aqui conversando e eu vendo os projetos caminhando que deixa muito feliz.... São valores profundamente enraízados mas vamos mudá-los... Vâ, eu dormi esse tempo na mesa cirurgica. . Logo depois de ter visto a Ju eles me deram uma injeção que eu apaguei. Acordei qdo estavam me levando pra maca, às 11h30 (perguntei pro maqueiro). Duvido que alguem tenha ficado ali comigo...O meu obstreta continua dando a mesma desculpa...o bebê não encaixou e ele ajusta pro plantão dele...tsc, tsc, tsc....Beijos a todos, Andréia Luiza.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Andréia e Juliana - (desne)cesárea por sofrimento obstétrico

Sofrimento obstétrico = sofrimento do obstetra (ou bostetra, como queiram...)

(Mensagem escrita em 28/11/2004, relatand o nascimento da minha sobrinh, Juliana, dia 25/05/1995).
______________________________________________
Bom dia a todos....

Sou de São Carlos, irmã da Vânia, tenho 32 anos e uma filha de 9 anos
lindíssima (parece com a mãe!!) que é a Juliana. Trabalho na parte
administrativa de uma escola particular daqui...

Minha experiência na maternidade foi psicológicamente terrível. Hj em dia
tenho dó das grávidas quando penso que elas vão ter que ir pra uma
maternidade....

Tive a Ju por cesárea com 41 semanas pela última menstruação e com 40
semanas pelo ultrassom. Com 39 semanas meu médico me disse que eu estava
caminhando pra cesárea por que o bebê não havia "encaixado", que meu colo
do útero ainda estava molinho...

A data prevista do parto era 18/05 e no dia 24/05 ele me pediu que fosse
no dia seguinte pra maternidade porque ele seria o ajudante do Dr. ... (que tem um nome sugestivo, do tipo que está se lixando para as parturientes).

Fui pra maternidade sem entrar em tp, sem romper bolsa, sem nada!!!
O tal do Dr. de nome sugestivo disse pro meu médico que ele só mandava presente de
Tróia. Tive que corrigir o burro, mesmo já estando anestesiada...

Passei a gravidez inteira pedindo pro meu médico não segurar a Ju pelo
calcanhar. O anestesista me disse: "Mãe, olha desse lado que ela vão te
mostrar o bebê". E.....lá estava a Ju pendurada de ponta cabeça
gritando....

Como eu pesava 133 quando engravidei e fui pra maternidade com 137kg sofri
muitas humilhações. Mais do que já se sofre...

Tinha uma enfermeira que me chamava de Fofão, tinha uma que vinha auscutar
o bebê e dizia (ela fez isso umas 3 vezes!!!!) - "Vamos ver se embaixo de
toda essa banha a gente ouve algum bebê"!

Ela nasceu as 9h...fui deixada na mesa até às 11h30 porque tinha que
juntar alguns enfermeiros pra me passar pra maca.

Às 22h a enfermeira entrou no quarto com a Ju nos braços olhou pra mim e
disse:
- "Ah... vc ainda tá com soro e sonda? Amanhã eu te trago ela então".

Ergui meus braços e gritei: - Nããããooooo, deixa eu ver ela!!!

Aquela imbecil foi embora com o meu bebê e só trouxe às 6h do dia
seguinte. Detalhe: eu continuava com o soro, com a sonda, e ainda tinha as
costas doendo por não poder (elas me falavam isso) mudar de posição, suja
e cansada de tanto chorar por não ter visto minha filha ainda.

A Ju já tinha uns 5 anos qdo parei de chorar ao lembrar dessa coisas...

Se eu tivesse a metade coragem que a Vânia tem seria muuuuitttooooo
diferente né?

Talvez SE eu quisesse outro filho peitaria muito médico por aí...Nas
enfermeiras eu daria uns tabefes mesmo....

Um abraço a todos,
Andréia Luiza.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Resposta do Ricardo Jones ao relato da Adriana

(21/09/2005)

PRESENTES E GRATIDÕES

Adriana: O filho de uma amiga minha era uma criança 'pobre', para os padrões da classe média. Não tinha o pai em casa, a sua mãe era uma professora de educação física da escola elementar. Eles viviam de forma muito "apertada", mas tinham a harmonia que era possível dentro de uma casa com dificuldades de toda ordem. Moravam com o menino na casa acanhada, além de sua mãe, a irmã mais velha. Era seu aniversário, e eu acompanhara de longe, como amigo da família, a dificuldade de oferecer ao menino uma lembrança de seus 9, talvez 10 anos de idade.No dia da festa eu estava na sala, entretido com um pedaço de torta, quando sua mãe lhe deu o presente. Esticou os braços com a confiança de ter oferecido ao seu filho o melhor que podia. Não pediu desculpas e nem pareceu culpada. Sorriu com um olhar cheio de alegria, e olhou-o como alguém que sabia ter feito o melhor que podia. Era uma bola colorida, que deveria custar uns 10 reais (na moeda de hoje). Eu o vi abrindo o presente óbvio (não dá pra se embrulhar uma bola e fazer parecer um jogo de louça 24 peças), e mentindo amorosamente à sua mãe de que estava diante de algo inusitado e inesperado. Abriu o pacote e, ato contínuo, abriu também enorme um sorriso em seu rosto.- Uma bola, mãe. A MINHA bola!! E saiu correndo jogando-a por todos os lados. Eu assisti a cena com lágrimas nos olhos, porque consegui ver o valor depositado nas pequenas coisas, nas minúsculas conquistas.

Muitos anos depois eu pude ver a mesma cena se repetindo na relação que temos com os presentes que a vida nos oferta. Para mim ficou a lição de que os partos, quaisquer que sejam, são os melhores possíveis diante do contexto em que se apresentam. O teu parto, Adriana, foi maravilhoso, porque foi o TEU parto, com o que podia ser feito naquele momento, naquele contexto, com aquelas pessoas envolvidas. Poderia ter sido um parto sem epísio, de cócoras, em casa, com menos frieza e mais consideração pelas tuas vontades, mas não havia como ser assim pela organização das pequenas peças que o destino dispõe na mesa de nossa vida.

Graças à sua conscientização e o auxílio luxuoso que Vânia te ofereceu, vc teve um parto maravilhoso, lindo, tão bonito quanto uma bola multicolorida no dia do seu aniversário. Ele foi grandioso e eloquente, porque foi o máximo que todos puderam apresentar. Seu médico, dentro de suas limitações tecnocráticas, deve ter se esforçado também para te oferecer algo que talvez estivesse muito além das suas capacidades. Acho que até ele, descontados seus desmandos, pode ser saudado como alguém que tentou produzir algo melhor.

Meu pequeno amiguinho, que ganhou sua bola colorida, teve esta sabedoria. Ele entendia as dificuldades de sua mãe e, por amor e consideração, não comparou seu presente com os video-games ou chuteiras novas que seus colegas mais abasta(r)dos recebiam rotineiramente. Preferiu oferecer de volta à quem tanto amava o reconhecimento de que aquele era o melhor brinquedo do mundo, porque era o SEU, cheio da sua história, seus sonhos e dentro das suas possibilidades.

O desejo de algo melhor na vida (um parto melhor, uma vida mais digna, um governo mais honesto) não pode nos fazer JAMAIS desacreditar na maravilha do que temos. Não se constrói um mundo melhor desmerecendo o que conquistamos. Seu parto, Adriana (mas falo por todas as outras que tiveram pequenas e grandes frustrações em suas planificações de parto) foi maravilhoso, apesar dos equívocos. Lutar para que estes equívocos não mais aconteçam, é a luta de muitos de nós aqui. Mas esta luta não pode fazer-nos crer que não vale a pena sonhar.

Parabéns pelo seu parto. Parabéns pela lucidez. Parabéns pela escolha de alguém para lhe acompanhar.E que as Deusas que controlam e zelam pela vida continuem a te inspirar na tua caminhada.

Um beijo

Ric

PS: no texto original eu não usei o duplo sentido da palavra "abasta(r)do",porque não desejava criar uma outra discussão. Usei-a aqui por se tratar de uma lista menor e para falar de que os presentes que as crianças recebem são muitas vezes uma "paternidade comprável". As "pobres crianças ricas" são frequentemente"bastardos" por terem pouco acesso aos pais de verdade, e acabam recebendo a paternidade em forma de presentes e substitutivos desta instância. Como me dizia o Max, emérito fazedor de frases: "Recebem presentes por não os tê-los presentes". Mas o título desta crônica não é "presentes e gratidões"? Não seria uma discussão sobre a gratidão pela presença? Não seria esse o maior presente, aquele de que tanto estamos carentes? Não seria (voando alto) a tecnologia aplicada ao nascimento um "presentinho" que a cultura oferece à "criança carente" que, em verdade, ansiava apenas pela presença amorosa dos seus, que foi como a nossa espécie sempre lidou com estas crises?

Impressões da Adriana sobre o Parto Hospitalar

(17/09/2005)

Olá a todos!

Esta difícil conseguir digitar meu relato de parto..... O tempo realmente é curtíssimo !!!

A Vânia estará postando um relato, e logo eu coloco o meu.....Mas preciso fazer algumas considerações :

-Se não fosse a Vânia ter ficado comigo o tempo todo , me apoiando, eu não teria
conseguido. Uma das frases que mais me ajudaram foi uma hora que quase comecei a
chorar pq o medico ia fazer a episio,, ai olhei pra ela e disse: Vânia, eledisse que não ia fazer,,, ela me olhou e disse: "Dri , muitos médicos dizem quenão vão fazer cesárea e fazem"...

-Brigar pelas nossas vontades cansa demais.... A todo momento lembrei de um e-mail que a Socorro me escreveu dizendo isso.... e eu achei que não era bem assim.... MAS É SIM! Teve uma hora que eu estava tããão cansada de brigar com aquele povo, vendo eles fazerem tudo ‘’errado’’ que pensei em desistir... Devo ter pedido cesárea umas 5 vezes....

-Se o médico não tem em mente a humanização do parto, não adianta muita coisa negociar com ele, o médico tem que concordar com as coisas ... Ser comprometido com a humanização! Falo isso por causa da episio... Meu médico disse que não faria...e fez.... Isso pq ele acha que a episio ajuda.... Ele aprendeu assim... Seria bem difícil eu conseguir provar o contrário pra ele...

-A dor do parto é maravilhosa... Isso até eu estar na minha casa... Na maternidade a dor tornou-se insuportável....

-Para o meu parto ser perfeito (mesmo sendo na maternidade) só faltou eu ficar de cócoras , pq deitar naquela mesa horrível foi uma das piores horas..... E a sala de parto parece uma sala de tortura...

-As enfermeiras ficaram todas espantadas... Sempre que trocava o plantão elas iam ver a mocinha que teve parto normal sem anestesia.... Chegavam no quarto e queriam entender pq cheguei tão em cima da hora... E perguntavam : MAS VC NÃO SENTIA DOR?? E eu respondia... Sentia sim, mas sentia dor em casa..... E ai elas falavam : TADINHA... NEM DEU TEMPO DE CHAMAR O ANESTESISTA... E eu dizia: EU NÃO QUIS QUE CHAMASSEM O ANESTESISTA!! Era engraçado elas virem falar comigo... tentar entender o q tinha acontecido... Definitivamente elas não estão acostumadas com esse tipo de parto.....rss... Eu me senti um peixinho no aquário... Que todo mundo passa e fica olhando...

-Meu parto passou bemmm longe de ser um parto humanizado.... Mas fiquei feliz , bem feliz por algumas conquistas... Eu nao tenho muito pra reclamar do parto...Foi rápido... Não tive muita intervenção por que não deu tempo mesmo!

Tem mais um monte de coisa que quero falar.... Mas estarei sem acesso a Internet até começo de outubro... Mas assim que voltar coloco meu relato... Beijos a todos!

Adriana e Sofya
www.meulindobebe.weblogger.com.br

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Adriana e Sofya


Às 4h30 da manhã de domingo o telefone toca. É Dona Cristina para dizer que Adriana está em TP. A bolsa rompeu às 03h00 e agora ela já está com contrações de 20 em 20 minutos. Pensei: se eu chegar lá em uma hora ela terá tido 3 ou 4 contrações, tudo bem... olhei para o relógio e enxerguei os ponteiros invertidos: eram 04h20 e eu vi 06h30. Falei que 07h30 mais ou menos eu estaria chegando.

Quando desliguei o telefone meu marido me alertou para a confusão. Mas ainda assim fiquei tranquila, confiei na Adriana e fui tomar banho, depois arrumei as coisas, passei álcool na bola... Telefone toca de novo, 05h45, é Dona Cristina: "Vânia, já deu 8 contrações seguidas com intervalo de 5 minutos". Falei que em meia hora estaria lá. Chamei minha irmã para me levar e chegamos 06h20. Adriana estava sob o chuveiro, apoiada na parede. Tinha uma cadeira mas ela disse que não conseguia ficar sentada. Disse que não estava aguentando mais, e que fazia tempo que não sentia a bebê se mexer. Pediu água, e depois de 2 ou 3 contrações quis sair do chuveiro. Fomos para a sala e ela sentou-se na bola, dizendo que era beeem melhor que cadeira. Na primeira contração falei para dar aqueles pulinhos na bola, mas depois que a contração passou ela falou que doeu mais, então abandonamos a idéia. Pedi para dar umas apertadinhas e uma balançada na barriga e ver se a bebê reagia, e como ela reagiu bem, fiquei tranquila. As contrações foram ficando mais próximas e mais demoradas - de 2 em 2 minutos e durando 35 segundos. Falei que com 45 segundos seria bom irmos para a maternidade mas ela não quis - "não, é muito cedo, eu quero esperar mais". Fiquei tranquila. Saiu da bola, foi para o sofá, reclamou de calor... quando vinha a contração se inclinava para a frente e para o lado.Falei que quando começasse a me xingar saberíamos que estava perto e ela respondeu com um olhar doce: "eu não vou te xingar!". Quis ir para o quarto, o que se provou quase uma intuição pois logo em seguida uma vizinha chegou. ("O que que ela veio fazer aqui?!!!") Levei o som para o quarto, fechei a porta e ficamos lá escutando música, contando contrações e relaxando entre elas. Nessa altura ela não queria mais massagem na lombar, reclamou que doía. Continuei apoiando e ajudando a relaxar os ombros e o pescoço entre as contrações. Ela falou que estava dando vontade de fazer cocô durante as contrações e uma luz vermelha se acendeu na minha cabeça. É hora de ir.- "Eu não queria ter que ir..." (achei que ela ia chorar). Expliquei que sentir vontade de fazer cocô só durante as contrações é sinal de que está muito perto. Ela concordou e fui avisar a mãe. Elas ainda tinham que ir buscar o carro da vizinha. Quando voltei pro quarto veio uma contração mais looonga. Ela gritou: "Não está passaaaaandooooooo. Porque não está passaaaaaandoooooooooooooooo?! AAAAAAAAAAAAAAAAAi" E afastou as pernas! Juro que pensei que ia nascer! Cheguei a olhar prá ter certeza. Depois que passou ajudei a vestir o vestido e fomos lá prá fora. O carro demorou e vieram mais contrações. E quando o carro chegou... o caminho, as contrações, os buracos, a dor... Cinco ou seis minutos que pareceram horas. Adriana pediu que parassem o carro durante a contração mas não quiseram nem saber disso. Todo mundo falava: "vai nascer, vai nascer"... tentei acalmá-os dizendo que ainda demoraria um pouquinho, e pensei: "se nascer no carro vai ser uma méééér...!" Chegamos. 07h30 Adriana entrou na frente, e já vieram com cadeira de rodas: "nada disso, eu não consigo sentar, dói demais, EU VOU ANDANDO." Como ela já conhecia o caminho foi indo, e não tiveram outra opção senão segui-la de perto, mas com as caras mais contrariadas do mundo. E a vizinha, tão solicita tentando ajudar: "já falou que a bolsa estorou às 3?" Nããããããão! Foi às 6! não... foi 6 e meia! (Adriana teve medo que a dilatação ainda estivesse pequena, e se fosse esse o caso ela queria ter mais tempo, por isso mentiu a hora em que a bolsa se rompeu.) - "Já ligaram para o médico? NÃO?! Pq não?!"- Pq o médico falou que não era prá ligar, era prá vir prá cá primeiro.- "Ah... mas vcs TINHAM QUE TER LIGADO!"Bom... na terceira vez que falaram isso minha língua escapou ao controle: "se a gente não for confiar no médico...". Aí pararam. Um capítulo à parte: chamavam ela de filhinha! Porra, isso é pior que mãezinha! E tudo que eu queria ter na hora era uma filmadora prá vocês verem a cara de surpresa daquela que fez o toque! Os olhos se arregalaram, o queixo caiu! Os dedos foram afastando, afastando... meu coração deu pulos de alegria! Deu certo! Ela chegou com 9cm de dilatação. Nove! Pensei que não ia mesmo dar tempo de fazerem nada... E tentei ajudá-la o máximo que pude.

Enf: "Mas e a depilação? Não vai depilar?! Mas é mais higiênico!!" Insistiram, insistiram... e Adriana se rendeu: "tá depila logo, mas cuidado! Não vai me cortar heim?" A enfermeira levantava a barriga dela prá depilar até em cima, e ela reclamava que aquilo doía muito. Tentei fazer umas piadinhas diante do inevitável... e no final não aguentei: "vai ser parto normal, pq tem que depilar tanto prá cima?!" A enfermeira ficou P da vida e parou, jogou a gillete na pia e falou: "Fiz o que pude! ele que se vire depois com os pontos!" Pensei que iam me por prá fora, pensei: "Vânia, cala a boca já!" Adriana pediu prá levantar, e eu ajudei. Tinha uma auxiliar lá: "mas você não pode ficar de pé! e se o neném nascer?!" Olhei prá ela e falei: "bom, aí tá tudo resolvido né?!" e pensei : "Vânia, cala a boca já!"

No corredor a enf. ligou pro médico: "a bolsa rompeu às 3, não... 6, não... 6 e meia... tá em 9 cm com rebordo na volta inteira" E a Adriana: "fala prá ele que sou aquela que quer parto de índia!"Enf: - "É aquela que quer parto de índia, não quer que depile, não quer ficar deitada... ela só quer ter o bebê!!! Haaaaaaahahaha..."

No quarto, Adriana tomou água várias vezes. Elas diziam: "NÃO PODE" e ela dizia que só ia molhar a boca, ia lá e tomava vários goles. Quando o médico chegou estávamos abraçadas perto da janela, ela estava tendo uma contração. Pensei: "deve ser uma cena linda, mas eles não têem olhos de ver..." Ele a chamou de mulher: "Vem cá mulher que eu tenho que te examinar". Pensei: "caramba, mulher é bem melhor que filhinha, agora estamos bem!"No toque: 10 cm com rebordo anterior, e na auscuta do coração da Sofia, tudo ótimo. Ele tirou o rebordo com a mão, ela gritou prá caramba, e já pudemos ir prá sala de parto. No caminho alguém observou que ela estava tão tranquila, nem parecia que ia ter filho. Me encaminharam prá trocar de roupa. Adriana parou na porta da sala de parto e fingiu que estava tendo contração prá me dar tempo de chegar, e aproveitou para dizer que não ia subir na mesa. Quando acabei de me trocar o médico estava na porta, esperando prá pegar toucas e máscaras, e me falou: "convence sua amiga a subir naquela mesa senão vamos ter que tomar uma providência". Bom... eu amarelei. Uma quantidade enorme de absurdos passou pela minha cabeça. Quando cheguei ela andou até a mesa de parto, apoiou as duas mãos e falou: "EU NÃO VOU SUBIR". E eu a abracei e falei: "Dri, estamos em um hospital, e não temos alternativa". Ela suspirou... E perguntou prá mim: "e se a gente fizesse agora uma anestesia?" Respondi mansamente: "não dá mais tempo Dri... você vai conseguir, você aguentou até agora, o pior já passou..."Nós deixamos o médico fora de cena! Putz... Ela subiu na mesa e colocou as pernas nos estribos. Não foi amarrada.

E então mais toques, ele dizendo que o bebê estava alto ainda...a preparação prá episio que ela percebeu...- "VOCÊ FALOU QUE NÃO IA CORTAR" - "Mas se eu não cortar depois você vai ter que fazer uma cirurgia prá por as coisas de volta no lugar e vai ser muito pior"."QUANTOS PONTOS VC VAI TER QUE DAR? A enfermeira respondeu: "ah... uns dezoito...por dentro! Haaaaaahahahah"Adriana quase chorando: "Vânia ele falou que não ia cortar!"- "Dri, muitos médicos dizem que não vão fazer cesárea e fazem!"E isso a acalmou...

Veio outra contração. A mesa estava na horizontal, o médico dizendo que daqui a pouco iam inclinar... Adriana então inclinou-se sózinha, ficando com os cotovelos dobrados e apoiados na mesa, e eles deram um travesseiro que eu dobrei e coloquei sob as costas dela. Aí veio a enfermeira e disse: "VC TEM QUE SEGURAR AQUI!" e esticou o braço dela derrubando-a deitada na mesa. O grito foi horrível. Enquanto durou a contração Adriana puxou o braço de volta e conseguiu ficar inclinada. Mas depois que passou eles falaram tanto que ela TINHA que segurar nos ferros prá conseguir fazer a força direito... ela foi experimentar, e eu não percebi que por baixo do campo, depois disso, a auxiliar ficou segurando o cotovelo dela prá que ela não conseguisse mais dobrá-lo. E nessa hora Adriana ficou com muita raiva... e as contrações desapareceram.

Aí puseram soro prás contrações voltarem, ficaram falando que ela fazia força errado, que não ajudava... que onde o bebê estava parado não podia ficar...O médico enfiava as mãos, me dava a impressão que ele estava tentando puxar o bebê. Ela me olhou com os olhos vidrados de dor e falou: "Vânia isso que ele tá fazendo dói demais!" e eu respondi: "eu sei... eu lembro..."Ele ordenou a kristeler, e enfermeira fez... algumas vezes... uma cena horrível... e Sofia nasceu. Ele cortou o cordão imediatamente e entregou pro pediatra. Adriana me olhou preocupada: "pq não chorou, deu alguma coisa errada?" -Não Dri, ela tá começando a respirar, e logo vai chorar. Tiramos o médico de cena pela segunda vez!

E logo a Sofia chorou. O médico falou prá mim: "vai lá ver!" Balancei a cabeça negativamente. (Não gosto de ver o que fazem com os bebês. Passo mal...). Abracei a Adriana e fiquei falando baixinho com ela... "vc conseguiu, parabéns!..."A enfermeira perguntou alguma coisa e o médico respondeu: "não sei, pergunta prá chefe aí" e fez sinal na minha direção. Minha cara caiu! Olhei prá ele e dei o sorriso mais sedutor do mundo... por baixo da máscara! : P

Ele sorriu de volta e respondeu a pergunta dela. Depois que a placenta saiu (foi tracionada mas não arrancada), ele pediu "a boneca". Adriana olhou prá mim com cara de interrogação e eu respondi: "não sei..."

- O QUE QUE É BONECA? -
- "Mas tudo essa menina quer saber! Depois eu te mostro o que é a boneca!
- "EU TAMBÉM QUERO VER A PLACENTA! CADÊ A PLACENTA?"

Olhei prá ele e falei bem mansinha: "tenho um monte de amigas bravas assim... vou mandar todas pra você porque você é muito bom!" E ele: "nããão, peloamordeDeus! Eu não mereço."

Ficamos todos dando risada. Adriana recebeu os pontos da episio, e ele falou: "agora vou fazer o parto da boneca. Olha aqui." e puxou um bolo de gase que estava colocado na vagina prá estancar o sangramento enquanto ele dava os pontos.

"E A PLACENTA, CADÊ A PLACENTA? EU QUERO VER!" ... Ele mostrou, e mostrou um lugar mais grosso com uma formação meio arredondada, dizendo que ali tinha começado a se formar outra placenta. (?) Ela pediu prá colocar a mão, queria tocar na placenta... ele deu um suspiro de resignação e deixou. Vieram com a Sofia, mostraram de longe prá Adriana, que só pode esticar o braço e tocá-la com as pontas dos dedos, e já levaram embora. Veio o pediatra e falou que estava tudo bem e que ele voltaria à tarde.

- "O SENHOR NÃO DEU A INJEÇÃO NÉ?"
- "Não. Em xx anos de medicina nunca dei e nunca tive problemas. Até acredito que num parto prematuro ou traumático pode ser necessário, mas nesse caso não."
- "ISSO MESMO! OBRIGADA POR FAZER O QUE TINHA SIDO COMBINADO!"

TÓIN!

Logo fomos todos pro quarto. Sofia ficou em observação (por rotina, não por necessidade). Fiquei mais um pouco por ali, e depois fui trocar de roupa. Na saída as enfermeiras me enquadraram:

- "Você já trabalhou em hospital?"
- É... já trabalhei em unidade de queimados e em UTI...
- "Onde?"Em Uberlândia... e depois em Campinas...
- "Ah..."

Acho que ficaram satisfeitas. A mãe da Adriana esteve presente o tempo todo, e muito respeitosamente. Ela tinha combinado que ia sair de casa quando o TP começasse, que iria pro shopping, mas domingo de madrugada o shopping tá fechado! Então ela não saiu, mas ficou no quintal, e só vinha quando era chamada. Lá na maternidade, depois do exame de admissão ela foi encaminhada prá recepção prá fazer a internação, e quando chegou de volta a Sofia já tinha nascido. Adriana ficou internada dois dias, porque na segunda à tarde, quando o pediatra passou ele achou que a Sofia estava chorando demais, e pediu prá elas ficarem lá mais aquela noite. Tiveram alta na terça de manhã. Não foi o melhor parto que poderia ter sido, mas foi O PARTO. Adriana suportou heróicamente as intervenções, escapou de algumas, e lutou tudo o que pode. Esse relato pode parecer muito longo, mas se eu fosse contar tudo o que escutamos da enfermagem seria muito maior. E Adriana, apesar de tudo isso conseguiu! Como bem disse a Ingrid, é triste que uma cena de parto se transforme numa luta de boxe! E a impressão que Adriana ficou, de que a sala de parto se parece com uma sala de torturas é verdadeira. É importante que tenhamos consciência disso: não importa o quão grande seja sua capacidade de luta, se a equipe não é humanizada eles vão te enquadrar!

A favor do médico posso lembrar que Adriana estava com placenta em grau 3 já havia algum tempo, e diante disso muitos médicos teriam pressionado em direção à cesárea. Ele não fez isso. Fez a episio, e agora eu entendi o que algumas pesoas já tinham tentado me explicar: ele aprendeu assim e não sabe fazer de outra forma. Se tivesse aberto mão da episio mas feito aquela kristeler daquele jeito, provavelmente o resultado teria sido desastroso.

Fico muito feliz de ter participado dessa história, de ter ajudado, e de agora ser honrada com a amizade de Adriana: mulher guerreira, que informou-se, fez suas escolhas e batalhou por elas até os 42 minutos do segundo tempo.

Beijos, paz e luz.
Vânia Bezerra - recém-nascida como doula em 11.09.2005

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Para não ir para a maternidade cedo demais, e ter um (ou uma) acompanhante mais seguro(a).


Oficina de Preparação para o Parto Ativo
Objetivo: preparar as gestantes para um parto ativo, e seus acompanhantes para ajudá-las durante o trabalho de parto.
Conteúdo: como contar as contrações, como saber a hora de ir para a maternidade, a respiração durante o trabalho de parto e durante as contrações, posições para facilitar o trabalho de parto, massagens que o(a)acompanhante pode fazer.
Público Alvo: gestantes e acompanhantes.
Investimento: 50,00 por dupla (gestante + acompanhante).
Número de Participantes: mínimo de 5 duplas inscritas e máximo de 10
Inscrições: até o dia 23/06 pelo telefone: (16) 3307- 6953 ou pessoalmente no Instituto de Psicologia Comportamental. (Rua Dom Pedro II, nº 2095 - próximo a Rodoviária de São Carlos)
e-mail: ipc@psico.net
Data e Horário: 27/06/2009 (Sábado) - das 14 às 16 horas.
Palestrante: Vânia Cristina Rondon Bezerra - CRP 06/51759
Formada em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia em 1996. Aprimoramento Profissional em Psicologia Clínica Hospitalar pela PUC de Campinas em 1998. Educadora Perinatal (cursos para gestantes) formada pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004. Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP em 2006. Oferecendo curso para gestantes desde 2004, com índice de 90% de partos normais e 100% de sucesso na amamentação.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Giovano, Diana e Giovana


Fiz o curso de Educadora Perinatal no GAMA - Grupo de Apoio à Maternidade Ativa - de São Paulo, em outubro de 2004. Tive aulas com a Ana Cris, com a Angelina Pita, com a Simone Diniz, com a Vera Iaconelli. E na minha turma estavam a Ingrid, que depois deu início à Rede PartodoPrincípio, e a Márcia que tem um capítulo dedicado à ela no livro "O Homem de Vidro" do Ricardo Jones. O capítulo é a "Irmandade do Sapato Furado". Tenho o slide-show do parto dela, e até hoje passo para minhas "adouladas" que ficam em dúvida sobre ter parto domiciliar ou hospitalar.


Voltei para São Carlos e na mesma semana saí em busca de informações sobre os médicos mais cesaristas ou mais vaginalistas. Conversei com dois, fiquei totalmente desanimada com a segunda conversa, e logo depois chegou o primeiro casal. Ligaram na quinta à tarde, dizendo que estavam sendo encaminhados para cesárea por que a bebê estaria encaixada em uma posição desfavorável ao parto. Foram até meu consultório, mostrei como fazer uma posição para favorecer a recolocação da bebê na bacia, e sugeri que buscassem segunda opinião. Eles aceitaram a sugestão, puderam esperar em paz até entrar em trabalho de parto.


Um dia, Diana estava tendo aula e tve uma contração. Foi praticamente arrastada para a maternidade, falando o tempo todo que não era hora, que só uma contração não era motivo prá correr prá maternidade, mas simplesmente não lhe deram ouvidos! Ligaram para o Giovano, avisando que estavam levando-a para a maternidade, e ele pediu que não fizessem isso... mas acharam que ele não estava entendendo! Então ela foi arrastada até a maternidade, a enfermeira examinou, disse que era muito cedo prá internar, e então forma prá casa. Até hoje, quando dou a palestra na Unimed, falo que barriga de gestante vira preocupação da sociedade inteira. parece que se você está grávida fica automaticamente incapaz de tomar conta de si mesma. Mas será que é certo? Será?


Diana ficou bastante tempo na piscina do clube, falou que era uma delícia por que tirava o peso da barriga. Eu também me lembro dessa sensação... aí, uma noite, eu estava acabando de jantar e o telefone tocou. Era o Giovano. As contrações da Diana já estavam se aproximando, conversamos um pouco, cheguei a falar um pouco com ela, mas ela disse que vinha outra contração e manifestou muita dor. Falei que já estava indo prá lá. Tomei banho correndo, a bolsa da doula já estava pronta, eu ia chamar um táxi, o telefone tocou de novo. Era o Giovano avisando que já iam prá maternidade. Falei prá ficar tranquilo, desejei boa sorte.


E no dia seguinte ele ligou dizendo que tinha nascido bem rápido, apesar de umas coisas que tinham acontecido na sala de parto que julgavam totalmente desnecessárias: uma agitação, uma luz muito forte, e um horrendo empurrão na barriga na hora da saída da bebê. Concordo totalmente.


Fui visitá-la no dia seguinte, no horário de visitas. Giovana chorava quase sem parar. Lembro que a peguei no colo e ela parou. Diana disse que ela só mamava de um lado, não aceitava o outro peito. Lembro que falei prá Diana que recém-nascidos são assim, uns choram pouco, outros choram muito... que era questão de tempo prá ela se adaptar ao lado de fora. Fiquei com a bebê no colo enquanto a Diana tomou banho, e depois fui atrás de uma toalha limpa, e consegui um lençol prá ela se enxugar.


Sabe o que tinha acontecido? Giovana estava com a clavícula quebrada. E quando eu a peguei no colo, devo ter pegado do lado que não estava quebrado, portanto ela parou de chorar. Por isso ela só mamava de um lado. No segundo dia fizeram uma radiografia e confirmaram a fratura. A beb~e ficou dois dias com toda aquela dor! Até chorei quando o Giovano me contou. Chorei muito, chorei de pena, chorei de raiva... Fui visitá-los em casa alguns dias depois. Me mostraram como se prende o bracinho enrolando fita crepe na roupinha do recém-nascido. Não é preciso engessar, basta imobilizar com a roupa mesmo.


Estavam bem.


Apesar de não ter doulado literalmente, ajudei na obtenção do parto normal, e mesmo com a fratura de clavícula o resultado foi melhor do que seria uma cesariana com hora marcada. Giovana quis nascer em pleno feriado, e conseguiu. Era novembro de 2004. Foi a segunda escorpiniana que ajudei. (O primeiro foi o meu filho). Só lamento os dois dias que ela ficou com dor. Se tem pediatra na sala de parto, prá que serve? Pelo jeito, serve prá ver que houve um problema, dois dias depois!

domingo, 7 de junho de 2009

Relato de parto - meu nascimento como mãe.


- Primeira parte -


Como não cheguei a entrar em TP naturalmente vou começar contando de onde considero que tenha sido o começo da “novela”.

Eu já estava com 3cm de dilatação, colo do útero “molinho” e a barriga já havia baixado 2cm. Achei que ele nasceria no fim de semana do dia 09 (09/11/2003). Aí na sexta à tarde (dia 08), deu uma chuva de granizo em Guaxupé com pedras pouco menores que bolas de ping-pong. Minha casa ficou alagada porque a calha entupiu rapidamente. Entrava água pelas lâmpadas e pelas tomadas, molhou as camas e os colchões, e até umas roupinhas do neném que eu tinha acabado de passar. Ficou tudo uma sujeira, e a sensação de ninho pronto foi literalmente por água abaixo... ficamos limpando aquela bagunça, e eu ajudando como podia com aquele barrigão imenso.
Liguei pra médica pra avisar que tínhamos decidido ir pra Ribeirão Preto, (agora pela negativa que recebemos ao nosso pedido de autorização para a presença do pai na sala de parto da Maternidade de Guaxupé). Ela estava passando o fim de semana em São Paulo. Liguei à noite, no celular, e ela disse que se eu entrasse mesmo em TP, enquanto eu estivesse na estrada ela estaria também, e que chegaríamos praticamente juntas. Fiquei tranqüila.

No sábado continuamos arrumando a casa, e eu tendo contrações indolores cada vez mais freqüentes e ritmadas. A médica de Guaxupé havia me orientado que se essas contrações ficassem muito ritmadas e cada vez mais próximas eu deveria procurá-la, mesmo sem dor. Eu cheguei a fazer isso porque ficaram de 10 em 10 minutos e depois de 5 em 5 durante mais de 4 horas. Ela me examinou e disse que a dilatação continuava a mesma, só que o colo do útero já estava afinando.

No domingo à noite a médica de Ribeirão me ligou dizendo que já estava em casa e querendo saber como eu estava. Tudo bem... as mesmas contrações indolores já nem tão freqüentes assim. Então ela disse que temia um pouco pela viagem, que gostaria que eu fosse pra algum lugar mais perto, pois havia o risco da bolsa romper. Falou como se temesse que eu ficasse muito nervosa se isso acontecesse. Pedi um tempo pra pensar. Liguei de volta na segunda à noite, falei que eu não tinha medo e que preferia ficar em casa. Aí o argumento mudou: ela disse que o neném estava ficando muito grande, a ultra de 38 semanas estimava o peso em 3,6 Kg, que agora já deveria estar em 3,8 e a cada dia que passava minha chance de um parto normal diminuía. Seria melhor induzirmos o parto o mais rápido possível. Fiquei muda de espanto! Ela ainda disse que eu estava com medo da ocitocina, que não precisava ter medo não... Pedi de novo um tempo pra pensar, desliguei o telefone e chorei até ficar com o rosto inchado e o nariz parecendo um tomate. Mandei uns e-mails, rezei, acendi umas velas... pesei tudo que havia acontecido comigo até ali. Não conseguia acreditar que tinham colocado "defeito" no Batatinha de novo!

Senti-me completamente impotente.Minha única escolha agora seria ir pra SP, pra casa de algum amigo ou parente, ficar lá esperando o TP começar pra valer, e ir pra uma Casa de Parto. Mas eu não estava nem um pouco a fim de sair da minha casa. Por mais amiga ou conhecida que uma pessoa possa ser eu não ficaria completamente à vontade, e ainda mais com aquele barrigão. Já era difícil dormir em casa, na minha cama, com os meus travesseiros, meus horários, minha televisão, etc. Achei que não funcionaria, que não valia a pena, ainda mais pq o Raul não poderia ir ficar junto comigo. Resolvi encarar a indução como a minha melhor chance de obter algo que se aproximasse, mesmo que vagamente, de um parto humanizado. Numa política de redução de danos conclui que se escapasse da cesárea já seria uma grande coisa.

Na terça de manhã ainda chorei um pouco, mas passei o dia todo arrumando as coisas, tomando chá de canela e pensando na conversa que teria com a médica antes de aceitar a indução. Liguei pra ela e avisei que iria no dia seguinte. Combinamos nos ver no consultório ao meio dia. Ainda tive tempo de correr até o acupunturista (Marcos Pasqua), que deu um jeito de me atender, trocou minhas agulhas e colocou uma relaxante muscular e uma pré-anestésica.

Na quarta-feira, dia 12, lá fomos nós. Chegando ao consultório ela me examinou, disse que continuava tudo na mesma, exceto por eu ter perdido um pouco de peso e a barriga ter baixado mais 3 cm. A conversa que tive com ela foi a seguinte: “não tenho medo da indução, mas tenho muito medo que isso seja só a primeira de uma sucessão de intervenções: ocitocina, rompe bolsa, dá anestesia e aí fala que fez o possível mas vai ter que ser cesárea.” Ela sorriu... e me respondeu que não poderia me garantir que não acabaria em cesárea porque isso só se vê na hora, mas que bolsa ela não rompe a não ser já com a dilatação completa e se achar necessário, e anestesista ela não chama mesmo porque a mulher perde a força na hora de empurrar. Completou dizendo que já tinha desmarcado todas as consultas até o final do dia, e que caso eu aceitasse a proposta dela ela estaria comigo o tempo todo no hospital, que me levaria pro chuveiro, que andaria comigo... a opção de ir pra SP ainda martelava na minha cabeça, mas então o pensamento que me veio foi: “eu vou aceitar, e EU vou fazer esta M*... funcionar a qualquer custo”. Aceitei.

Ela fez o papel da internação, ligou pra maternidade, falou que estava enviando uma paciente em TP (mentira), com 3 cm de dilatação, e que era pra me por o sorinho com 8 gotas por minuto que ela chegaria em seguida. Como eu não havia almoçado ela disse que se eu quisesse poderia tomar um suco ou uma vitamina antes de ir pra maternidade. Então saímos em busca de uma lanchonete. Detalhe muito importante: eu não discuti plano de parto com ela, pois tinha resolvido ficar em Guaxupé, então só fiz isso com a médica de lá. Foi quando soubemos que o pai não poderia entrar e decidimos ir pra Ribeirão. Para a médica de Ribeirão pedi apenas que ela tentasse com o pediatra a autorização pro alojamento conjunto que na maternidade em questão ainda não tem, ou pelo menos não tinha na época.

- Segunda Parte -


A partir do momento em que saímos do consultório parecia realmente que eu estava em TP. Eu numa serenidade espantosa (na verdade meio aérea), e o Raul se confessando ansioso, começou a tagarelar e errava as entradas, dava voltas inúteis no quarteirão. Depois que eu tomei a vitamina e ele um lanchinho fomos pra maternidade. Chegando lá, papéis, demora, demora, a atendente me perguntou duas vezes se estava tudo bem, demora, demora, tem que subir de cadeira de rodas, chega, o quarto não está pronto, demora, e finalmente sou levada para o pré parto. Tira a roupa, fica de avental e touquinha, vem uma enfermeira que faz um monte de perguntas, entre as quais se a médica me disse algo sobre a depilação, se deveria ser parcial ou total. E eu: “não é pra depilar nada!”. Aí ela disse que ia preparar o soro e ligar pra médica pra perguntar. Antes que tivesse ligado ela chegou e falou que já que o soro não tinha sido ainda colocado ela iria fazer uma cardiotocografia antes. Veio o aparelho, ela começou o exame e logo colocaram o soro (15h00). Ela continuou acompanhando e disse: “Esse exame é importante também pra descartar circular de cordão.” Pensei: "agora me danei de verdade... se ela mandar essa de circular de cordão a essa altura do campeonato eu vou entrar na faca tão rápido que já era"... As contrações começaram a doer um pouquinho, ela mexeu um pouco na barriga (não tocou a sireninha), o exame continuou normal, ela disse estar tudo bem e tirou o aparelho. UFA! Saiu pra atender o celular, depois o Raul saiu pra trocar o carro de estacionamento, as contrações começaram a ficar bem fortes. Me ofereceram leite achocolatado, mas eu não quis porque estava sentindo náuseas durante as contrações.

Ela fez o primeiro toque – 6 prá 7 cm – perguntou se eu queria ir pro chuveiro - eu quis – inclusive porque tinha passado protetor solar antes de viajar e a essa altura já tinha suado bastante, me sentia suja. Foi uma delícia! O Raul ficou comigo, segurava o chuveirinho quando vinham as contrações e eu me acocorava – era ótimo, a dor ficava mais fácil de suportar. Não sei quanto tempo fiquei lá – acho que tive umas cinco ou seis contrações - e só aceitei sair porque tinha outra moça na fila, que a minha médica estava acompanhando enquanto o médico dela foi auxiliar uma cesárea em outro hospital. Infelizmente ele chegou antes que eu tivesse liberado o banheiro e não deixou que a moça fosse também.

Quando sai do chuveiro tentei ficar de pé pra ajudar na evolução da dilatação, mas não consegui. Na primeira contração que veio senti tontura e me deitei bem rapidinho. Contrações mais fortes, espaço diminuindo – o Raul marcou – duravam 45 segundos e o intervalo durava 2 minutos. Eu suava... a médica ficava mexendo na minha barriga, aquilo me incomodava e eu não consigo entender porque raios eu não pedi pra parar. Pedi uma toalha pra enxugar o suor – desde o começo o Raul pegava toalhas de papel e me enxugava - mas eu achei que uma toalha seria melhor. Foi ótimo porque quando vinham as contrações eu enfiava o rosto na toalha e respirava fundo, ou tentava (na maioria das vezes sem conseguir), mas a toalha me ajudou muito.

A médica saiu um pouco e veio um cara, a enfermeira falou quem eu era, ele começou a fazer perguntas , eu respondi algumas, aí parei e perguntei: você é ...? “O anestesista.” - Ah... Fiz um gesto com a mão pedindo prá ele sair, e ele falou que estaria à disposição pra quando fosse preciso. Aquilo foi uma porcaria porque a essa altura doía muito, e eu pensava: “não vou agüentar, não vou agüentar, quando passar eu vou pedir anestesia...” Aí passava e eu resolvia agüentar mais uma. A médica voltou, falou que tinha conseguido reduzir o período obrigatório de observação do neném no berçário pra 3 horas (eram 6). Teve uma contração que doeu mais, eu tirei a mão dela da minha barriga e procurei a mão do Raul. Comecei a gemer. Ela pediu que eu avisasse quando sentisse pressão no intestino, “como se fosse vontade de ir ao banheiro”. Mais umas quatro contrações e eu senti a pressão. Ela fez o toque – 9 prá 10 cm – mandou preparar a sala. Saiu, voltou em seguida, falou que o pediatra que tínhamos combinado chamar estava em uma reunião, mas que a pediatra de plantão também era muito boa, que já tinha conversado com ela sobre o alojamento conjunto, etc. Tudo bem. Levantei e fui andando pro Centro Obstétrico.

Mal tinha saído do pré parto veio uma contração e eu fui me abaixando. A enfermeira: “não, não, não! Fecha a perna, fecha a perna!” e eu comecei a rir! Será que ela pensou que o neném ia cair?! Fiquei só meio abaixada, com os joelhos meio dobrados e rindo! Passou, andei até lá, subi na mesa, ela colocou uma tabuinha almofadada debaixo do braço esquerdo (que tinha o soro), e me amarrou. Eu pedi: “não me amarra nãaaaao...”, e ela soltou. Continuou me posicionando, a médica chegou, falou que eu fizesse força durante as contrações, e pediu que inclinassem a mesa. O Raul entrou, a roupa dele era azul, ela brincou que ele tinha ganhado uma roupa mais bonita que a dela. (17h30). Ela ainda olhou as perneiras, arrumou as almofadas, reclamou que não estava bom, mexeu de novo, até que ficou satisfeita, então me amarraram as pernas e puseram os campos. Acenderam o foco, ela falou que não queria, apagaram, e ela pediu que ligassem a música (Enya, eu acho...). A partir disso eu estive praticamente o tempo todo de olhos fechados, e toda a memória que eu tenho do parto é auditiva. Pedi que ela esperasse o cordão parar de pulsar pra cortar, ela fez que sim, e quando a pediatra chegou transmitiu meu pedido. Todo mundo que entrou na sala falou comigo, me chamou pelo nome e se apresentou.


Eu fiquei com os olhos fechados por que quando abria eu automaticamente tentava decifrar as expressões das pessoas em volta, e isso tirava minha concentração. Então não abri mais. Foi meu jeito de ficar mais sózinha!

A médica pediu que preparassem a anestesia local – olhei pra ela e falei: “não corta muito não tá?” Ela disse que só cortaria se fosse preciso (e eu acreditei!). Uma picadinha... O médico auxiliar chegou, eu já conhecia, era o mesmo que fazia as minhas ultrasonografias. Tentou escutar o coração do neném, reclamou que o aparelho parecia um rádio velho, foi buscar outro. Aí ele apertava aquilo na minha barriga, eu reclamei duas vezes que estava doendo, ele parou. Aí de vez em quando ela enfiava a mão, doía pra C***... se alguém tivesse me oferecido anestesia eu teria lhe beijado os pés! Teve uma hora que a médica mexeu na minha barriga, doeu e eu segurei a mão dela antes que pudesse perceber o que fazia. Ela falou na maior calma: “Vânia, tenta não por a mão pra baixo porque você contamina o campo”. Depois o Raul contou que tiveram que trocar o campo e a luva dela. Ela enfiou a mão de novo, eu gritei: “Não faz isso que dóoooooooooooooi... tira a mão daí!” Ela tirou (!!!) e disse: “ se você não quiser eu não ponho, mas o que eu estou fazendo é pra te ajudar.” Daí a pouco ela enfiou de novo, e eu: “Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai Anaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa”. Todo mundo riu, alguém comentou que eu era muito boa, que se todas fossem assim... Outra respondeu que eu era ótima. Isso me animou um pouco.

A médica começou a pedir que eu fizesse “força comprida”, acho que fiz coco porque senti ela me limpando duas vezes, mas não estava nem um pouco preocupada. Fazia força até que fosse imperioso respirar. Escutei ela dizendo: “Vânia, para de gritar e faz força”. Nem tinha percebido que estava gritando! As contrações de repente começaram a ficar fracas e curtas. Ela pediu que eu continuasse fazendo força e eu falei com uma voz infantilizada: “mas a contração já passou...” O médico auxiliar se aproximou e falou que da próxima vez ele ia empurrar a minha barriga pra me ajudar. Gritei: NÃO QUERO! – a médica: “o que vc não quer?” – EU NÃO QUERO QUE EMPURRE A MINHA BARRIGA! - e ela na maior calma: “agora não pode demorar muito Vânia” – pediu então que inclinassem mais a mesa e disse: “pode inclinar, não vai cair não” (??!) – pediu também que abrissem mais o soro. Falou pro Raul segurar minha cabeça alta. Decidi que da próxima faria força até desmaiar se fosse preciso. Minha impressão foi de que cheguei bem perto disso. Veio a contração e eu fiz fooooooorçaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... Senti um PLUFT! Abri os olhos e lá estava o Batatinha! E tudo que eu consegui pensar foi: Graças a Deus eu não desmaiei. Ele foi colocado no meu peito, todo lambrecado e com um pouco de sangue. Falei com ele, dei boas vindas, beijei várias vezes, todos na sala sorriam, o Raul tinha lágrimas nos olhos.

A pediatra pediu licença, perguntou se podia levar um pouquinho, eu deixei depois de beijar mais um pouco. Quando passei ele pro colo dela ele chorou e ela disse: “não chora... eu não sou a mamãe mas eu sou boazinha também!” e ele parou. Depois começou de novo, e eu fiquei escutando ele chorar e pensando: a maioria das mães gosta de ouvir o filho chorar, mas eu sei o que estão fazendo lá... QUE MERDA! Ele voltou, tinham limpado o sangue, perguntei se tinham dado injeção – sim – e quanto foi o apgar? 9 e 10 – “dez antes mesmo de ter aspiradas as vias aéreas”. Aí ele foi levado pro berçário e eu comecei a tremer violentamente.

-Terceira e última parte -


Ele nasceu às 18h25 do dia 12/11/2003, pesando 3,625Kg e medindo 49 cm. Depois que foi levado pro berçário, comecei a tremer violentamente. A médica avisou que ia tirar a placenta. – Aaaaaaaaaaaaaai – que ia ver se não tinha ficado nenhum resto lá dentro... – Aaaaaaaaaaaaai – e pediu que eu relaxasse o quadril pra ela dar os pontos da episio. Relaxar de que jeito?! Eu parecia um liquidificador! Ela perguntou se eu queria mais anestesia, perguntei: Quantos pontos serão? – “Dez, entre internos e externos. Não rasgou nem um pouquinho além do que eu cortei” - (Lógico que não, já que eu não deixei que empurrassem minha barriga!). Tá... aceitei mais anestesia. Depois avisou que ia passar o antisséptico (falou o nome), disse que era o que ardia menos, mas que ia arder um pouco. Eu já estava perdendo a paciência... - Quando penso que acabou ainda tem mais!! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai. E então tinha acabado.


Ela perguntou se estava tudo bem. – “Estou sem circulação nas pernas, tá doendo”. Já estavam me soltando. Ela desceu minhas pernas e fez um pouco de massagem. Fui levada pro quarto, ainda tremia muito. Perguntei pro médico ultrassonografista, quando ele foi ao quarto, por que eu estava com aquele tremor, e ele disse que eu tinha ficado com medo... tsc, tsc... se isso tivesse acontecido eu saberia. Pedi pro Raul ir olhar o neném. Ele voltou e disse que ele estava na isolete, pertinho da janela do berçário, “de bundão pra cima e olhando tudo.” Logo veio uma canjinha pra mim, começamos a ligar pra família, liguei também pra Eleonora (amiga do meu parto) mas ela não estava em casa. Eu continuava com o soro, sei lá com que remédio, não lembro mais, e de olho no relógio. Liguei de novo pra Eleonora, o marido dela atendeu (Wlad – eu nunca tinha falado com ele): “Oi Vânia! E aí foi tudo bem? Parto natural?” Foi! Fiquei escutando ele comemorar aos gritos... “Pan, é a Vânia, foi parto natural!!” Ela veio. Expliquei que não foi tão natural, que teve a indução, a episio... mas eu estava muuuuuito feliz e me sentindo muuuuito bem. Ela perguntou alguns detalhes, nos parabenizou, eu pedi pra ela mandar notícias pra Adriana e pra lista (Parto Nosso - derivada da Amigas do Parto). Aí já estava na hora de ver o Batatinha. Chamei a enfermeira. Ela disse que o período de observação seria de 6 horas. – MAS no meu caso esse período foi reduzido pra 3! Então o trouxeram. Lindo, cabeludo, bochechudo, pegou o peito super bem, de primeira, e me olhava com aqueles olhos azuis de recém nascido. Fiquei deliciada! Depois de parar de mamar ficou no meu colo. O cansaço chegou, o Raul também muito cansado. Dei o braço a torcer. Eu tinha autorização pra alojamento conjunto, mas quando a enfermeira veio buscar eu deixei levar. Aí veio uma enfermeira e tirou o soro, depois me ajudou a tomar banho. Já era mais de meia noite. Dormi super pouco, mas super bem. Sentindo-me totalmente desperta pensei em mandar trazê-lo de volta, mas eram só 3h da manhã! Parecia que eu tinha dormido 3 dias. O parto começou a passar na minha cabeça como um filme, eu lembrava das minhas reclamações e dos gritos e ria baixinho. Às cinco da manhã ele veio, mamou de novo e ai ficou comigo. Teve “aulinha” de banho e de cura de umbigo no berçário. Lotado! Disseram que tinha mulher espalhada por outros setores do hospital pq os quartos da maternidade acabaram. Surpresa deliciosa: no meio da manhã e no meio da tarde passou um cara tocando violino – tocou aquela música do Titãs: o acaso vai me proteger... (não sei o nome), Eu sei que vou te amar e A noite do meu bem. AMO esta música. Derramei umas lagriminhas... Agora pelo resto da minha vida, cada vez que escutar uma destas 3 músicas maravilhosas vou lembrar daquele momento mágico onde “dei à luz” um menininho saudável, perfeito e gordinho.

Às 4 da tarde a médica veio e me deu alta. Eu já estava andando pelo corredor pra estimular o intestino a funcionar. Tinham me dado “um laxantezinho”, e em todas as refeições veio mamão. Comecei a achar que minha alta dependeria disso – pura viagem. Conversei com ela ainda no corredor, fiz umas perguntas. Falei que senti as contrações – óbvio – mas não senti nenhuma dor da saída dele – só das mãos dela, aquilo doía demais! Ela disse que tinha ficado preocupada com o tamanho dele, e que punha as mãos pra se certificar que ia passar. Fez um gesto com as duas mãos segurando uma bola e rodando, e completou dizendo que se as mãos dela tinham espaço pra rodar em volta da cabecinha, então ele ia passar. Putz... Percebi que realmente ela esteve com muito medo. E quanto a não perceber a saída dele, ela disse: “eu sei... quando você falou que a contração tinha passado, era porque ele já estava metade pra fora”.

Já estava com tudo arrumado pra ir embora quando a Eleonora chegou. A única visita que recebi e amei conhecê-la pessoalmente, depois de tantos e-mails e telefonemas em busca de um parto mais digno.

Menos de 24 horas após o parto estávamos na estrada a caminho de casa.


"Considerações posteriores: apesar de ter sido muita sofrida, na época, a decisão de aceitar a indução do parto, penso que fiz a melhor escolha. Depois fiquei sabendo que as Casas de Parto exigem acompanhamento à partir da semana 37 e eu já estava entrando na 39. E nunca consegui saber se a minha gestação era considerada ainda de baixo risco, porque tinha algumas alterações nos ultra-sons que eram “indícios de possível má formação fetal”. Se eu tivesse ido para São Paulo o Raul não poderia ir comigo. Ele teria que ser chamado quando o trabalho de parto tivesse se iniciado e correria o risco de não chegar a tempo, e além disso, sair pra estrada muito ansioso definitivamente não é boa idéia. Nada disso era claro na minha cabeça na hora de decidir. Eu apenas tinha vontade de lutar um pouco mais por um parto humanizado mas, tinha a sensação de não daria certo e que a indução era minha melhor chance. Confiei nisso e funcionou. Ainda bem!


Do que me arrependo pelo resto da vida: de ter cedido na questão do alojamento conjunto, de ter deixado darem o banho, de ter deixado darem a injeção... Não tive forças prá lutar por cada detalhe e essas coisas escaparam ao meu controle. (O neném teve impetigo (infecção de pele) contraído no berçário, e com uma semana precisou tomar antibióticos.)

Conclusão: ainda precisamos lutar muito para melhorar as condições de atendimento às gestantes e parturientes no nosso país, porque por mais informada que uma mulher possa ser, na hora do parto fica praticamente impossível conquistar condutas humanizadas se elas já não forem rotineiras. Eu agora faço parte dessa luta!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Como me salvei e salvei meu filho


Fiquei grávida no carnaval de 2003. Foi tudo tão rápido assim: primeiro, quando eu estava na faculdade, tinha vontade de ter um filho mas não tinha vontade de casar... produção independente naquela dureza estava fora de cogitação... aí me formei, nesse meio tempo minhas duas irmãs tiveram suas filhas... eu gostei de ser tia, e o jogo virou. Então eu queria casar, mas não queria ter filhos. Casei. E aí estava casada havia um ano, e um dia pensei... será mesmo que não quero ter filhos? Hehehe... engravidei no mesmo mês, nem deu tempo de pensar muito no assunto. Ainda bem, por que no mesmo mês meu marido perdeu o emprego, portanto se eu já não estivesse grávida não teria mais permitido.


Eu já tinha feito uma pequena peregrinação por médicos da cidade onde morava, por conta de uma dor nos seios que não me deixava em paz. Tinha encontrado um médico, que por acaso já tinha trabalhado junto com meu marido. Ele era simpático, brincalhão, minha dor melhorou, portanto eu estava muito satisfeita com ele como ginecologista. E estava prestes a descobrir que um bom ginecologista não é necessariamente um bom obstetra.


Logo nas primeiras semanas tive um sangramento (com dez semanas), e do alto da minha ignorância achei que tinha perdido o bebê. Era sexta-feira à noite. Fiquei triste, fui dormir chorando, e no outro dia o sangramento tinha parado. Passei o fim de semana bem quietinha, e acho que tomei uns dez copos de suco puro de limão. Depois li em algum lugar que suco de limão é cicatrizante. Fui no médico na segunda de manhã e levei a maior bronca, nos seguintes termos: "sua caipira! Você podia mesmo ter perdido esta gestação, vc devia ter me ligao, eu teria te internado... vc vai fazer um ultrassom agora mesmo...", mas tudo isso em tom de brincadeira. Fui fazer o exame, deu descolamento de placenta em vias de cicatrização. Voltei nele e ele disse prá ficar de "barba de molho" por duas semanas e repetir o exame.
Quando eu disse que queria parto normal ele respondeu que era a favor, só que não exitava em fazer cesárea: "se o feto olhar torto eu faço cesárea."

Duas semanas depois depois lá fui eu, me sentindo muito bem... fiz o ultrassom, percebi uma linha afastada das costas do feto, percebi que o exame demorou demais... e quando cheguei ao consultório médico, no final da tarde, escutei ele dizendo: "a Vânia já está aí?", e em seguida veio a secretária e pediu que só meu marido entrasse. Minutos depois ela me chamou também, e veio a notícia: "Vânia, existe uma grande chance desse bebê que está na sua barriga ser mongolóide". Juro que na hora pensei que o termo certo seria "portador da síndrome de down", e fiquei com pena do médico por que ele estava suando e apertando as mãos, dizendo que queria estar em qualquer outro lugar menos me dizendo aquilo... prá encurtar a história saí de lá com o nome e número de um geneticista de Campinas, e consegui marcar consulta para o dia seguinte. Fomos prá Campinas, fizemos o exame, e duas semanas depois recebemos o seguinte resultado: "feto cromossomicamente normal. Aconselha-se realizar exames de demais patologias que cursam com a translucência nucal aumentada". Traduzindo: síndrome genética ele não tem, mas provavelmente terá algum outro problema. Daí prá frente minha vida ficou um inferno de exames com resultados normais, mas o médico não se conformava em não achar o que estaria errado... Infelizmente o cordão umbilical também era diferente, tinha só uma artéria ao invés de duas, e tinha mais líquido amniótico do que seria considerado normal, e com sete meses eu tive um sangramento que não acharam de onde vinha! Estava tudo bem com aplacenta, com o útero, etc, até onde se podia ver no exame, mas eu estava sangrando... Então o médico disse que eu deveria tomar a primeira série de injeções de corticóides, para acelerar a maturação pulmonar do feto, "para o caso dele nascer antes". Se eu conseguisse chegar ao oitavo mês de gestação tomaria mais duas injeções, e a mesma coisa se chegasse aos nove meses.
Isso era muito mais que "olhar torto"... o carimbo de cesárea já estava batido na minha testa fazia bastante tempo, mas até aí eu não tinha percebido.

Felizmente eu tinha essa semente do desejo pelo parto normal, o que tinha me levado a procurar informações na internet, e eu já fazia parte da lista de discussão sobre parto do yahoo - das amigas do parto - que na época ainda estavão juntas. Troquei muitos e-mails com a Ana Cris, com a Angelina e com a Adriana. E também com a Ingrid, com a Silvia Schiros e com a Socorro Moreira. O Ric Jones tinha me chamado a atenção para o fato de estar sendo tratada como um mulher bomba, mas depois disso nunca mais respondeu uma pergunta minha. Lacuna que foi coberta pelas respostas da Adriana e da Ana Cris. Trocando em miúdos, ele puxou o tapete e elas me ajudaram a me levantar mais forte. Me deram as informações que me salvaram. O Ric reforçou, recomendando que eu não tomasse nenhuma resolução baseada no medo ou na angústia.


Eu disse ao meu marido que não tomaria nenhuma injeção antes de ter uma segunda opinião. Fomos prá Ribeirão Preto, prá uma médica recomendada pelas amigas do parto, e também liguei prá Eleonora Moraes, que passei a chamar de amiga do meu parto.


Tive uma paz relativa, do sétimo ao nono mês de gestação, apesar de continuar fazendo um ultrassom a cada mês. Foi um período tranquilo, fianalmente curtindo a barriga, me sentindo enorme e linda.

E aí chegou o parto. Conto na próxima postagem.