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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Rosa e Rafael - estreando como mãe e pai.


Rosa entrou em contato comigo no dia 07 e sete dias depois já estava com o bebê nos braços.

Ela viria de Franca pra ter o bebê em São Carlos e ainda estava sem doula, com 37 semanas.

Trocamos algumas mensagens pelas redes sociais, Ela me contou que seria seu primeiro parto, e tinha buscado preparação lendo livros (Parto Ativo da Janet Balaskas), assistiu o filme "Renascimento do Parto", e uma preparação baseada no método Hypnobirthing, que envolve visualizações e exercícios de respiração. Fiquei bem contente e mais tranquila, ela estava fazendo sua parte.



Disse que no começo achou que não precisaria de doula, depois foi conversando com outras mulheres que tiveram parto natural, e se convenceu sobre a importância de estar acompanhada.











Doulas não são imprescindíveis, é fato! Mas que fazem uma enorme diferença, isso com certeza!




Tentamos marcar um dia para nos conhecermos antes do parto. Eles viriam para uma consulta no dia 19, mas ela já intuia que o bebê nasceria antes. E assim foi.


Domingo, dia 13, 8h15, eu já estava acordada e tomando café da manhã, o telefone tocou.

- "Oi Vânia, aqui é a Rosa, vc se lembra quem sou eu? ... então, estamos indo pra São Carlos, eu estou com dores, passei no hospital aqui de Franca, já estou com 2 dedos de dilatação, então já estamos pegando a estrada"...

Fiz algumas perguntas e por tudo me parecia cedo demais, ela estava muito calma, raciocínio claro... No entanto, era preciso considerar que pegariam duas horas de estrada. Perguntei sobre a força das contrações, e a resposta me convenceu que estavam fortes. Sendo assim não valia a pena esperar muito mais e depois ficar com a impressão de que poderia nascer antes de chegar no hospital. (A gente sempre tem essa impressão, a cada contração com a vocalização mais alta que a anterior, todos ficam com a impressão de que vai nasceeeeeeeeeeer!).




Então me coloquei de prontidão esperando que chegassem. Três horas depois não tinha noticias, liguei e não atenderam, Liguei nas duas maternidades e perguntei... ainda não tinham chegado. Fiquei matutando se teriam desistido de vir pra São Carlos.

Mas logo responderam as mensagens, tinham parado pra almoçar e estavam vindo com bastante calma. As contrações estavam ficando mais fortes. Excelentes noticias!

Avisaram quando estavam quase chegando e fui pra maternidade acompanhá-los. 13h50 Encontrei-os na recepção da Casa de Saúde, estavam aguardando a enfermagem vir buscá-los. Nos apresentamos, e conversamos um pouquinho, conversa já bem entrecortada pelas contrações.

A enfermeira chegou e os acompanhou pelo elevador, eu fui pelas escadas (o elevador só comporta 3 pessoas).

Foram encaminhados para a suíte de parto porque o quarto adaptado para parto humanizado já estava ocupado e os outros estavam passando por reformas.


Na suíte Rosa foi passou pelo cardiotocograma, e o exame de toque. A enfermeira disse que tinham sido muito otimistas dizendo que ela estava com dois dedos de dilatação, que nem chegava a isso, mas colo molinho, afinando e centralizado. O cardiotoco mostrou que as contrações estavam ficando próximas mas nos 20 minutos somente uma tinha sido efetiva (com força suficiente para promover dilatação). O médico não autorizou a internação dizendo que ficar no hospital só aumenta o stress e a chance de acabar em cesárea.




Sinceramente ficamos tristes com a possibilidade de perder a boquinha de ficar na suíte! rsrsrs Mas ele tinha razão, então ficamos ali conversando um pouco, Rafael procurou hotéis com vagas disponíveis, falei da possibilidade de darmos uma volta na praça, mas aí as contrações já estavam ficando realmente mais fortes e ela precisava se abaixar, estava começando a vocalizar um pouco mais alto, fiquei imaginando a cena no meio da praça, não ia dar muito certo!

Então fomos pra um hotel. 14h30 Fui com o meu carro para guiá-los, e apenas uma vez o Rafael deu sinal de luz me alertando que teriam que parar pq estava vindo uma contração.

Chegamos e no hotel tinha quartos com diferentes tamanhos por diferença de 10,00, então quisemos ver os quartos. Daí descemos do elevador e o sensor de presença não funcionou, a porta do elevador fechou e ficamos no escuro, Já comecei a rir imaginando que se ela tivesse uma contração eu ia sair tateando tentando chegar até ela... kkkkkkkkk Mas o Rafael foi até uma porta e abriu, o sensor funcionou e conseguimos encontrar o quarto. Era bonitinho.


Fomos ver o outro. Maior, uma cama a mais, menos espaço entre as camas e um cheiro de casa fechada horroroso. Nem entramos direito, todo mundo repetiu as mesmas falas - "que cheiro ruim, o outro é melhor"... e voltamos então para o corredor escuro. Eu e Rosa já ficamos no quarto, ela foi pro chuveiro, enquanto Rafael foi fazer o check in e pegar as malas. Depois saiu novamente pra comprar lanchinhos e suquinhos. Mulheres em trabalho de parto precisam comer. :)

Rosa tendo contrações mais fortes e mais próximas, entrou no chuveiro e logo declarou: - "não vou sair daqui nunca mais"!

O alívio que a água proprociona é grande mesmo. Água quentinha caindo nas costas, box largo suficiente pra mudar de posição, mais conforto. Pouco antes ela estava sentindo tremores, calafrios, e no chuveiro tudo voltou a ser calma e tranquilidade. Dor não é sinônimo de sofrimento!

Mais alguns minutos e o cansaço falou mais alto. Ela saiu do chuveiro e deitou-se para tentar descansar entre as contrações. Tinha ficado a noite anterior em pródromos fortes, já estava há mais de 24 horas sem dormir. Conseguia relaxar. Apaguei as luzes, ficamos na penumbra, e quando vinham as contrações eu me levantava e fazia massagens nas costas e pressão no quadril. Ela sempre relatando que a pressão nos dois lados do quadril aliviava mais.

Ficou assim umas 5 ou 6 contrações, depois tentou debruçar-se sobre a bola mas achou que a dor piorava, foi pro banheiro e sentou-se no vaso, eu dava as mãos pra ela puxar durante as contrações. Estava com sede, não tinha água no quarto e eu não queria deixá-la sozinha pra ir até a recepção buscar, mas nesse meio tempo o Rafael já mandou mensagem de que já estava chegando de volta, e logo entrou pela porta carregando as sacolinhas, vários lanches, duas garrafas de vitamina de frutas, e pamonhas. 17h00

Então Rosa tomou água, depois vários goles da vitamina, e uma mordida na pamonha salgada que ela detestou... rsrsrsr (Mas tinha da doce também. Ficou pra depois). Comeu um lanchinho wrap.

Caminhou pelo quarto, conversando pouco, às vezes ficava de cócoras durante as contrações, tentou deitar-se novamente, depois voltou pro vaso. Coloquei um travesseiro atrás da cabeça, ela gostou, recostou-se e conseguia descansar e até cochilar entre as contrações, que continuavam vindo mais fortes, mais próximas e já começavam a ficar mais compridas também.

Às 18h30 começamos a nos preparar para voltar ao hospital, era a recomendação dada pela enfermeira, que voltassem no final da tarde. Dessa vez já fui junto com eles, e no caminho paramos diversas vezes para esperar a contração passar. (Sempre considero que parar o carro é a melhor coisa a fazer, pois a imposssibilidade de mudar de posição e o balanço do carro pioram muito a sensação de dor, sem falar no risco de um buraco ou um obstáculo provocarem um solavanco que poderiam até resultar em descarga de adrenalina, fazendo as contrações diminuírem o ritmo ou a intensidade).

Aí o quarto adaptado já estava disponível, o cardiotoco foi repetido, assim como o exame de toque, que revelou 3cm de dilatação, bebê alto ainda, mas a s contrações bem próximas e bem mais fortes. No início da tarde as mais fortes chegavam a 16, agora já chegavam a 70 e estavam durando mais que um minuto. A internação foi autorizada, e a banheira logo colocada pra encher.

Pediram pro Rafael descer e assinar a internação, ele aproveitou para jantar e também trocou o carro de lugar, colocando-o próximo à recepção do ambulatório, que fica aberta durante a noite.

Rosa tentou o chuveiro, ficou por pouco tempo, tínhamos a impressão de que não estava esquetando. Ela entrou na banheira mesmo ainda com pouca água, quando vinham as contrações Rafael dava as mãos enquanto eu pressionava os pontos de dor. E assim ela ficou até a banheira estar cheia, e declarou novamente:

 - "É incrível como a água alivia, não vou sair nunca mais"!


Assim, Rafael e eu ficamos um tempo nos revesando no apoio físico a ela, dando as mãos, fazendo massagens, dando água, incentivando a comer, e logo chegou o momento de covardia, que passou a se repetir em casa contração: não vou conseguir, estou muito cansada, não aguento mais essa dor, não tem mesmo analgesia, e se eu tomar um remédio x será que não alivia?, estou tão cansada, queria tanto dormir...

A cada contração Rafael se desdobrava em atenção e frases de incentivo: você está conseguindo, lembra da preparação, respira, segura minha mão, estou aqui com você...

E eu ajudando com as massagens e mais incentivo: seu corpo está funcionando perfeitamente, olha como as contrações estão vindo bem, percebe como a ausculta está cada vez mais baixa, percebe como vc já está sentindo uma pressão diferente, você está conseguindo...

E assim que cada contração passava ela se recostava e descansava até a próxima, que começava com a mesma música: aaaaaaaaaai eu não aguento mais, eu quero dormir um pouco, eu preciso descansar, não tem mesmo analgesia, nem se eu implorar? E perguntou isso pra enfermeira.

A enfermeira explicou que a analgesia só seria possível quando estivesse quase nascendo, e eu expliquei que isso é raquidiana baixa, mas a peridural que poderia ser utilizada desde os 4 ou 6 cm São Carlos não oferece... sim, fiz isso na presença da enfermeira pq não vou admitir que uma mulher que eu estou doulando seja levada a acreditar que em todo lugar do mundo as mulheres só se tem acesso a analgesia quando o bebê está perto de nascer. Mas... existe aqui a possibilidade de uma injeção de dolantina, parente da mordina, que proporciona um relaxamento muscular e sonolência, além de às vezes um leve "barato".

Rosa aceitou a injeção, próximo de meia noite, e realmente deu uma aliviada e ela conseguiu descansar um pouquinho, embora tenha ficado um pouco decepcionada pq esperava um alivio maior da dor, mas um tempo depois chegou até a pensar em pedir mais uma injeção caso a dilatação ainda não estivesse completa.

Quando as contrações voltaram com força e ela voltou a pedir analgesia e em toda contração se dizia muito cansada, chegamos a conversar sobre a possibilidade de romper a bolsa. Esse rompimento tem que ser feito com muito critério e cuidado, não deveria jamais ser feito como rotina, mas entre uma intervenção que pode acelerar a descida do bebê e uma desistência completa levando à cesárea, mil vezes uma intervenção. Conversamos sobre prós e contras, Rosa autorizou, embora o Rafael se declarasse contra, pois não era o que estava no plano de parto, onde diziam que aguardariam o rompimento espontâneo. A enfermeira veio e fez o exame de toque, falou que o bebê ainda estava um pouco alto, não seria seguro romper a bolsa, era preciso esperar mais. Mas a dilatação estava completa. Então ela voltou pra banheira e nos desdobramos em ajudá-la a ficar de cócoras nas contrações, depois de duas ou 3 tentativas ela conseguiu ficar nesta posição durante a contração toda.


Estava frio e a água da banheira não permanecia quente. Rafael e eu nos revazavamos tirando água da banheira com um canecão e enchendo novamente com água quente.

Sugeri que ela ficasse um pouco na banqueta, não muito, mas o suficiente para ajudar o bebê a descer na pelve. Apesar de da boca pra fora ela estar cansada e querendo jogar a toalha, a força que ela tem se mostrava na disposição para fazer tudo que fosse necessário pra ajudar no nascimento.

Na banqueta vi a bolsa começar a aparecer. A enfermeira estava vindo fazer a ausculta, e pedi a ela que ficasse no quarto. - "Como eu não sei se o que estou vendo é um bolsão ou se a cabecinha está logo atrás... melhor ficar aqui." Ela concordou, foi só trocar de roupa, o que se mostrou providencial porque a bolsa foi descendo mais a cada contração e quando rompeu fez um jato que molhou até o meio do quarto. Líquido limpido, e Rafael comemorando: - "Viu só, rompeu sozinha, SOZINHA! Vc está muito bem, tudo conforme nosso plano de parto"... E seguiu comemorando e incentivando.

Depois da bolsa romper a cabecinha não estava logo atrás, então voltamos a aguardar, e a enfermeira não ficou o tempo todo, porém voltava com mais frequencia, ficava no quarto alguns minutos e saia novamente. Esse é o cuidado humanizado, o cuidar sabendo dar o espaço... fiz o mesmo, sai do quarto duas vezes com pretextos de buscar água ou ir ao banheiro, mas com o objetivo principal de deixá-los à vontade durante alguns minutos. Eu ficava por perto e entrava quando ouvia a vocalização típica da contração. Na segunda vez em que voltei ao quarto ela havia saído da banheira e estava sentada no vaso sanitário. Ele dá mais alívio que a banqueta pq é maior, mais alto e as laterais são mais confortáveis... ela estava começando a ter os puxos. Estava sentindo o bebê descendo. Revezou algumas contrações entre a banehira, a banqueta e o vaso sanitário,  e logo pudemos ver o topinho da cabeça começando a aparecer durante as contrações.

Então a ajudamos a ir sentar-se na banqueta, o Rafael estava tirando fotos, eu me sentei atrás dela e fiquei apoiando suas costas, Fiquei durante algumas contrações, depois troquei de lugar com o Rafael e passei a dar as mãos pra ela puxar, depois o lençol.


Hora de chamar a pediatra e estava caindo na caixa postal, perguntaram quem estava de plantão da UTI, era uma boa pediatra e concordou em atender, fiquei aliviada! É tão ruim quando depois do parto ser lindo vem um pediatra intervencionista e estraga tudo! :( Mas não foi esse o caso!

Médico a caminho, berço aquecido ligado, camera filmando, e bebê descendo mais a cada contração.

Rosa já não tinha duvidas, não tinha cansaço nem desanimo que pudesse lhe tirar esse momento, ela estava conseguindo, estava fazendo força.

Médico chegou, sentou-se à sua frente, pediatra chegou em seguida, todos em expectativa respeitosa, frases de incentivo sendo ditas nos momentos certos, Rafael apoiando e Rosa fazendo força e puxando o lençol...  lá vinha o bebê, cada vez mais, cada vez mais, até passar suavemente do ventre de sua mãe para as mãos do médico, que o ergueu para que ela o pegasse, enquanto dizia: - "é um moleque!" E todos sorrimos dando as boas vindas ao Gael!



Você conseguiu Rosa, você conseguiu! Forte, venceu seus medos, respirou suas inseguranças e suas dores, trazendo Gael ao lado de cá, com saúde e lindo! Rafael, presente o tempo todo, ajudando e incentivando, chorando ao ver seu filho chegando a esse mundo.



Pediatra foi super tranquila, observou sem tirar do colo por váááários minutos, e o bebê só foi tirado por pouco tempo, apenas enquanto a equipe ajudava a Rosa a chegar até a cama. Médico a examinou, placenta veio logo, o médico só ajudou ali no finalzinho, quando já estava solta. Não precisou dar pontos, bebê veio devagar, períneo integro.

Tudo absolutamente calmo, dia amanhecendo, fui até o hotel e peguei as coisas deles que tinham ficado lá, fiz o check out, voltei à maternidade para entregar as coisas, os 3 estavam dormindo, ferrados no sono! Entrei no quarto, ajeitei as coisas, já ia embora sem me despedir mas a Rosa estava dormindo com o bebê meio escorregando, fui ajeitar, ele chorou, ela acordou e eu fiquei me sentindo uma vaca! rsrsrsrsr Mas aí ajeitei o bebê no bercinho bem ao lado da cama, onde ela poderia vê-lo, ele dormiu novamente, o Rafael por sua vez continuava capotado. :) Dei um abraço bem gostoso na Rosa, deixei-os descansando e fui pra casa, sorrindo o tempo todo. Que domingo abençoado, que semana começando cheia de luz!

Voltei na terça pela manhã, para vê-los, encontrei a Rosa sentada na cama e cortando as unhas do bebê. Falamos sobre os sentimentos do parto, e os preparativos para pegar estrada e voltar para casa.



Parabéns a essa nova família! Que sejam abençoados sempre, com muita saúde e paz.
Gael seja muito bem vindo!


Obrigada pela confiança! Foi uma honra estar com vocês!

Grande abraço!

Vânia.
















quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Larissa, Maykon, Yasmin, Luan e Luíza.

Tive a honra de doular a Larissa e o Maykon 3 vezes. Cada parto com suas emoções diferenciadas, tempos diferentes e desafios semelhantes!



O primeiro parto está relatado em detalhes aqui mesmo no blog:

http://vaniadoula.blogspot.com.br/2011/01/larissa-maycon-e-yasmim-28022010.html


E então recebo uma mensagem de que Larissa está grávida de novo. :) Fiquei muito feliz! Diante dos problemas de saúde que teve na primeira gestação, ela me contava que as pessoas sempre duvidavam que ela fosse querer engravidar de novo, e ela sempre muito calma: - "Claro que vou querer mais! Se tiver a doença de novo? Aguento outra vez! Vale a pena!"


A gestação desenvolveu-se de forma muito saudável, e ela quis repetir todo o processo de preparação para o parto, e principalmente para a amamentação. Eu a princípio achei desnecessário, mas ela me explicou que na primeira gestação a preocupação com a doença, o fato de não ser gestação de baixo risco, tinha deixado quase tudo em segundo plano, de modo que agora ela queria ter tudo de novo, pois provavelmente veria tudo com outros olhos. Então concordei e fizemos todas as reuniões novamente, além de uma ou duas sessões extras para falar sobre duvidas específicas quanto à amamentação.

Larissa tinha muito receio de que o parto fosse mais tranquilo mas que na amamentação a história de dificuldades se repetisse. Me lembro de falar e repetir que essas dificuldades que aconteceram com a Yasmim provavelmente eram muito ligadas à necessidade que houve de fazê-la nascer antes dela dar o sinal de que estava preparada. Larissa e Maykon foram até o limite da segurança e chegaram ao ponto onde esperar mais seria correr um risco muit maior do que o do nascimento prematuro. Yasmin nasceu de 37 semanas, Larissa tomava remédios fortíssimos e a amamentação foi prejudicada por isso, mas era o melhor que se podia fazer diante daquele quadro.

Larissa ainda tomou mais providências para sentir-se mais segura, comprando a bombinha de ordenha, encomendando uma pomada de lanolina pura que na época ainda era difícil de encontrar no Brasil, e lendo muito tudo que pudesse encontrar sobre dificuldades na amamentação e como solucioná-las.

Enfim, cercada de toda a segurança que pôde providenciar, passou a esperar que o Luan desse sinal de querer chegar. Trocávamos mensagens e mais mensagens sobre como proceder na hora em que as contrações se apresentassem, a que horas eu iria para a casa dela, o que eu faria para ajudá-la a ficar mais tempo em casa, o que faríamos caso a gestação ultrapassasse 40 semanas ou 41 semanas... como "driblar" alguém que dá ouvidos a histórias de bebês que "passaram do tempo"...

Sempre repito e nunca é suficente: para cada história de parto com final infeliz acontecem 95 nascimentos perfeitos, que não viram notícia! Mas o império do medo é sempre presente, infelizmente.

Uma coisa  que me alegrava muito em ver era como Larissa estava falante e com os olhos irradiando os sorrisos. Sempre rindo, sempre rindo, me envia uma mensagem assim: "a bolsa rompeu! kkkk"

Na hora em que li me perguntei o que havia de engraçado no fato da bolsa romper... e comecei a rir também! Hormônios são sentimentos em forma líquida! Rir e relaxar logo após a bolsa romper, confiando que o processo começou e que logo o bebê estará em seus braços. Rir é o melhor remédio sempre!

Trocamos várias mensagens, as contrações começaram, ela calma e aguardando... pouco depois me ligou dizendo que já estavam mais fortes e próximas, iriam até a maternidade para dar uma olhada, ela ainda estava tomando um banho, chamaria o Maykon e iriam em seguida, me dariam noticias após o exame.

Também tomei meu banho, fui separando meus apetrechos e colocando tudo à mão. No que me pareceu poquíssimo tempo ela já ligou dizendo que o exame de cardiotoco estava perfeito e que as contrações estando fortes e próximas ela tinha decidido ficar na maternidade.

Cheguei bem rápido. Fui recebida com sorriso. :D

Bolsa de água quente, chuveiro, banheira começando a encher, Larissa andando pelo quarto e se pendurando no pescoço do Maykon quando vinham as contrações, que vinham mais frequentes, fortes e longas.

A banqueta foi trazida para o quarto e sugeri que ela experimentasse. Ela tentou por duas vezes mas a dor aumentava muito, parecia que ela estava se sentando numa chapa quente, ela pulou de pé... depois da segunda vez que a cena se repetiu tirei a banqueta do meio do caminho, coloquei-a no canto do banheiro.

Enfermeira veio e auscutou os batimentos cardíacos do bebê, tudo perfeito, tudo caminhando bem.

- "Qualquer coisa me chama"! e saiu.


Próxima contração, Maykon estava próximo à cama, Larissa pendurou-se no pescoço dele, como na segunda figura do quadro ao lado. Inclinou mais o corpo, encostando-se ao peito dele, vocalizou mais forte, e disse: - "Estou fazendo força".

Olhei e lá estava o topinho da cabeça do bebê. Luan estava passando para o lado de cá.

Só tive que sair ao corredor e dizer que estava nascendo, a enfermeira ainda estava bem próxima, voltou ao quarto. Na próxima contração a cabecinha veio mais, ela me olhou e pediu pra chamar o restante da equipe. Fui ao posto de enfermagem e pedi que chamassem o médico e a pediatra, depois vieram ajudar, ligando o berço aquecido e ficando em volta.

Mais uma contração e Luan passou suavemente do ventre de sua mãe para as mãos da enfermeira. Ajudamos a Larissa a deitar-se na cama, com a cabeceira inclinada, seu filho nos braços e seu marido apoiando carinhosamente, bebê corou rápido e com olhos muito abertos olhava sua mãe e seu pai.

Obstetra e pediatra chegaram, e após verificarem que estava tudo bem juntaram-se aos sorrisos presentes na sala. Luan firmemente agarrado ao peito da mãe, mamou por mais de uma hora, como se quisesse garantir à sua mãe que tinha recebido os recados sobre como mamar de forma tranquila.

Placenta veio logo, linda, cumpriu bem sua função. ( Eu sempre agradeço! )

Meses depois o casal com o bebê foram a uma reunião do GAPN para contar sua história de segundo parto. Emoções, sorrisos e risadas deram o tom do relato.

Poucas semanas depois recebo o recado: Vânia, estou grávida de novo. :)




Desta vez, mãe de dois e com um terceito a caminho, toda vez que me encontrava com ela (virtualmente), a rapidez com que as semanas estavam passando sempre dava o primeiro tom da conversa. E mesmo sendo terceira vez, nada de achar que já sabe de tudo... nos encontramos pessoalmente pelo menos duas vezes, para falar sobre o plano de parto e providências necessárias.

Um dia eu estava saindo de uma doulagem e vi Larissa e Maykon na sala de espera de atendimento da maternidade. Larissa estava com dores, e sempre mencionava que as contrações de treino tinham começado meio cedo... aquele dia tinha sido só mais um dia em que tinham ido à maternidade para se certificarem de que a Luiza não estava querendo nascer antes da hora.

Pouco tempo depois recebi um recadinho:

Olá minha doula. Td bom? Vânia, hoje 36 semanas .... Fiz a ultra, provávelmente a última,. E a Luíza está na posição correta.... Estava um pouco apreensiva, pois ela tinha virado na transversal e depois achava q tinha voltado, mas fiquei apreensiva para ter certeza da posição.
A ultrassonografista falou q ainda tem bastante líquido, mas mostrou uns grânulos no pulmão que indica maturidade do pulmão...Mas ela está alta ainda.

Tudo pronto, bebê na posição mais fácil pra nascer, ficamos à espera, sem pressa.

Então recebo o mesmo recado bem humorado: - "Vânia, a bolsa rompeu, kkkk".


Trocamos várias mensagens, ela dizendo que ia tomar banho, avisar o Maykon, e iriam pra maternidade. Eu os encontraria lá pq logo após a bolsa romper as contrações começaram e já estavam ficando fortes.

Peguei minhas coisas, fui pra maternidade com bastante calma, cheguei primeiro. Daí, um pouco depois, achei que estavam demorando muito, fui olhar o celular pra ver se tinha algum recado... cadê o celular?!!! Virei a bolsa de cabeça pra baixo e nada... esqueci no carro! Quando peguei tinha dois recados da Larissa e uma ligação perdida. Aff, doula trapalhona, enquanto abria as mensagens já fiquei imaginando que estava nascendo no caminho, rsrsrsr

Eles estavam na portaria do outro lado do prédio. Essa portaria, de frente pra praça, o hospital fecha durante a madrugada porque estavam tendo muitos problemas... então Larissa e Maykon deram a volta ao quarteirão, esperamos a enfermeira vir buscá-la, e ao chegar no quarto a Larissa foi colocada no cardiotoco.

A enfermeira de plantão era a mesma que havia recebido o Luan e ficamos um tempo conversando sobre como tudo estava parecido.

Contrações próximas e fortes, Larissa não quis fazer exame de toque. O mais provavel é que estivesse pouca, 2 ou 3 cm, mas a evolução seria rápida, portanto não faria diferença. Ficariam no hospital fosse qual fosse a dilatação naquele ponto. Larissa sorria e dizia que estava forte, pressioando bastante, e que nem pensar em voltar pra casa.

Maykon foi buscar as coisas no carro, assinar a internação, e nesse meio tempo parou e falou pra enfermeira que estava de plantão que desta vez ele queria que chamassem o médico antes, pra não acontecer como no segundo parto, que o bebê veio rápido e o obstetra e a pediatra só foram chamados quando a cabeça já tinha saído.

Tudo arrumado dentro do quarto, decidimos em conjunto quem nem valeria a pena colocar a banheira pra encher pq não daria tempo mesmo... Larissa andando pelo espaço disponível, logo começou a respirar mais forte durante as contrações e se pendurar no pescoço do Maykon, exatamente como fazia da outra vez.

Daí a pouco a enfermeira entrou pra fazer a ausculta dos batimentos cardíacos da bebê, estava tudo bem, veio uma contração e Larissa falou em tom muito firme: "eu acho que eu já quero que chame o médico".

Como o começo da frase veio com um "eu acho", eu e a enfermeira ficamos meio em duvida, uma olhando pra outra, eu decidindo esperar pelo final da contração pra perguntar se era isso mesmo, o Maykon resolveu a questão: PODE CHAMAR!

E quando passou a contração ele foi ao corredor reforçar que era pra chamar.

Quando voltou ao quarto a Larissa falou que se precisasse poderiam fazer o exame de toque. Chamei a enfermeira, ela veio e examinou, falou que estava em 6cm, mas já tinha chamado o médico.

Daí a pouco ele chegou, entrou no quarto, trocou umas palavrinhas de incentivo, saiu. Fui ao corredor buscar um cobertor, vi a enfermeira falando pra ele que a dilatação estava em 6, ai falei que nesse tempo já estava em mais de 7 porque agora ela estava tremendo. Voltei com o cobertor.

Larissa se ajeitou na banqueta de parto, recostada no Maykon, que estava sentado no sofá. Colocamos o cobertor nas costas dela e assim ficamos mais um pouco, a tremedeira passou e ela começou a dizer que estava com vontade de fazer força mas ainda dava pra aguentar.

Sentei-me na frente dela, e fiquei ali, segurando as mãos dela durante as contrações, e vigiando. Períneo abaulou uma vez e na seguinte o topinho da cabeça já apareceu. Quando eu ia me levantar pra chamar a enfermeira ela entrou, já ia auscultar novamente. Olhei pra ela e falei: "Kátia, não sai mais daqui". rsrsrsr

Ela olhou e pediu pra chamar o médico e o restante da equipe. Vieram, o médico entrou, a cabecinha já estava pra fora. :)

Luiza chegou forte, calma, olhava os pais demoradamente.

Ajudamos Larissa a ir pra cama aguardar a saída da placenta, a enfermeira e eu olhando uma pra outra numa comunicação muda sobre a agilidade da Larissa de deitar-se, colocar o corpo mais pra cima e ajeitar os travesseiros pra começar a amamentar. Meu sentimento nessa hora é sempre de profunda gratidão pelo parto ter sido tranquilo pois essa cena jamais seria possível se uma cesárea tivesse sido necessária.

Pra finalizar o Maykon já quis deixar claro que é contra a ideia de voltarem o grupo pra contar como foi o parto porque a Larissa fica com vontade de ter mais um! Rimos muito!

Larissa e Maykon muito obrigada pela confiança, pela honra em acompanhá-los na chegada de seus 3 filhos, e pela alegria de vê-los todos juntos!

Um grande abraço!

Vânia.