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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Luciana, Mauro e Matheus - 25/01/2009


Luciana me ligou às duas da manhã dizendo que as contrações já estavam ficando fortes, embora ainda com um intervalo grande (de 10 a 15 minutos). Conversamos um pouco sobre pr´s e contras de irem me buscar. Sair de casa, andar de carro, voltar comigo prá casa poderia fazer as contrações darem uma parada. Mas se o desconforto já era significativo eu poderia ajudar. Depois de uns quinze minutos ela ligou novamente. Tinha decidido que queria companhia e ajuda. Estavam vindo me buscar.


Tomei um banho rápido, tomei café, arrumei meus apetrechos, liguei a televisão, fiquei vendo filminhos da madrugada. (Em tempo: eu estava sem carro, e eles moram em um bairro afastado do centro, assim como eu. Do meu bairro para o deles só tem ônibus de duas em duas horas, começando correr às sete da manhã. Se eu pegar um que vá para o centro e outro que vá para o bairro, demora duas horas prá chegar, então não vale a pena...).


Chegaram às 5 da manhã. Mas o dia ainda estava longe de clarear por ser horário de verão. Sentei-me no banco de trás, atrás da Luciana, e fiz massagens nos ombros algumas vezes durante o percurso de volta prá casa deles. Paramos três vezes para esperar a contração passar.


Chegamos à casa. Eles tem dois cachorros: um pit bull e um rotweiller velhinho, mas que poderia me estranhar... Tiveram que fazer um jogo de logística prá eu poder entrar, e por fim o pit bull ficou preso na sala e o rotweiller na garagem, depois de todo o jogo de "prende aqui enquanto ela passa por ali...". Rrsrsrs... eu heim... melhor doula inteira do que faltando pedaço...


Aí fomos para o quarto, eu e Luciana, enquanto Mauro foi prá sala, dormir junto com o pit bull. (Me dei bem! hehehe...)


Luciana quis tentar descansar um pouco, mas não se sentia bem deitada de lado. Preferiu ficar meio sentada na cama, apoiada em traveseiros, e nem chagava a se levantar quando vinham as contrações, de modo que fiquei ali respirando junto com ela, ajudando a relaxar os ombros, contando as contrações, cobrindo e descobrindo, colocando cobertores dobrados sob os pés prá ajudar a relaxar as pernas. Acho que ficamos assim até o meio da manhã, quando demos umas voltinhas pelo corredor. A vontade era de caminhar na rua, mas estava chovendo forte.


Luciana tomou um banho quente, enquanto fiz um chá. Procurei café prá fazer e descobri que eles não tem o hábito de tomar café em casa, e sim na clínica. Azar meu... rsrsrs.


Depois do banho, ficamos um pouco no quarto, o Mauro apareceu, deu uma olhadinha... eram mais ou menos onze da manhã. A Lu ficou um pouco sentada na bola, de costas prá mim. Fiz massagens e coloquei a bola de água quente. A chuva deu uma trégua, mas continuou bem nublado. Decidimos dar uma volta. Ela se agasalhou, eu também, pegamos sombrinha, e saímos a dar uma volta na chuva fina, que dava uns intervalos... Demos uma volta de 3 quarteirões, parando e nos abraçando durante as contrações. Essa posição de abraçar e massagear as costas quase sempre traz conforto, e Luciana se sentia bem assim.


Voltamos prá casa. O pai dela ligou. Desejou boa sorte. A mãe também.


Falei pro Mauro que estávamos com fome. Ele achou duas maçãs na geladeira, picou e levou prá ela. Ela comeu uma e eu comi a outra. (Uma e meia da tarde).


Aí ele lembrou que tinha que ir atender no consultório. Ficamos um tempo num impasse: vai com o carro, e volta, ou vamos todos... Luciana tinha hora marcada na obstetra às 16h00. Ligou prá ela, disse que as contrações ainda estavam de cinco em cinco minutos. Ela disse prá irmos pro consultório que ela seria atendida mais cedo. Assim, ficou decidido: vamos todos. Deixamos ele no consultório e fomos para a consulta da Luciana. Subimos escadas, e na sala de espera tinha um casal que fazia umas caras de curiosidade/susto quando vinhamas contrações. Quando passava a secretária falava: "a próxima é você viu Luciana?". Achei que era bom sinal, de secretária que não assusta com parturiente na sala de espera...


Entramos, a Lu foi eaminada, estava com 6cm de dilatação. Batimentos Cardíacos Fetais OK. A médica a parabenizou, dizendo que estava sendo forte e corajosa. Fez a carta de internação e recomendou que ela fosse para a maternidade.


Saímos de lá. Graças a Deus a Luciana é do tipo que contrata doula e confia nela. Seis cm, contrações de 5 em 5 minutos, é cedo prá internar. Vamos comer alguma coisa? Ela queria tomar suco de laranja. Fomos a uma lanchonete perto do Centro Médico, ela tomou seu suco. Mas não tinha nada gostoso prá comer... Fomos a outra lanchonete - Pão de Queijo Mineiro - na Praça da Quinze. Comi um pão de queijo e tomei um café, abençoado café, às quatro e meia da tarde. Quando estávamos voltando para o carro, antes de atravessar a rua, num lugar muito movimentado, Luciana teve uma contração e se apoiou naquele postinho que tem as plaquinhas com os nomes das ruas. Eu tive impressão que as pessoas diminuiam a velocidade dos carros pra ver o que estava acontecendo, e eu lá, fazendo minha cara profissional de paisagem...


Fomos buscar o Mauro. Ele estava fazendo um download de sei lá o que, e ficamos esperando terminar. Enquanto isso a Lu vomitou o suco. Normal. Tinha uma senhora lá contando que a avó dela foi parteira, e que quando ela foi ter neném sentiu que a avó a acompanhava. Eu achei lindo.


Depois de fechar a clínica, fomos prá maternidade. Chegamos 18h30. E para a minha completa surpresa... "A maternidade está lotada. Vamos ter que remanejar pacientes do SUS prá liberar um quarto prá senhora. Pode aguardar sentada ali". Fomos pro cantinho. Falei prá eles: "vcs não querem ir prá outra maternidade? Lá o horário de visitas é mais flexível pq o movimento é menor, e vcs vão ter um atendimento melhor".


O Mauro foi lá falar com a recepcionista.

- "O atendimento não fica prejudicado por que está lotado?"


Pensei que ela fosse responder que fica... rsrsrs... mas ela disse que, quando isso acontece, quem está de folga é chamado prá reforçar o atendimento".


- "Mas ela vai ser internada em quarto de SUS?"

- "A diferença é só o tamanho do banheiro, O atendimento vai ter a mesma qualidade".


A recepcionista pegou o telefone sem fio e foi ligar prá médica. Voltou e disse: - "A Dra falou que a dilatação dessa parturiente já deve estar completa, que é prá internar imediatamente. A Sra vai ficar na sala de pré-parto do SUS enquanto estamos liberando um quarto. Pode entrar por ali..."


Entrei com a Lu enquanto o Mauro ficou fazendo a internação. A médica chegou em seguida, e começou a operação PC. Sabe o que é PC? Pacote Completo.


Coloca um sorinho.

Dilatação completa mas o bebe está muito aaaaaaaalto.

Traz a pinça prá eu romper a bolsa.


Luciana ainda tentou argumentar:

- Não pode esperar romper sózinha?


E a resposta foi:

- "Faz uma forçona bem grande durante a contração".


Rompeu a bolsa. Líquido limpo.


Sugeriu que ela fosse um pouco prá baixo do chuveiro. Mas uma vez embaixo do chuveiro, era prá ficar de cócoras durante a contração e fazer bastante força prá ajudar a descer.


O Mauro, além de esposo e pai, é treinador da Luciana.

- "Luciana, tudo é uma questão de consciência corporal. Foca nos músculos abdominais".


-"Dra, a sala está liberada"

- "Então podemos ir".


Mauro decidiu que entraria prá acompanhar o nascimento. Como eu tinha me comprometido a ficar a primeira noite com a Lu, pedi o carro esprestado prá ir prá casa tomar um banho e jantar. Fiz isso, coloquei meu filho prá dormir, e voltei prá maternidade.


Quando cheguei, Luciana já estava de volta no quarto. Entrei, ela olhou prá mim e disse:

- "Eu não quero ver a cara dessa médica nunca mais".

E o Mauro:

- "Sabe a história do médico e o monstro? Ela se transformou lá dentro!"


O porteiro/segurança pediu licença e falou que agora só a acompanhante poderia permanecer no quarto. E o Mauro respondeu:


- " Eu não vou sair daqui antes de ver meu filho".


A mãe da Lu despediu-se e foi embora. O segurança veio e disse que ia demorar um pouquinho por causa da lotação, que estavam sobrecarregados, mas logo o bebê viria. O Mauro reafirmou que só sairia depois que ele estivesse no quarto. O segurança saiu.


Contara tudo o que aconteceu. Poso resumir a falta de compromisso com a humanização na seguitne frase da obstetra: - "Luciana, deixa de ser rebelde. Agora é entre eu e o feto, e você vai fazer o que eu mandar".


E prá completar o parto PC teve epsiotomia monstro e kristeler violento (empurrão na barriga).


Infelizmente, escutei uma frase esses dias que se encaixa: não dá prá ir a uma lanchonete fast food e querer comer comida francesa... (prefiro italiana, mas entendi o ditado).


O bebê veio pro quarto. Gelado, e com um pé prá fora da roupa, que tinha sido abotoada errado. O Mauro, depois de uns minutos, foi convidado pelo segurança a sair. Foi embora.


Passada mais ou menos uma hora, fui falar com a enfermagem.

- " O bebê está gelado, e as maõs estão roxas..."

- "Pois é, vocês não queriam que viesse logo pro quarto! Então! Se não melhorar ele vai ter que voltar pro berço aquecido no berçário".


Fiz sinal de positivo. Voltei pro quarto, tirei aquele macacão fininho da maternidade, coloquei luvas e meias, uma roupinha mais quente, o macacão pro cima de tudo, coloquei-o sobre o peito da Luciana e dois cobertores por cima de tudo. (Aguenta ai Lu que vai esquentar um pouco). Os dois estava sonolentos, não se incomodaram. E o Matheus foi ficando coradinho, as mãos perderam o arroxeado. Conseguimos!


Passei a noite lá, mas passei mal a madrugada toda. Eles não sabiam, mas a essa altura já era minha terceira noite sem dormir. Quando os ônibus começaram a correr, a Lu estava acordada e amamentando. Morrendo de vergonha eu me despedi e fui embora, torcendo pra mãe dela chegar logo, prá não ficarem sozinhos muito tempo. Mas se eu ficasse ia acabar dando mais trabalho do que ajudando.


Espero que o mundo reserve ao Matheus uma vida mais tranquila do que foi a sua cena de nascimento, e que sua força para superar esses traumas estabeleça um vontade insuperável de contribuir para um mundo melhor.


Ao casal, minha eterna amizade.


Vânia.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Janayna, Gustavo e Rael

RELATO DE PARTO DA JANAYNA – NASCIMENTO DO GUSTAVO – 23/10/2008

Janayna estava muito ansiosa para entrar em trabalho de parto, manifestou algumas vezes que a espera estava sendo muito difícil. Jamile então sugeriu que ela fizesse algumas sessões de acupuntura, e começasse a tomar alguns preparados homeopáticos para induzir o início do TP.
Rael me ligou meia noite e vinte, contando que a bolsa de águas havia rompido, mas ainda não havia sinal de contrações. Respondi algumas perguntas, tudo parecia estar calmo, orientei que esperassem, não havia pressa. Voltei a dormir.
O dia amanheceu.
No meio da manhã liguei para saber notícias. Sempre fico com medo de ligar e acordar quem acabou de conseguir dormir... Estava tudo bem.
Um pouco mais tarde a Jamile ia até lá para verificar os batimentos cardíacos do bebê, a dinâmica uterina, deixar alguns apetrechos... fui junto e fiquei por lá, já que as contrações estavam começando ficar mais próximas, e Janayna já manifestava certo desconforto.
Na hora do almoço o Rael saiu para buscar marmitex no restaurante preferido do casal, com recomendação de trazer peixe – desejo manifestado pela Janayna (ou pelo Gustavo?), mas não tinha... A tarde foi passando... massagens, banhos, duas caminhadas em volta do quarteirão... eu, Jamile e Janayna. Rael trabalhava no seu computador.
Jantamos pizza.
As contrações vinham e iam, se aproximavam e afastavam... Por três vezes a Jamile colocou agulhas de acupuntura para regularizar as contrações, e Janayna suportava heróicamente a agulha perto do tornozelo, e outra no dedinho do pé... ficava ali sentadinha, esperando Gustavo... Homeopatias... As horas foram passando... e chegaram os 6cm de dilatação. Montamos a piscina, enchemos a piscina, mantivemos a temperatura da água quente... e quatro horas depois, no exame de toque, Jamile disse que a dilatação continuava a mesma.
Passava de duas da manhã, portanto já tínhamos mais de 24 horas de bolsa rota. Jamile disse que tínhamos chegado a um ponto em que ficar em casa poderia ser improdutivo. Parecia que o colo do útero tinha descido, sem aumentar a dilatação, o que poderia ser um sinal de desproporção. Estava tudo bem com a Janayna e com o Gustavo, mas estarem com mais de 24 horas de bolsa rota trazia um certo risco de infecção... então o casal decidiu ir para a maternidade.
Jamile ligou para a obstetra que estava de sobreaviso, fomos para a maternidade, e chegando lá Janayna foi encaminhada para a cesárea. A obstetra disse que poderiam tentar a indução, mas que indução mais anestesia raquidiana (a única disponível nesse caso), poderiam trazer alguns riscos, na opinião dela, maiores que os da cesárea. Então o casal aceitou a cesárea.
Enquanto isso, Rael teve que sair da maternidade e ir a outro endereço, onde pagaria pelo atendimento do plano de saúde que eles tinham adquirido quando ela já estava grávida, sob a promessa de que quando entrasse em trabalho de parto pagariam um tipo de multa/acerto por ainda não terem cumprido a carência. A surpresa foi que chegando lá o atendente disse que isso não era mais possível. Então o casal teve que pagar mais do que tinha sido planejado para ficar em um quarto de SUS, por que já tinham chamado a obstetra do plano, então tiveram que pagar por um parto particular.
Foi a primeira vez que vi um pai de família que está se formando, parado na porta do Centro Cirúrgico. É uma visão triste. Famílias, principalmente em formação, não deveriam ser separadas. (Palavra de Psicóloga Hospitalar, com formação voltada para a Psicologia da Gestação, Parto, Puerpério e Amamentação... mas pensem bem... precisa ter toda essa especialização para ter sensibilidade? O que pensar de quem tem formação mas acha que na maternidade está tudo certo e todos são muito bonzinhos?). Enfim...
Janayna chorou muito quando chegou ao quarto, porque achava que ficaria em um apartamento individual, onde o Rael poderia permanecer com ela, mas agora ia para um quarto coletivo, onde a acompanhante deve ser necessariamente do sexo feminino. Esse imprevisto trouxe ao casal muito mais sofrimento do que a frustração pelo parto ter se tornado cesárea. Porque foram separados mais uma vez!
Quando fui visitar o casal, já em casa, Janayna estava muito cansada, pela noite passada em trabalho de parto, pela noite anterior, em que, depois da bolsa romper ela já não tinha conseguido dormir bem... pelas duas noites na maternidade, com o entra e sai de enfermeiras que medem pressão, temperatura, trazem os remédios necessários, e os bebês que acordam cada um a seu tempo (graças a Deus essa maternidade não é do tipo que toca uma buzina para todos os bebês acordarem ao mesmo tempo). Ajudei-a a deitar-se de lado e amamentar o bebê na cama. Enquanto alguém fica olhando não tem problema. Janayna pode descansar um pouco.
Mas depois a família reclamou que eu tinha ficado com a mamãe e o bebê só prá mim... ficaram com ciúmes...

Voltei alguns dias depois e Janayna estava tendo um pouco de dificuldade com a amamentação. Gustavo era um carinha bem guloso e um tanto carente... não queria desgrudar da mãe. Todas as tentativas de colocá-lo no carrinho ou na cama resultavam em choro... Nessas horas o apoio à mãe é fundamental, até que o bebê comece a ter umas horinhas de sono e ela possa descansar. Foi o que tentei fazer.
Espero que a família esteja feliz, espero que o Gustavo (quarto escorpiniano que acompanhei na chegada a este lado), continue persistente nos seus objetivos e consiga tudo da vida, assim como nos primeiros dias conseguia sua mãe só para ele. Ao casal, agradeço a honra de ter sido chamada para o dia em que deixaram de ser um casal e tornaram-se uma família.
Abraços carinhosos,
Vânia C. R. Bezerra