Quem sou eu

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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Sandra, Marcelo e Fred - 17/07/2009

Nascimento da Sandra como mãe


Sandra me procurou aos 7 meses de gestação. Eu havia recentemente passado a atender em conjunto com outra doula, Ana Frederica. Como a procura pelo serviço de doulagem estava começando a aumentar, com os atendimentos da Kátia e da Sandra eu fiquei pela primeira vez com duas gestantes com o parto previsto para o mesmo mês. Diante da possibilidade de que entrassem em trabalho de parto ao mesmo tempo, comecei a buscar parcerias. Assim, eu e Fre fizemos os encontros de preparação para o parto juntas, com Sandra, Marcelo e Frederico na barriga. Foram alguns fins de tarde divertidos e muito emocionantes, durante os quais, entre outras coisas, Sandra nos contou sua verdadeira peregrinação por 4 médicos até chegar na Dra. Carla, com a qual finalmente sentiu-se respeitada e bem atendida.

Então estávamos esperando o dia em que o Fred se mostraria pronto para nascer.

Marcelo me ligou no dia 16/07, cerca de 09h30, dizendo que a bolsa de águas da Sandra tinha rompido, que tinham falado com a Dra.Carla, que iriam para o hospital para ela ser examinada, e saberíamos se ela ficaria internada ou voltaria para casa. Liguei para a Fre e contei a novidade. Ela ficou super feliz. Não entendi pq estavam indo para a maternidade, mas depois soube que era pq a Dra Carla já estava lá, portanto seria mais prático do que irem todos para o consultório.

Saí para pagar uma conta, e fazer umas compras já que o dia prometia... Marcelo ligou de novo, dizendo que já estavam de volta em casa e ela estava com 4 cm de dilatação. Respondi que logo eu e Fre estaríamos lá. Liguei para a Fre, ela disse que estava vindo me buscar.

As coisas todas para o parto, como a piscina, bomba de inflar, bolinha e carrinho de massagem já estavam no carro da Fre há alguns dias. Ela contou que aquilo parecia um corpo embrulhado e que os atendentes de supermercado sempre olhavam assustados quando ela abria o bagageiro... demos muita risada... coisas de doulas! As meninas da Fre ficaram na casa da avó, e lá fomos nós, carregando "o corpo" pela rua...

Chegamos na casa da Sandra e Marcelo às 11h00. Ela estava no quarto do Frederico, sentada na bola, balançando e descansando um pouco. Estava tendo contrações desde a madrugada. Ficamos ali: eu sentada em uma poltrona e a Fre sentada no chão.... Sandra nos contou como tinha sido a madrugada, a sensação da bolsa rompendo pela manhã, quando estaa trabalhando no computador, e como ela ficava tendo pensamentos de comando para colocar as coisas em ordem: "preciso ficar calma", "preciso ligar para o Marcelo", "preciso arrumar o quarto do Frederico". Contou que o Marcelo tinha feito um filminho porque ninguém acreditaria que ela estava em trabalho de parto e arrumando o quarto. As contrações estavam distantes e irregulares. E o Marcelo aparecia no corredor comendo pizza. A certa altura ele disse que era sempre o mesmo pedaço pq ele estava providenciando o nosso almoço enquanto comia...... hahahaha.

Sandra estava muito calma.

Almoçamos lazanha. E eu nunca tinha ouvido falar que lazanha à bolonhesa induzisse contrações... rsrsr Mas começaram umas bem mais forte e depois disso eu e Fre já começamos a massagear as costas durante as contrações. Achei que seria uma boa hora para começar a montar a piscina, já que isso demanda um certo tempo e não podemos esperar que as contrações estejam muito próximas para começar.

Eu estava no quarto do Frederico montando a piscina. A Fre ficou com a Sandra na sala, fazendo exercícos na bola, e dando a homeopatia receitada pela médica, de 10 em 10 minutos, para ajudar a regularizar as contrações. Também tínhamos feito um chá de canela bem mais forte, e Sandra estava tomando. A casa cheirava a festa junina.

Eu e Fre nos revezamos na bomba de inflar e conseguimos aprontar a banheira bem rápido e começamos a enchê-la.

Panelas no fogo, chá fumegando, boa conversa, banheira enchendo e o tempo passando. A Carla ligou dizendo que passaria para auscutar o foco, ou seja, verificar o coração do Frederico, e chegou 14h15. Sentamos todos na sala, o coraçãozinho do Fred estava ótimo, e conversaram sobre viagens, café gostoso... Tirei fotos, e a Dra. Carla foi embora.

Fomos as três andar no quintal, dando a volta na casa, conhecendo todos os lindos vasos de plantas, os "bonsais" de jabuticabeira (eu até comi algumas), e a Sandra assaltou o vaso de alfazema, lembrando dos campos floridos que um dia ela visitou e que gostaria de rever.

Ali pelas 4 da tarde ela já estava cansada e um tanto pálida, e enquanto andava pelo corredor acompanhada pelo Marcelo teve algumas pequenas crises de choro durante as contrações, e depois, intensas crises de riso quando passava em frente a um espelho. Cheguei a pensar que isso era sinal de que o colo do útero tinha terminado de afinar e começaria a dilatar mais rapidamente. (Até aí eu não tinha visto de sinais de dilatação no comportamento dela).

Religamos as panelas, colocamos mais água quente na piscina e sugeri que ela fosse relaxar um pouco. Inflei a bola menor para que o Marcelo pudesse ficar confortável enquanto ficava apoiando a Sandra, sentado ao lado da piscina. Depois ele foi tomar um banho e eu assumi a posição, enquanto a Fre foi à padaria buscar "coisinhas gostosas e quentinhas" para tomarmos um café da tarde. Quando ela chegou o Marcelo colocou a mesa e nos sentamos todos para comer. Pão na chapa, pão-de-queijo, bolo de fubá, e chá de canela é claro.

A Dra. Carla voltou. Fomos prá sala, o coração do Frederico continuava ótimo, e às 19h00 o Andrea Boccelli veio nos fazer companhia. Conversa sobre a conduta após 12 hora de bolsa rota, e as contrações que tinham diminuido novamente na piscina, pararam durante algum tempo. Sandra perguntou se poderia se deitar um pouco, e concordei. Mesmo deitada as contrações voltaram, mas o relógio agora corria contra. Os intervalos continuavam grandes, sempre maiores que 10 minutos.

Nesse meio tempo eu e a Fre tiramos a água da piscina pq infelizmente ela estava vazando, e inundaria o quarto... Limpamos tudo e o quarto do Frederico fico arrumado como a Sandra tinha deixado.

21h00 a Carla ligou de novo, conversaram e decidiram que a ida para a maternidade não seria definitiva. Fariam exames e só diante dos resultados tomariam uma decisão. Fomos prá maternidade, e entramos todos juntos diante do olhar atônito do porteiro. Acho que ele nunca viu uma turma tão grande entrando. Coração do Frederico: ótimo. Conduta: voltar para casa. A Carla ficaria junto. Choro e agradecimentos se misturaram nessa hora.. Voltamos todos prá casa.

E durante uma contração particularmente a Sandra disse que estava sentindo arder, e pressão lá embaixo... essas coisas podem acontecer sabe? De repende a dilatação está completa e o bebê resolve escorregar... pedi licença prá olhar, já que a Carla ainda não tinha chegado. Tinha um muco, claro e grosso saindo. O que poderia ser indicio de que o bebê tinha descido um pouco, mas o nascimento não era eminente.

Arrumamos o quarto de visitas. 23h00 estava tudo arrumado. E resolvemos tentar dormir um pouco. Dormir uma hora seria mais que suficiente prá recuperar as forças, de todos. E quando vinham as contrações levantavamos e davámos todo o apoio possível. E voltavamos prá cama. E assim ficaríamos até quando fosse preciso. A Carla, de vez em quando, verificando o coração do Frederico, e continuava tudo bem.

Mas por volta da 01h30 a Sandra começou a tremer violentamente, batendo os dentes. Isso poderia ser sinal de bacteremia - ou seja, infecção circulando na corrente sanguínea. Sempre acontece quando a placenta se desprende do útero, após o parto, não importando se foi parto normal ou cesárea. Mas se acontece antes pode ser sinal de problema. Agora era necessário internar para tomar antibióticos na veia.

Fomos prá maternidade. Entramos eu e Fre enquanto o Marcelo ficou fazendo a internação. A Dra. Carla chegou e fomos todas pro quarto. O Marcelo foi avisar que teria que sair e ir a outro lugar para deixar o cheque calção para a internação em quarto particular. Indignação!

O aparelho de cardiotoco foi instalado, Sandra continuava tremendo, e o coração do Frederico começou a ter quedas, não muito grandes, mas fora do padrão de segurança. Diante disso foi feita a indicação de cesárea. E a única apreensão neste momento era de que o Marcelo não chegasse a tempo. Cheguei a pensar em ligar para ele para pedir que se apressasse, mas considerei que seria perigoso pedir para correr, já que ele também estava muito cansado. Ele chegou quando ela estava saindo do quarto.

Fomos todos juntos até a entrada para o centro cirúrgico, vimos o cirurgião auxiliar, a pediatra, e o anestesista chegarem. (Dr. Adriano = excelente anestesista. Graças a Deus pois infelizmente em São Carlos não temos opção de chamar o anestesista de preferência. Tem que ser o que está de plantão). Logo depois o Marcelo recebeu autorização para entrar. E nós ficamos ali na frente do vidro do berçário. A Fre chorou um pouco. A mesma sensação que eu tive na cesárea da Kátia, de paraíso perdido juntamente com o agradecimento por termos a cirurgia como alternativa para resgatar um bebê que também estava ficando cansado.

Às vezes escutavamos uns gemidos, e pensávamos: "será que é a Sandra?".... às vezes escutávamos um chorinho, e pensávamos: "será que é o Frederico?" Eram 3 horas da manhã.

Algum tempo depois a pediatra, Dra. Patricia Canedo, excelente recepcionista de bebês, veio nos mostrar o Frederico. Lindo, rosado, loirinho e tranquilo. Graças a Deus.

Ficamos no quarto até a Sandra chegar, acompanhamos as massagens no útero para tirar os coágulos que tinham se formado, o que foi mais uma fonte de estresse para a Sandra. Os tremores ainda mais violentos incomodaram muito, mas não estavam fora da normalidade. E logo começaram a melhorar.

Infelizmente comecei a tossir, e achei melhor ir embora, mesmo com a sensação de deixar um dever não cumprido, mas insistir em ficar poderia trazer mais prejuizos do que beneficios. E com o tempo a decisão mostrou-se acertada. Eu tinha mesmo contraído uma gripe. Mas a Fre ficou lá durante mais algum tempo, até que tudo estivesse mais calmo.

Mesmo que tenha acabado em cesárea, é importante que ela tenha sido como deve ser: sob indicação válida. Se o trabalho de parto não chegou à fase ativa, o corpo teve algum motivo para isso. E mesmo assim foi o suficiente para nos mostrar que era o dia em que o Frederico quis nascer; ele terá menor probabilidade de problemas respiratórios (veja que mesmo com uma queda nos batimentos cardiacos, e mesmo que o cordão umbilical tenha sido cortado imediatamente após o nascimento ele não precisou de suporte de oxigênio), e o vínculo entre mãe e filho não sofreu uma interrupção brusca. Ambos passaram o dia todo sabendo que estavam se separando para poderem ficar mais juntos em seguida.

Quando a natureza é respeitada, a mulher/parturiente/mãe é tratada com respeito, e o pai participa do parto sem ser excluído no momento mais importante, a história da família continua sendo de amor.

Sandra, parabéns pela força. (Quando fico muito tempo sem te ver, tenho saudades da sua risada. Você tem um tipo de confiança e felicidade que contagia todos à sua volta. Adoro você!).

Marcelo, parabéns pela coragem. Sua participação no dia do parto mostrou a fibra de qualidade com a qual você foi feito/educado.

Frederico: parabéns por ter vindo participar de uma família maravilhosa!

e seja MUITO bem vindo a este lindo mundo.

Vânia C. R. Bezerra.
doula muito orgulhosa por ter participado desta história.

terça-feira, 20 de abril de 2010

COREN SP Parto Natural 1ª parte

Primeira parte de um vídeo produzido pelo coren- sp sobre a banalização da cesárea, sobre a visão tecnocrata do parto e sobre como as mulheres são levadas a crer que a cesárea é mais segura.

COREN SP Parto Natural 2ª parte

Segunda parte de um vídeo sobre a importância do parto natural e seus benefícios para a mãe e o bebê.



terça-feira, 13 de abril de 2010

AUDIÊNCIA PÚBLICA

Olás!

Vamos mais uma vez falar sobre a lei do acompanhante: Na próxima quinta-feira, 15/04, 19h00, vamos à Camera de Vereadores de São Carlos para audiência pública sobre o desrespeito à lei Federal 11.108 e providências para que passe a ser cumprida.

Teremos espaço para depoimentos e podemos levar cartazes. Vamos lá gente? Precisamos fazer nosso barulho, levar nossas reivindicações, fazer nosso pequeno "barraco do bem", senão podem pensar que nem é tão importante assim, quando sabemos que famílias em formação precisam ser respeitadas!

Com certeza vai ter imprensa presente, e precisamos de casos. Os repórteres gostam de vida real, de depoimentos do tipo: "aconteceu comigo". E gostam de muvuca, de pequenas multidões, de mulherada reunida, de homens/pais falando grosso que querem ficar ou gostariam de ter ficado com suas esposas/seus filhos durante o pré-parto, parto e pós parto.
>
> Vamos dar a eles o que eles querem?
>
> Por favor respondam: siiiiiiiiiiiiiiiiiiim!
>
> Beijos,
>
> Vânia Bezerra.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Kátia, Ton e Enki Miguel - 04/06/2009

Kátia entrou em contato comigo mais ou menos aos 6 meses de gestação. Fez perguntas sobre doulagem, preparação para o parto, preços... marcamos de conversar pessoalmente. Uma vez eu desmarquei, outra vez ela desmarcou. Um dia estava passando pela escola em que ela trabalhava, perguntei se podia me atender... deu certo. Conversamos um pouco, mas ainda ficou faltando uma parte: tinha uma amiga que estava pensando em engravidar e já queria saber como era o meu trabalho.

Ela me disse que já havia algum tempo que estava estranhando a fala do médico com quem estava fazendo o pré-natal: dizer que a cesárea também é uma excelente opção, sem completar com "desde que ela seja necessária".

Nos despedimos e ela ficou de me ligar.

Ligou um mês depois e deixou recado: era para entrar em contato rápido porque ela agora já estava de 7 para 8 meses. Começamos as reuniões na casa dela, uma vez por semana: eu, ela, e o marido, Ton, assistindo filmes e falando muuuuuito sobre parto.




Conheci a amiga, Rosana, que na primeira reunião correu prá lá às 9 da noite prá me conhecer. Os olhos de todos brilhavam diante da perpectiva de confiar na natureza a na fisiologia feminina.

Saí de lá levando uma impressão de que já conhecia o marido dela e não me lembrava de onde.

Seguimos com as reuniões, conversando bastante, e eles também foram assistir minha palestra na Unimed. Me lembro muito bem das expressões deles diante das minhas tentativas de lançar sementes de dúvida/indignação diante de um índice de cesáreas de 95%!

Um dia eles resolveram conversar com outro médico. Nessa época ainda havia uma certa dificuldade de mudar de médico na reta final da gestação, aqui em São Carlos. Liguei para o médico que eu tinha conhecido há poucas semanas e perguntei se haveria algum problema, e ele me respondeu que estava tão indignado com certas coisas que estavam acontecendo que eu poderia chamá-lo mesmo que o casal já estivesse na maternidade, com o trabalho de parto em andamento. (Meu Deus, parece que a humanização está chegando neste sertão!)

Foram para uma consulta com esse médico. Contaram que ficaram lá mais de uma hora, conversando, e quando disseram que iam dar continuidade ao pré-natal com ele, ficaram mais meia hora pq só aí ele a examinou e pediu alguns exames. Uma hora e meia de atenção por um valor de consulta de convênio... sim, esse médico é diferenciado, com certeza! Uma frase ouvida pelo casal durante esta consulta:

- "Com tanto tempo de experiência você vai a uma congresso e descobre que está fazendo tudo errado!"

Só uma pessoa muito inteligente consegue fazer esse tipo de reflexão e mudar de comportamento com rapidez. Perguntaram sobre parto na água. E ele respondeu que parto na água é parto, e que sim, poderiam tê-lo se quisessem.

Encontrei com o médico na rua, sem querer... e perguntei em tom provocativo:

- Verdade que parto na água também é parto? rsrsrs

E ele respondeu de volta: "vc arruma uma banheira?".

Pensei: nem que eu tenha que me transformar numa banheira não vou deixar esse casal perder essa chance.

Conversei com a Jamile. Falei que ia encomendar uma banheira no site da Maternidade Ativa, mas diante da possibilidade de não chegar a tempo... ela respondeu que se não estivesse usando em outro parto me emprestaria com certeza. A mesma banheira em que eu já tinha visto a Sofia, filha da Marcela e do Marcelo nascer. Fiz o pedido no GAMA e uma semana depois liguei para a Kátia avisando que a minha banheira já estava comigo, eu já tinha inflado, era linda. Ia dar tudo certo.

Ah! A essa altura eu e Ton já tinhamos nos lembrado de onde nos conhecíamos! Foi bem no último encontro na casa deles, chá com bolo, conversa sobre outros temas além de parto... e foi quase ao mesmo tempo que dissemos "eu sabia que te conhecia de algum lugar!" E demos muita risada lembrando que já fomos adolescentes! Ton era muito amigo da minha irmã quando eles tinham 16 anos e estudavam na Escola Jesuíno de Arruda. Eu fazia cursinho e não convivi muito, mas me lembrava dele.

Kátia começou a ter contrações que se mantiveram espaçadas por dois dias, ameaçavam se aproximar e se distanciavam novamente. Sugeri que comprassem um aquecedor pq estava muito frio, tão frio que poderia atrapalhar no parto. Também combinamos que eu filmaria o parto com a minha filmadora, e me lembro da Kátia ligando para dizer que tinha comprado a fita e o aquecedor. Com contrações e fazendo compras tranquilamente. O Ton ficou com ela um dia inteiro e na madrugada as contrações espaçaram novamente. Quando liguei na hora do almoço para saber como estavam, a Kátia disse que tinham instalado uma web cam no notebook pq o Ton ia trabalhar e ficaria de olho nela. Perguntei se queria que eu fosse e ela respondeu que não era preciso pois ela só ia dormir. E riu... e o sorriso da Kátia é um capítulo à parte, aquece o mundo todo...

Fui dormir cedo. E o telefone tocou 1h30 da manhã. Era o Ton: "Tá dormindo né? rsrsr... Vânia, a Kátia agora está com as contrações mais próximas e já está sentindo um pouco de dor". Levantei, tomei um banho rápido para acordar melhor, e meu marido me levou para a casa deles. Moramos perto, cheguei logo. Estava muito frio, fiquei fungando... lembro do Ton perguntando: "vc não está gripada, está?!". Não... só tenho um nariz muito sensível... rsrsr

Kátia estava ajoelhada sobre um travesseiro e apoiada no braço do sofá. As contrações continuaram próximas após a minha chegada (às vezes distanciam um pouco quando alguém novo entra na cena), e eu fiz chá de canela, e esquentei água para a bolsa de água quente. Fazia massagens durante as contrações, e uma hora e meia depois achei que o comportamento dela tinha mudado. Ela estava ficando mais agitada durante as contrações, como alguém que não encontra posição. Esquentei mais água enquanto liguei para o médico, falei que achava que ela já estava entrando na transição e como nós tínhamos que chegar com tempo hábil para inflar e encher a banheira eu achava melhor ir logo... concordamos, e então colocamos as coisas no carro e fomos para a maternidade, levando banheira, aquecedor, bola suiça, uma resistência e um jarro de vidro para esquentar água no quarto. Me lembro de termos parado uma vez apenas, no caminho para a maternidade, e acho que até hoje seria capaz de dizer onde paramos. Ao chegar na maternidade entrei como acompanhante e o Ton ficou fazendo a internação.

No exame de toque a enfermeira disse que ela estava com 9cm de dilatação. Quando eu achei que estaria entre 6 e 7. Primeiro indício de que a Kátia é extremamente forte para dor.

Eu tinha uma bomba de inflar muito pequena, demorou muito para inflar a piscina, e pior... quebrou antes de terminar! Eu e o médico, por incrível que pareça, terminamos de inflar no fôlego, na boca! E depois colocamos para encher e tb carregamos bastante água de balde para acelerar o enchimento. Aí eu já estava ficando a maior parte do tempo com ela, fazendo massages e incentivando, e ela estava muito bem. Conversei com o médico sobre o absurdo do marido não poder entrar também. Doulas e maridos têm papéis muito diferentes, e eu achei que o Ton estava fazendo falta para ela. Enquanto eu e o médico estávamos correndo para aprontar a piscina ela ficou mais de uma hora se virando sózinha...



O dia amanheceu. A piscina estava pela metade, a Kátia entrou, e na hora relatou como era bom. Continuamos enchendo a piscina e esquentando água na jarra de vidro. Eu tinha um termômetro culinário para verificar a temperatura da água, que deveria ser mantida em 37 graus. O aquecedor tb estava ligado no quarto e queimou. O médico foi buscar outro, da maternidade. A extensão queimou. Ele foi buscar outra. Eu fui colocar a água quente na banheira e o vidro encostou na água mais fria, trincou e um pedaço caiu na piscina, bem perto de onde estava a perna da Kátia. Eu, sem pensar, enfiei a mão e agarrei o pedaço de vidro. Fiquei o resto da doulagem preocupada em esconder da Kátia que eu tinha cortado a mão. Mas o importante é que ela não se cortou. E o médico foi buscar uma panela na cozinha para continuarmos esquentando água.

7h30 da manhã, hora de visita. O Ton entrou. Ajudou a Kátia a comer, ajudou a recuperar as forças. E nessa hora eu quis acender um fogo. Eu sempre levava velas na bolsa, mas nunca tinha acendido. Nesse dia eu acendi uma vela rosa, para a força feminina, para a força de parir. Lembro do Ton olhando fixamente para o fogo.

Perguntei se tinham trazido música e ele respondeu que tinham resolvido que seria sem música.

Mudou o plantão. Entraram muitas pessoas no quarto, e todas disseram algo do tipo: "nossa, que luxo, assim até eu queria... ", ou "vou querer ter mais um para poder nadar". E o parto travou. Era a primeira vez que essa maternidade via uma parturiente numa banheira de parto.

Acabou o horário de visita e o Ton foi ficando. O obstetra falou que se viessem pedir para ele sair que ele não ia deixar. "O pai agora vai ficar", e saiu para avisar a enfermagem, e tb pediu que trouxessem uma roupa do Centro Cirurgico para ele.

Durante a manhã vimos o médico desmarcar compromissos e cirurgias. Durante uma hora ele saiu e foi atender no ambulatório de alto risco, em frente à maternidade.

Na piscina Kátia mudava de posição com frequência, estimulando o bebê a rodar. O obstetra havia explicado que o bebê parou no meio da rotação, de modo que não estava olhando nem para a frente nem para trás, e sim para o lado, única posição impossível de nascer.



Depois de um tempo a Kátia quis sair da banheira, falou que talvez esse nenén não quisesse nascer na água. Improvisamos um banquinho com a escada de dois degraus. Coloquei um travesseiro no degrau de baixo e um lençol limpo por cima de tudo. Kátia se sentava no degrau de baixo e o Ton no de cima. Durante as contrações ela ia para frente, e ele a sustentava de cócoras. Ela tb andou pelo quarto, e uma hora a vocalização foi um pouco mais forte, eu achei que tinha algo diferente. Errei. Falei que a dilatação devia ter completado, e a Kátia quis voltar para a água, disse que estava sentindo vontade de fazer força. Mas passou mais uma hora e nada aconteceu. Mais uma exame de toque e tudo continuava igual: 9cm. Era quase meio dia. Já faziam oito horas que a dilatação estava parada e o partograma indicava que era hora de agir.

Nessa hora eu sei porque demorei tanto para escrever esse relato: com oito horas de progressão parada, o semblante da Kátia ainda era tranquilo. E ela com muita calma, abaixou a cabeça e disse: "não foi por falta de tentar né?".

Não foi mesmo. Eu nunca vi alguém tão determinada em parir. Nessas 10 horas em que estive com ela só me lembro de uma vez ela ter dito que estava com muita dor nas costas, e que a piscina ajudava bastante.

Depois de tomada a decisão pela cesárea as coisas se encaminham bem rápido. Vieram com a maca, fizeram a depilação parcial (que depois inflamou tudo), e ela foi para o centro cirúrgico. Graças a Deus tinha um bom anestesista de plantão que deixou o Ton entrar.

E eu fiquei arrumando o quarto e chorando. Entrou alguém da enfermagem para pedir as roupinhas para o bebê. Viu que eu estava chorando e perguntou: "ela fez tudo o que podia né?" Fez... andou, dançou, agachou, descansou... mas não deu.

Limpei tudo e saí à procura do Ton. Ele estava na frente no vidro do berçário, tinha dois amigos deles lá com ele. E ele me mostrou uma foto do Enki, e disse que a cesárea tinha sido super tranquila.




Os médicos disseram que tinha uma circular de cordão, mas isso não seria impedimento para o parto normal. Disseram que a cesárea foi mesmo por distócia de rotação.

Quando ela chegou no quarto olhou para mim e disse: "muito ruim a cesárea Vânia, muito ruim! horrível..." E estava tão cansada que quando a ajeitaram na cama ela dormiu quase que imediatamente. De vez em quando se mexia e falava: "muito ruim!". Uma hora abriu bem os olhos, olhou para mim e disse: "eu tenho pernas de novo"! mexeu as pernas e os pés... e sorriu... e dormiu. Depois abriu os olhos de novo e falou: "cadê o nenén? ele tem que mamar na primeira hora". E dormiu de novo.

E eu derramei lágrimas diversas vezes. Claro que agradeço a existência da cesárea. Mas não tem jeito, eu sei o que ficou perdido. O prazer de parir não foi atingido. Não é raiva, não é decepção, e não é culpa... é só um lamento pelo prazer perdido.

O Enki chegou no quarto e ela acordou, deu de mamar um pouquinho, eu ajudei a segurar o bebê pq ela estava ainda com muito sono. Depois troquei ele, andei pelo quarto, cantei....




(Eu sempre canto a música "Brincar de Viver" da Maria Bethânia). Falei que a mamãe estava cansada mas ela estava ali. E logo depois ela acordou, e a Rosana chegou.



Depois o Ton me levou embora no final da tarde. Me lembro da sensação de nunca ter visto tantos carros nas ruas de São Carlos... rsrsrsr... cada nascimento traz novas percepções!

Fui visitá-la em casa, 3 dias depois, e fui recebida por um lindo sorriso do Enki. Tenho certeza de que esse sorriso foi por aquelas horas em que fiquei no quarto, cuidando dele e da Kátia.



Enki vai completar 10 meses, é um menininho lindíssimo, de uma força física e espiritual muito grandes.

E quando me encontro com a Kátia me lembro que adoro ser doula, pq doulas podem "se contaminar", podem se misturar com suas clientes, não precisam manter a distância profissional dos terapeutas. Podem se mostrar. Eu e Kátia já choramos juntas e já demos muita risada juntas depois disso. E tenho certeza que mesmo que nossos caminhos possam se distanciar fisicamente algum dia, nunca mais estaremos separadas. Somos da mesma tribo. Mesmo!




Kátia e Ton, muito obrigada pela honra de ter presenciado o momento em que vcs deixaram de ser simplesmente um casal e se tornaram uma linda família.

Enki Miguel... como eu te falei naquele primeiro dia: seja bem vindo ao lado de cá da barriga. "Vocé verá que a emoção começa agora... agora é brincar de viver".

Adoro vocês.

Beijos,

Vânia.
03.04.2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

OFICINA DE PARTO






PREPARAÇÃO PARA O PARTO ATIVO

Objetivo: preparar as gestantes para um parto ativo e seus acompanhantes para ajudá-las durante o trabalho de parto.

Parto ativo: diferente do que se vê nos partos tradicionais, onde a gestante se encontra passiva à mercê das orientações e intervenções médicas. Ativo no sentido de movimentar-se durante o trabalho de parto, evitando deitar-se. Ativo para o(a) acompanhante que desejar estar junto e preparado(a), não só para assistir como para auxiliar.

Conteúdo:
1. O que esperar no trabalho de parto.
2. Como saber a hora de ir para a maternidade.
3. A respiração durante o trabalho de parto e durante as contrações.
4. Posições para facilitar o trabalho de parto.
5. Como o acompanhante pode ajudar.

O acompanhante pode ser o pai do bebê, sua mãe, sua irmã, ou sua melhor amiga... Qualquer pessoa que estiver disposta a estar junto e te ajudar, e com quem você se sinta completamente à vontade.

Direcionada a gestantes no último trimestre da gestação, com ou sem acompanhantes.

Dia 17/04/2010 - sábado - das 9h30 às 11h30.

Investimento: R$50,00 (1 acompanhante não paga - se desejar levar 2 acompanhantes, para o segundo tem 50% de desconto = 25,00)

Vagas limitadas.

Participação somente com Inscrições Antecipadas: enviar e-mail para vaniacrbezerra@yahoo.com.br , ou pelos telefones: 3375-1648 e 9794-3566.

Local: Espaço Shanti - Rua Tiradentes, 469 Vl Elizabeth (próximo ao Tiro de Guerra) Tel: (16) 3411-1089