Quem sou eu

Minha foto
São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Regan, José Hernan e Ravi - novembro de 2010

Conheci a Regan nas reuniões do GAPN São Carlos. Sempre atenta e participativa, já com uma postura diferenciada desde o começo pois na primeira gestação havia viajado em trabalho de parto na procura por uma assistência diferenciada, com um médico um  pouco mais velho e que acreditava na capacidade da maioria das mulheres de parir seus filhos sem ter a barriga cortada.

Então ela não tinha dúvidas sobre o melhor ser o parto natural e a cesariana ser uma cirurgia salvadora quando é necessária...

Um dia após a reunião ela queria falar comigo mas eu estava atendendo alguém e quando vi ela já tinha ido embora. Na reunião seguinte prestei atenção e vi ela saindo... corri atrás, pedi desculpas por ter me demorado na reunião anterior... ela então fez algumas perguntas sobre a época de contratar uma doula, quanto seria, quantas vezes nos encontraríamos antes do parto... mas foi uma conversa muita rápida porque ela precisava voltar para casa.

Daí... entre esta reunião e a próxima o meu marido foi contratado para trabalhar no interior do Amazonas. Ele iria no início de outubro e quando tivesse passado no período de experiência eu e o Fe iríamos também. Então, daí pra frente eu não pegaria mais doulagens pois estaria sem marido pra ficar com o filho quando eu saísse para doular...

No dia em que eu contei para as demais integrantes do GAPN que eu provavelmente iria embora de São Carlos foi o mesmo dia e que a Regan me contratou, e foi a última doulagem que eu peguei. Enquanto ela estava escrevendo o endereço e telefone na minha agenda eu estava me reunindo com as outras doulas para contar a novidade de que eu ia parar de doular. E comecei assim: "esta será minha última doulagem"... nossa, que dramática eu... rsrsr... é que eu sabia que sentiria falta!

Então eu e Regan começamos nossas reuniões de preparação para o parto. Gente, eu fico pensando na paciência que ela precisou ter comigo, porque eu fiquei tão atrapalhada por estar cuidando de filho e casa sozinha... na primeira semana que o Raul tinha ido pro Amazonas eu cheguei atrasada em TODOS os meus compromissos! Sem contar que eu aparecia no dia errado e quando ela atendia a porta abria um sorriso e dizia: "Vânia, nós tínhamos marcado o encontro para amanhã"...  Enfim, aos trancos e barrancos nós terminamos a preparação, e passamos a esperar pelo TP... Caramba, já começou? rsrsr

Eu estava saindo de casa, ia acompanhar meus pais em uns preparativos para uma viagem, era véspera de feriado... quando virei a esquina o meu celular tocou. Era a irmã da Regan e parecia muito nervosa ao telefone, dizendo que a Regan estava com muitas contrações e que era pra eu ir rápido... fui conversando, acalmando um pouco, enquanto fazia a volta no quarteirão e voltava para casa para buscar a mochila com as coisas de doulagem. Aí meus pais me levaram até a casa dela e seguiram para as suas compras.

Entrei e a encontrei na porta da cozinha, com o corpo inclinado e apoiando as mãos no batente. Ela me olhou e disse assim: "eu estava fazendo faxina, olha a bagunça que está a casa, tinha que ser hoje?!" E enquanto falava ia se abaixando porque a contração estava bem intensa. Enquanto isso a irmã estava passando as roupinhas do bebê para colocar na mala, a mãe dela estava fazendo a mala dela, o filho mais velho pedindo bolacha e o marido chegando meio esbaforido do trabalho... todo mundo pego desprevenido... rsrsrsr... é encantador acompanhar partos sem hora marcada! Vira uma aventura e você tem que ir se adaptando, eu acho uma delícia!

O filho mais velho - Noah - estava tomando banho em um banheiro, o marido no outro, tomando uma ducha rápida para não ir todo suado pra maternidade e a Regan declara solenemente que precisa ir ao banheiro: "filho sai daí porque eu preciso usar o banheiroooooooooooooooooooo", e aí sai o menininho enrolado na toalha e enquanto ela está fazendo seu xixi sagrado ele volta: "mãe, eu não acho uma roupa pra colocaaaaaaaaar". E ela responde: "pede pro seu paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai".

E eu ali, fazendo um baita esforço pra não cair na risada... A avó veio acudir a situação e achou uma roupa para o mais velho.

Enquanto isso eu estava ligando para a Dra Carla, porque o Dr Rogério tinha viajado naquele feriado: tudo muito bem conversado, lembro da Regan me avisando que ele tinha até mostrado para ela quantos partos ele acompanharia em dezembro, então se não tirasse uma semaninha de férias no início de novembro... também a chance de um bebê nascer de 37 semanas é tão baixa... só que esse bebê estava afim mesmo de chegar "causando"! rsrsrs Então conversei com a médica, contei como estavam as coisas, que as contrações já estavam bem próximas e fortes e não demoraríamos para ir para a maternidade.




Com as malas prontas, tudo no carro, fomos nos encaminhando pelo corredor, e Regan queria ir ao banheiro... eu argumentei que as contrações estavam muito próximas e o que ela estava sentindo era provavelmente o bebê... ela aceitou meio contrariada, mas no caminho da maternidade ainda protestou duas ou três vezes - "eu queria ir no banheirooooooooooooooooooooooo".

A irmã que estava dirigindo, e a esta altura já estava bem acostumada com a braveza da Regan, ia bem devagar e parava durante as contrações, que estavam muito frequentes... e daí a pouco escutou um protesto: "porque vc está indo tão devagar, eu quero chegar logo, eu quero ir no banheiroooooooooooooo".

E a pobre da irmã responde: "mas foi a doula quem mandou ir devagar"!

Mais um pouco e chegamos, e na portaria encontramos uma dificuldade que já era incomum: a recepcionista não queria deixar eu e a mãe dela entrarmos, dizia que a "paciente" tinha direito a uma acompanhante e que ela tinha que escolher... ela olhou para a mãe e disse: "mãe, ela falou que isso não ia acontecer"... e não conseguiu terminar a frase porque começou uma contração. Bem nessa hora a enfermeira chegou, me cumprimentou, foi ajudando a Regan a levantar-se, a recepcionista repetiu que deveríamos escolher quem ia entrar e a enfermeira falou com um jeito bem manso: "ela é doula, não é acompanhante, pode entrar sim... e o marido, cadê? quando ele acabar de fazer a ficha de internação pode deixar ele entrar também."

Respirei aliviada, não esperava mais encontrar essas dificuldades, mas a recepcionista era novata e não estava acostumada com essas excessões à regra.

No final o marido entrou junto com a Regan e a mãe dela foi fazer a ficha.

Regan foi encaminhada para um apartamento no meio do corredor, e logo que foi entrando se encaminhou para o banheiro, e ao conseguir seu intento ainda complementou: "eu falei que não era o bebê!" Rsrsrsrsr... doula sofre! haaaaaaaaaaaahahahahah

Mas ainda não seria naquele quarto que ela ficaria, o quarto maior no outro corredor estava sendo limpo e preparado com a banheira inflável.

Enquanto isso eu fazia massagens, e incentivava. Foi feito o toque, constatado que a dilatação estava completa, equipe médica chamada, máquina fotográfica a postos nas mãos da vovó, banheira cheia, Regan entrou e se ajeitou, logo começou a fazer força.





E algumas contrações se passaram e sempre tínhamos a impressão de que na próxima nasceria, na próxima nasceria, na próxima nasceria... então Dra Carla sugeriu que ela saísse da banheira e procurasse outra posição para ver se conseguia relaxar melhor. Regan saiu com a minha ajuda e da enfermeira pelos lados e o marido e a Dra Carla na frente - Regan foi andando em direção ao quarto e o marido ficou para trás. Quando ela alcançou o batente da porta veio uma contração, e ela se segurou nos batentes e foi abaixando, o marido a segurou pelos braços e ela soltou o corpo junto com um longo grito:

- "Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai Carlaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa".

E Ravi nasceu, sendo filmado e fotografado pela vovó.

Eu e a enfermeira ficamos presas no banheiro, não tinha como passar para chamar o pediatra e o pessoal da enfermagem. Pequei meu celular que estava tocando música em cima do porta-papel e liguei no postinho da enfermagem, mas antes que alguém atendesse o pediatra abriu a porta, e aí ele chamou as auxiliares.

Regan abraçava e beijava seu filho dizendo palavras carinhosas e sorria.



Dra Carla começou então a rir e falou: "com tanta coisa que vc podia gritar, o nome do marido, o nome do bebê, vc resolve gritar "ai Carla"?!

E as duas riram até as lágrimas!

Lindo nascimento, linda Regan, não tenho outra coisa a dizer senão: "eu adoro mulheres que ficam bravas no trabalho de parto". Adoro! Acho que todas sairiam enriquecidas se abandonassem suas inibições e colocassem os pingos no devidos is e pegassem as rédeas de seus partos nas suas próprias mãos!

Quando encontro mulheres que exalam poder sobre os seus corpos eu não tenho dúvidas de que o parto vai ser muito legal!



Regan, adorei ser sua doula, sorte minha que vc me contratou no último dia, eu vou levar sempre comigo as ótimas lembranças do seu parto.

Parabéns a vc e também a sua linda família.

Um grande abraço,

Vânia.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Denise, Rodney e Laura - outubro de 2010

Denise e eu trocamos vários e-mails antes do nos encontrarmos. Ela vinha de uma cidade vizinha para as consultas de pré-natal e um dia conseguiu marcar tudo no mesmo dia: a consulta, o encontro comigo e logo depois a reunião do grupo de apoio ao parto natural (GAPN). Marcamos o encontro em um bar noturno que fica a poucos metros do local da reunião, e ficamos ali conversando e trocando informações até nos encaminharmos para o encontro. Combinamos então que faríamos a preparação em um só encontro.


Em um sábado eu fui até a cidade deles e ficamos por algumas horas conversando bastante, falando sobre o plano de parto, os medos, a confiança, etc. Ficou combinado que para não pegarem estrada com contrações muito próximas eles viriam a São Carlos e aguardariam a evolução do TP em algum hotel.

No dia em que a Laura deu sinal de que estava pronta para nascer a Denise me ligou às 4 da manhã e avisou que a bolsa tinha rompido e o líquido parecia rosa. É comum o líquido amniótico trazer junto um pouquinho de sangue que estava no caminho, provavelmente decorrente de dilatação do colo do útero. Então, se não está verde e grosso (tipo papa de ervilha), e se não está sangrando muito, não há razão para preocupações. A recomendação é: tente descansar porque depois você vai precisar. Ligue a televisão em um programa bem monótono, tipo jogo de futebol... rsrsrs... que isso vai te ajudar a pegar no sono. Mas na maioria das vezes a excitação de perceber que o TP vai começar dentro em breve acaba com o sono...

Às 7 da manhã as contrações tinham firmado o ritmo de 10 em 10 minutos e eles resolveram vir para São Carlos. Por uma infeliz coincidência as universidades da cidade estavam recebendo eventos neste dia e eles tiveram dificuldade de encontrar vaga. Finalmente encontraram em um apart localizado próximo à USP, portanto próximo também da maternidade, então passaram o dia tranquilos, mas com um porém: aquela última vaga estava reservada para o final do dia, então teriam que deixar o hotel perto das 7 da noite, tivesse o TP engrenado ou não.

Durante a manha a Denise achou que fazia tempo que não sentia a bebê se mexer e diante da dúvida é melhor verificar. Então foram até a maternidade e a enfermeira de plantão foi muito atenciosa e fez o tococardiograma, que mostrou estar tudo bem, então voltaram para o hotel.

Chamaram-me ao meio dia, quando as contrações estavam ficando mais fortes e mais próximas, já de 5 em 5  minutos. Passei a tarde com eles, e Denise manteve-se ativa, tomou banhos para relaxar, ficou na bola, aceitou a bolsa de água quente nas costas, massagens, enfim... e as contrações foram aos poucos ficando mais próximas, mais fortes e durando mais. Felizmente quando estava se aproximando o momento em que teríamos que deixar o hotel as contrações estavam já bem próximas, então isso não chegou a ser problema.

Na maternidade eles foram muito bem recebidos e o exame constatou que a dilatação já estava avançada. A banheira foi colocada para encher, e todos continuamos a incentivá-la. Apesar do cansaço, Denise continuava no controle da situação, e com seu marido ali presente e dando força.

A dilatação se completou e passamos a aguardar que Laura descesse no canal de parto... e o tempo foi passando, e a bebê continuava no mesmo lugar. 

Denise mudou de posição várias vezes, descansava entre as contrações, aceitava golinhos de água, mas o cansaço foi chegando. 

Após conversarem bastante decidiram-se pela cesárea, e assim foi feito. Não é uma decisão fácil, requer tempo... por isso eu fico muito brava quando o médico chega, faz um exame de toque e sem mal olhar para a moça ou para o marido, se vira para a enfermeira e ordena que preparem a cesárea. Deusmelivre de ver essa cena mais vezes... graças a Deus, esse não foi o caso, nem de longe! Tivemos tempo para ir aceitando que talvez a cesárea fosse necessária, e sim, eu me incluo nisso porque quando vou doular eu estou ali inteira para o que der e vier, e quando há a necessidade de aceitar a cirurgia eu sofro junto com o casal. Se cesárea fosse uma coisa tranquila pra mim eu não seria doula.

No entanto é preciso lembrar: uma cesárea que não foi feita com hora marcada já inclui uma boa dose de respeito pela criança que não está sendo obrigada a vir para este lado na hora em que os adultos resolveram que era a melhor hora para eles. E como dissemos já há dois anos: cada contração vale a pena, cada minuto, cada hora passada em um trabalho de parto tranquilo vale a pena, porque inclusive a amamentação será muito facilitada, afinal é muito diferente de não estar acontecendo nada e entrar no bloco cirúrgico, de ter passado várias horas em TP, pois durante estas horas o corpo da mulher e o bebê estão se preparando para o pós-parto. 

Laura nasceu no dia em que escolheu para isso: um lindo dia de primavera, uma noite bela, um casal em sintonia, um nascimento com respeito. Cada contração foi importante para que ela chegasse bem, e cada minuto esperado foi importante para fortalecer sua mãe. Assim, as duas juntas participaram de todo o processo que as uniria, e não simplesmente foram apresentadas sem que nenhuma das duas tivesse dado sinal de que estavam prontas para isso.


Sim, eu amo esta vida de doula, mesmo quando acaba em cesárea, porque não foi uma cesárea tola, foi uma cesárea bem vinda.

Com muito amor,

Vânia C. R. Bezerra