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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

terça-feira, 28 de julho de 2009

Thaís, Daniel e Caio - 07/04/2008


Meu marido e filho viajaram sem mim. Uma semana antes da data da viagem comecei a pensar o que faria caso a Thaís entrasse em tabalho de parto (TP) de madrugada e eu estivesse a 200Km de distância... de tanto pensar e não conseguir decidir acabei com uma baita crise de alergia que me deixou de cama. Resolvi não ir.

Eles viajaram no sábado pela manhã. Dormi a tarde inteira. Passei o domingo planejando uma palestra que daria para gestantes dali a 10 dias, voltei para casa e dormi super cedo. 10 prá uma da manhã o telefone tocou. (Todas as doulagens começam com o telefone tocando:)

Falando bem baixinho:- "Vânia? Oi, é a Thaís. Minha bolsa acabou de romper, saiu muito líquido... na verdade eu tô ligando mais para te avisar e ver o que a gente faz... as contrações ainda estão bem leves, de 7 em 7 minutos mais ou menos. Não sei se já seria o caso de você vir prá cá..."
- Quanto duram as contrações?
-"Acho que uns 4 minutos..."
- Não pode ser.
- "Ãh?" (ops... contrações durando 4 minutos seria muito perigoso, mas neste caso ela não estaria tão tranqüila, estaria com muita dor, portanto me tranqüilizei também.)
- Estou indo. Daqui a pouquinho eu chego. É hora de trabalhar!

Tomei um banho rápido, peguei a bolsa de água quente, meus CDs, a bolinha de massagem... e fui de moto. Fazia mais de um ano que eu não pilotava uma moto, mas fui bem. Era madrugada, nem tinha movimento nas ruas. Acho que só cruzei com dois carros durante todo o trajeto. Quando cheguei fiquei atrapalhada e não conseguia travar a direção. Mas por fim consegui.

O Daniel veio me receber e encontrei a Thaís na cozinha. As contrações ainda estavam tranqüilas, saiu um pouco de líquido amniótico, bem límpido e com cheiro característico. Tudo tranqüilizador. Mas as contrações já duravam mais de 40 segundos e com intervalos de 2,5 a 3 minutos... 3 contrações em menos de 10 minutos. Sem dúvida é hora de chamar a Jamile.

- Você está sentindo ele mexer?- "Não muito... não me lembro..."
- Me avisa quando sentir ele mexer tá?

Em pouco tempo Thaís disse que sem dúvida tinha sentido o bebê se mexer e com força. E daí a pouco outra vez... indicando estar tudo bem.

Comecei a ligar para a Jamile e nada dela atender: nem o fixo, nem o celular... nem o fixo, nem o celular... as contrações ficando mais fortes e mais próximas.

Thaís aceitou um chá com bolachas oferecido pelo Daniel, que também já tinha participado da limpeza do líquido amniótico. Não dava tempo nem dela acabar de comer a bolacha e lá vinha outra contração. Thaís se sentia mais confortável abraçando alguém pelo pescoço e deixando a barriga ir para a frente, movimentando o quadril de um lado para o outro... eu e Daniel nos revezávamos nesta função, e eu comecei também a testar as possibilidades de massagem nas costas, e nos ombros (entre as contrações).

E continuava ligando para a Jamile: nem o fixo, nem o celular, nem o fixo, nem o celular...

Thaís: - "Eu tô achando que está acontecendo muito rápido"...

Nem o fixo nem o celular... preciso encontrá-la. Lista telefônica. Telefones das das maternidades. E a parte complicada: falar manso suficiente para transmitir segurança ao casal, e com urgência suficiente para que as telefonistas das maternidades aceitassem me ajudar:

- "Eu preciso de um favor... eu preciso falar com a Jamile e com o esposo dela, o Dr. José Augusto. Eu estou com uma mulher em trabalho de parto e combinamos com eles que ligaríamos antes de ir para a maternidade, mas eu não estou conseguindo falar na casa deles. O celular da Jamile também não está atendendo. Eu precisaria ligar no celular do Dr. José Augusto... eu vou falar os números da casa deles e do celular da Jamile prá vc ver que eu não estou mentindo... olha, os números são esses...".

Claro que nenhuma das duas me passou o número do celular do Dr. José Augusto, mas ambas anotaram o meu nome e o da Thaís e disseram que tentariam encontrá-los. Confiamos nisso e pouco tempo depois o telefone tocou. O Daniel até falou: -"Telefone tocando a esta hora, só pode ser ela..."

Fui atender e expliquei o intervalo e a duração das contrações, ela disse que já estava vindo.Voltei para junto da Thaís, continuamos testando as posições mais confortáveis: cócoras sustentada, sentada sobre os joelhos entre mim e o Daniel, mas a mais confortável continuava sendo pendurada no pescoço e recebendo massagem no quadril. Essa parte era muito tranqüila também, porque a Thaís sempre dizia o que queria e como se sentia melhor.

Ela voltou a afirmar que estava achando tudo muito rápido: - "Eu me preparei para um Trabalho de Parto mais longo, mas do jeito que está indo acho que antes do meio-dia já terá nascido! (Ela calculou 12 horas de TP, o que seria bastante razoável para o primeiro parto). O que você acha Vânia?"

- Eu acho que antes de amanhecer o dia já vai ter neném nesta casa.Os dois ficaram me olhando meio estáticos, com os olhos ligeiramente arregalados. Foram poucos segundos, mas longos o bastante pra quem está próximo de se tornar pai e mãe pela primeira vez. Foi muito lindo!

Logo veio mais uma contração, para nos trazer de volta ao trabalho, e depois outra... Thaís perguntou se podia ir para o chuveiro. Sim. Então nos mudamos para o banheiro: bola, aparelho de som portátil, o cd com músicas sobre o tema da água, que já estava tocando na sala e embalou quase todo o TP. Logo o Daniel entrou junto no box, Thaís continuava se apoiando nele durante as contrações, e nos intervalos tentava sentar-se um pouco na bola, mas também não se sentia confortável assim. Era uma tentativa de descansar os pés e as pernas, mas duravam poucos segundos.

Jamile chegou. Fui abrir a porta e ajudei a colocar as coisas para dentro. Enquanto fazíamos isso ela explicou que o telefone do quarto havia sido desligado acidentalmente. Provavelmente alguém tropeçou na tomada. Aí o outro telefone tocava lá na sala, e com a porta do corredor fechada o som ficou muito baixo, por isso demoraram a acordar. Quanto ao celular... estava desaparecido.

Fomos encontrar a Thaís. Todos os quatro no banheiro. Jamile auscutou os batimentos cardíacos do neném, e estava tudo bem. Thaís sentou-se na banqueta de parto trazida pela Jamile, mas sentiu um desconforto muito grande no exame de toque, de modo que a Jamile parou, mesmo sem ter chegado a uma conclusão. Ela disse que: ou a dilatação estava em 8 cm ou estava total com um rebordo (faltando apenas uma parte do círculo atingir a dilatação completa). Nos dois casos a conclusão seria próxima: faltava muito pouco. Então era preciso preparar a recepção do bebê.

Jamile trouxe uma mesinha para o banheiro, onde abriu o Kit de parto: luvas, gases, pinças, etc... Depois perguntou sobre a roupinha do bebê, e descobrimos que não tinha nenhuma troca de roupa seca. Enquanto eu fiquei no banheiro, fazendo massagem durante as contrações, agora com óleo de banho, incentivando e tirando dúvidas, Jamile pegou uma roupinha e foi secar com o ferro de passar roupas. Thaís queixou-se de fome, e nos intervalos das contrações comeu uma banana. Quando eu achei que o parto estava muito próximo, troquei de posto com a Jamile e fui terminar de secar a roupinha.

Poucos minutos se passaram e a Jamile me chamou, dizendo que o bebê já estava bem baixo. Fui para lá, e Thaís disse que estava com sede e sentindo um pouco de fraqueza. Antes disso eu já tinha levado um suco de uva, de caixinha que tinha na geladeira, mas desta vez peguei umas laranjas e fiz um suco com uma boa colheirada de açúcar. Enquanto eu estava na cozinha espremendo as laranjas, e esperando a água esquentar a bolsa térmica que ela tinha pedido, Thaís dava uns gritos longos durante as contrações, e os cachorros da vizinhança começaram a uivar em resposta! Eu achei o máximo... Entrei no banheiro com o suco e a bolsa térmica, e perguntei se tinham escutado os cachorros. Estavam todos rindo, imaginando se os vizinhos chamariam a polícia...

Thaís tomou o suco. E disse que era o melhor suco de laranja que já tinha tomado... Daniel colocava a bolsa de água quente durante as contrações e ela disse que melhorava um pouco. Logo aquela dor localizada diminuiu e a Jamile disse que era porque o bebê já estava bem mais baixo.

Mesmo sem termos combinado nada, peguei a máquina digital que estava por ali e com a qual já tínhamos tirado algumas fotos, e comecei a filmar. Então a cabecinha saiu, e com mais uma contração veio o corpinho. Com muita tranquilidade ele foi colocado nos braços da mãe. Jamile olhou a hora, ele já chorava forte e logo se acalmou. Ficamos um pouco por ali, mas a Thaís se queixou de desconforto por estar sentada no banquinho de parto, então resolvemos ir para o quarto. Embrulhada em toalhas, andando devagar e com seu filho nos braços, Thaís foi para o seu quarto e deitou-se na sua cama, que tinha sido forrada com um lençol absorvente trazido por Jamile. Neste momento, enquanto ajeitávamos as coisas no quarto, Thaís olhou para o bebê e disse:

-"Oi filho! Você acredita que você já nasceu?! Porque parece que a mamãe ainda não acredita!" (e o aconchegou mais em seus braços).

O cordão umbilical já tinha parado de pulsar e foi cortado pelo Daniel, que logo pegou o bebê no colo e ficou por perto enquanto aguardávamos a saída da placenta. Isso foi um pouco mais demorado do que costuma ser. Jamile colocou algumas agulhas de acupuntura, colocou o bebê para mamar, fazia massagem no útero, e enrolava o cordão que descia, pelo que se via que a placenta também estava descendo, apesar de lentamente. Thaís se queixou de não ter sido informada que a saída da placenta também causava dor, mas realmente não costuma ser mais que um desconforto. Finalmente ela saiu, foi examinada pela Jamile e descartada. Aí era hora dos pontos... um capítulo à parte. Como a placenta demorou a sair o períneo já estava um pouco inchado, o que dificultou um pouco as coisas. Mas essa parte também passou.

Jamile foi para a cozinha fazer uma sopa. Eu fui com ela, deixando o casal a sós com o bebê, que agora já tinha recebido um nome. O Daniel disse que conversou com ele, lá na sala, enquanto a Thaís estava recebendo os pontos, e os dois juntos decidiram que o nome seria Caio. Thaís aceitou-o, então:

SEJA BEM VINDO, CAIO!

O dia estava amanhecendo, e eu estava na cozinha vendo a Jamile preparar uma sopa. Pensei que nada poderia ser mais adeqüado do que ver uma parteira preparando uma sopa para uma mulher que acabou de ter o seu bebê.

Caio foi pesado, Thaís tomou a sopa, e a faxineira chegou e tomou um baita susto...
(- Como assim? Esse neném aí é o seu?!).

Daniel tirou muitas fotos, e em uma delas eu estou ao fundo observando a primeira mamada do Caio.
Todos tranqüilos e felizes, e assim os deixei. Fui embora, observando como os dias são mais bonitos quando bebês nascem em casa e famílias se formam assim: tranqüilamente!

Thaís e Daniel,

Parabéns pela união e pela força que demostraram ao trazer seu filho para esse mundo de uma forma tão bonita.

Caio,

Parabéns por fazer parte desta família. Que a sua vida seja como o seu nascimento: no tempo certo para você, e sem sofrimentos desnecessários. Com a força e a tranqüilidade que você merece.

Um grande abraço,

Vânia C. Rondon Bezerra.

5 comentários:

  1. Oi querida! Desculpe a demora em te responder e vir aqui, mas é que estive de férias e depois meio "imersa" nas blogagens coletivas da sMAM!
    Mas simplesmente AMEI reler meu relato de doulagem, feito com tanto carinho e detalhes por você!! Chorei de novo... acho que vou chorar sempre que ler, né? Veio tudo tão fresco na memória, que delícia! Preciso fazer o meu relato, fiz metade e parei, vou empurrando com a barriga, parece que não quero por pra fora... engraçado. Meu último prazo prometido pra mim mesma é até o Caio fazer um ano e meio. Então, tenho 2 meses pra cumprir... hehehe.
    Muito obrigada por tudo, viu!!! sempre.
    E fiz um relato de amamentação pra SMAM, você e a Jamile são personagens fundamentais. Passa lá no blog pra ler.
    Grande beijo, já estou ficando com vontade do segundinho... rsrs
    tha

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  2. Amore, fiz um postzinho lá no blog sobre esse seu relato e sobre sua presença no nosso parto, tá? E postei umas fotenhas suas, fica brava não, viu!
    beijão, saudade!

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  3. querilda, uma dica: Dani questionou porque você só colocou nos relatos o nome da mãe e do filho... ele se sentiu adoulado também, e não entendeu porque foi excluído do título do relato... hehehe... Mas achei legal o toque dele, nem todos os casais vivenciam esse momento da mesma forma, mas, no nosso caso, acho que o relato é do parto da Thaís, do Caio e do Daniel... que pensas do assunto??? rsrsrs!
    beijo

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  4. Ah!! Que lindo o relato!! Muito bom ler isso quando se está tão próxima do seu parto!!
    Beijos pra vocês!!

    Ana Carolina (Araraquara - próximo PD da Jamile!!!)

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  5. Que lindo relato. Parabéns pelo seu trabalho! Sou mãe de primeira viagem e torço para que minha doula seja assim como você foi. Muita luz em seu caminho. Um grande abraço

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