Quem sou eu

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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

sábado, 4 de julho de 2009

Relato de parto da Andréia


Relato de Parto

No domingo (23/10/2005) às 6h00 eu estava desconfortável na cama e resolvi tomar banho pois já estava amanhecendo. Quando tirei a calcinha vi que tinha uma água sanguinolenta. Abaixei para pegar e correu alguns fios dessa água pelas minhas pernas. Lágrimas de emoção brotaram, eu sabia que a Laura vinha vindo. Fiquei muito feliz e tranqüila. Fui votar no referendo “das armas”, liguei pra Vânia e mantive a programacão de ir pra um churrasco em família. Chegando lá liguei pra médica, que me disse que foi uma ruptura de membrana alta e isso era só o começo. Recomendou banheira, banho, relaxamento, e que eu ligasse conforme caminhasse. Só que tudo me irritava: o barulho, minha sobrinha, minha mãe, o resto da família que ainda ia chegar e era pra eu nem comentar nada porque são cesaristas. Desisti do churrasco! Voltei pra casa com a Ju (minha filha de 10 anos) e foi excelente. Fizemos almoço, ouvimos musica, tomei 2 litros de chá de canela e ela sempre renovava o incenso de canela conforme ia acabando e fomos "passear no quintal enquanto a Laura não vem”.
Durante todo o domingo perdi uma mucosa que parecia clara de ovo, por volta das 21h liguei pra médica e relatei isso. Ela me disse que esse nenê estava mais pra terça-feira “mas eu quero te ver amanhã à tarde (dia 24) no meu consultório”.
Fui para a consulta, ela fez toque e me disse que estava tudo bem, que eu tinha muito muco e que não estava com bolsa rota, e sem dilatação, mas que queria um ultra-som para verificar a quantidade de líquido.
O ultra-som deu quantidade normal pra IG, placenta grau II, ótima vitalidade fetal e aproximadamente 3,400 kg.

Chegando em casa liguei pra médica e informei tudo isso. Resposta: “Te vejo na sexta-feira ou a qualquer momento em edição extraordinária.” Ainda brinquei: “Hoje à noite muda a lua”, “Eu sei, estou com quatro prestes a parir”. Fiquei tranqüila e aliviada sabendo que normalmente outros médicos já teriam indicado cesárea.

Às 00h40 acordei com dor na barriga, respirei fundo, relaxei e vi a hora.
00h53, 01h01, 01h06, 01h11 elas se repetiram. Liguei pra Vânia e informei isso, ela disse que já vinha pra minha casa em seguida.

A Juliana acordou enquanto eu falava no telefone e veio radiante do quarto e ficou junto comigo até eu ter alta da maternidade.

Fui tomar banho, coloquei as malas num lugar fácil e fui andar pelo quintal.

As contrações estavam regulares a cada 3 minutos. Usei um pouco a bola suíça.

A Vânia chegou e conforme a noite foi passando as dores foram ficando mais intensas, a bolsa de água quente era de um alivio tremendo e as massagens no quadril ajudavam muito. Às vezes a Vânia me lembrava de respirar e ficava mais fácil.

Em dado momento, durante uma contração, a Vânia me abraçou por trás com um braço na minha barriga e a outra no meu quadril e cantou uma espécie de mantra: “Abre-te, abre-te abre-te Andréia”. Aquilo me emocionou muito e escorreu como um bálsamo pelo meu corpo.
Lá pelas 4h00 com as contrações ainda de 3 em 3 minutos mas bem mais fortes, pedi pra Vânia ligar pra Cynthia e fomos pra maternidade.

Chegamos lá junto com ela. Ao toque ela disse que já não sentia mais o colo do útero e eu tinha 3 dedos de dilatação, que levaria + ou – 4h00 para nascer, ia ser lá pelas 9h00. Perguntou se eu queria ir pra casa ou ficar lá. Resolvi ir pra casa e já deixamos as malas lá no meu quarto. Quando chegamos em casa eu tinha sono e me sentia cansada. Fui pra cama e a Ju fez capuccino pra mim. Nas contrações eu ficava de 4 na cama e deitava quando passava, mas elas estavam muito freqüentes e eu cada vez mais cansada. A Vânia colocou um CD relaxante e apagou quase todas as luzes. Eu sentei no sofá com a bolsa de água quente nas costas, o quadril bem na beirada do sofá e as pernas abertas. A Vânia sentou num banquinho no minha frente e quando vinham as contrações eu segurava nas mãos dela e a puxava. Eu tinha a impressão que tirava a pressão do quadril. Algumas eu agüentava bem, outras nem tanto... Cheguei a dormir entre uma contração e outra. A Vâ e a minha mãe se revazaram por quase 2 horas nesse banquinho!! Quando amanheceu as 6h eu voltei a “participar”. Fui andar no quintal e pela casa mas eu tinha pavor de ter uma contração sem a Vânia por perto.

Comecei a me sentir mais agitada, gritei com a Ju duas vezes, perguntei pra Vânia se ia piorar muito, se eu não podia tomar um tylenol (heheheh cada coisa né...). A Vâ respondeu: "é uma de cada vez Déia, não vai piorar. A dor é sua amiga, a opção é você estar cortada ao meio quando sua filha vier". Pensei nessa hora: agüento qualquer coisa pra não ser cortada de novo!

Eu já não achava mais posição pra ficar, tentei sentar de novo no sofá e na contração seguinte minha bolsa rompeu. Lavou sofá, tapete, vestido...A Vânia viu a hora (6h53) e disse que eu precisava me trocar. Eu disse que queria ir pra maternidade e ela começou a correr pela casa buscando toalha, vestido limpo, calcinha, meu chinelo e enquanto isso eu gritava que vinha vindo outra e queria ela comigo... fiquei com dó dela nessa hora.

Com o trânsito mais intenso demoramos um pouco mais pra chegar na maternidade, já lá perto a Ju ligou pra Dra. Cynthia e avisou que estávamos chegando.

A portaria estava completamente lotada com as consultas daquele dia, passamos as 3 feito um furacão e entramos no hospital. No final do corredor, com outra contração, parei pra me apoiar num banco, uma mulher chegou e disse que se eu estava com dor eu tinha que ir de cadeira e foi buscá-la. Nós fomos direto pro quarto, eu estava encharcada de suor, a Ju foi pedir uma camisola do hospital, fiquei lá de bunda de fora (e nem ligando pra isso!), as pernas afastadas, as mãos apoiadas na cama com a sensação que a Laura ia nascer a qualquer momento. A Vânia me tranqüilizou. Quando eu respirava (e soltava o ar fazendo “uuuuuhhhhhhh”) nas contrações eu ficava mais calma. Eu sabia disso, mas às vezes vinha mais forte e eu precisava gritar. Num momento que eu andei pelo quarto a Vânia me disse: “Ta tudo bem Déia.” Eu: “Não tá!! Tá doendo pra caramba”... “Mas vc esta indo super bem.”

A Jú entrava e saia do quarto conforme meus gritos ou não.

Nesse meio tempo uma senhora pegou meu nome numa papeleta e uma enfermeira veio me dizer que estava preparando uma cesárea e depois ligava pra médica. Me perguntou do pediatra e eu precisei de alguns segundos pra lembrar o nome. Fora isso elas nem entravam no quarto.
A médica chegou, me lembrou de respirar, mandou eu deitar para me examinar, perguntou pra Vâ se eu tinha tomado café da manhã: “dois pedaços de chocolate”, “chocolate??!!”. Quando passou a contração ela fez toque: “dilatação total”. Falei baixinho "Graças a Deus!" e pensei: não tem mais como ser cesárea!!!.

Ela pediu para eu sentar e cruzar os tornozelos na frente do corpo, que quando a dor viesse era pra eu deixar a dor vir pra Laura abaixar. Mas qdo veio eu me joguei pra trás. Doeu demais.
Ela levantou e disse que ia mandar preparar a sala que pelo jeito ia vir de uma vez.

A enfermeira voltou com uma maca e pediu para eu passar. Estava no meio de uma contração. Esperei passar e aí fui pra maca. Ela mandou eu colocar os braços pra baixo e “agora vc precisa se controlar”. Fui de olhos apertados e respirando fundo. Qdo abri os olhos, estava passando do lado de um bebe num berço, com 2 mulheres fuçando nele. Pensei: é o bebe da cesárea.

Na sala de parto passei pra mesa e perguntei pela Vânia. A médica me respondeu que ela estava se trocando e já vinha. Lembro que quando ela chegou agarrei ela pela cintura (com os braços erguidos acima da minha cabeça) e puxei pra conseguir fazer força. A Dra. arrumou meus pés no estribo (na verdade onde ficariam os joelhos) e me mostrou onde segurar mas eu não alcancei. Então agarrava na lateral da cama. Depois de 2 contrações a Cynthia começou a dizer que “onde está não pode ficar”, “força aqui embaixo”, “não desperdiça contração”. Eu sentia a Laura vindo, mas a contração passava e ela voltava. Percebi que não ia escapar da episio, mas isso eu já sabia. Mais 2 contrações, a Vânia enxugando meu suor, eu gritando “vem Laura, vem!!” e a Dra. me avisou que a enfermeira ia fazer força na minha barriga para nascer na próxima.

Acho que fiz mais força que nas outras vezes porque nem senti ela empurrando e percebi a médica tirando o corpo da Laura. Eram 8h02. Olhei pra baixo e vi ela limpando o rostinho, colocou um campo na minha barriga e me deu meu bebe. A Laura ficou quietinha, calma, respirando ali deitada. Dei boas vindas a ela e notei a médica falando e fazendo gestos com a mão:”espera, espera!”. Chamou a Vânia pra cortar o cordão e a berçarista parecia uma galinha choca em volta dos pintinhos!! Quando ela tirou a Laura de cima de mim que ela chorou. A Vânia foi atrás e dali a pouco elas voltaram com a bebe embrulhada e colocou pertinho do meu rosto. Aí foi a vez da Vânia ficar “calma, espera! Deixa ela ver a mãe!” e eu ali conversando com a minha filha. Tínhamos conseguido afinal!!!

Com a fala que o bebe ficaria com frio ela foi levada. A Vânia foi avisar a Ju que tinha nascido e eu fiquei sozinha com a Cynthia dando os pontos da episio. O pediatra colocou a cara na porta e pediu desculpas por não ter chegado a tempo mas estava num Posto de Saúde no outro lado da cidade, mas que ela tinha nascido super bem. Entrou também outro médico na sala, e num gesto de respeito comigo a Cynthia fez as apresentações:

- Andréia, esse é o Dr. "Fulano", o anestesista que você dispensou.
- Dr., essa é a Andréia.

Quando acabou os pontos a Cynthia pegou o cordão e ficou segurando ele dando leves puxões como se empinasse uma pipa. E avisou que eu ia sentir um pouco de cólica. Senti a placenta escorregando inteira.

Minhas pernas foram ficando roxas e eu comecei a tremer de frio. No quarto a enfermeira
Me avisou que dali a 4 horas ela me ajudaria a tomar banho e trariam o bebe.

4 horas?????

- É, seu útero precisa descansar!!

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!

A Vânia saiu atrás do pediatra, mas ele já havia saído, em compensação a bolsa da médica estava ao lado da minha no quarto, então eu sabia que ela voltaria.

Conversamos e ela foi ao berçário avisar que assim que eu tomasse banho era pra me trazer a Laura.

A Vânia foi fazer minha internação e a Ju veio ficar comigo. Deitou na poltrona do meu lado e dormiu por 2 horas!!!

Minha pressão? 12x8. A berçarista veio: “você que quer o bebê logo?” Sim. “Posso pegar a roupa? Já dou banho nela”

Ás 11h tomei sopa, um bom banho e esperei a Laura. 12h ela veio sugando as mãos! Acordada, de olho aberto, esperta, mamando, buscando.

A D. Madalena (berçarista): “ Parto normal é outra coisa né? Os nenês ficam até mais inteligentes. Os médicos que falam! Você tem colostro?”

- Tenho
- Vamos por ela pra mamar.
E ela fez o serviço direitinho!! De cara, super bem, super forte.

Às 12h do dia seguinte eu estava indo embora pra casa com a minha Laura me sentindo vitoriosa. Eu tinha conseguido!! Tive um parto com tudo o que eu podia conseguir de concessão num hospital. Atingi, em diversos pontos, os limites deles.

3 comentários:

  1. Agora sim eu estou conseguindo entrar e deixar comentário. rs

    Adoro o blog!

    Beijos

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  2. Me lembro que a Dra. Cyntia perguntou se eu queria entrar na sala de parto com a minha mãe, na hora estava assustada e disse que não, preferia ficar no quarto.
    Hoje me arrependo, perdi uma expriencia única: o nascimento da minha irmã.
    Mas pensando bem, não sei se meu emocional estava preparado para isso aos 10anos.

    Bjos,
    Juliana(14)

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  3. hahahaha, a parte do tylenol foi a melhor de todas!

    Ai que saudades dessa época!

    Ai que saudades de parir! hahahahahahaha

    Amo vcs tá!

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