Como sempre faço, pergunto "quem é o médico?". Isso porque, assim como tem médicos que não querem me ver nem pintada de ouro... o sentimento é recíproco! E para o meu alívio e alegria, eram clientes da Dra Carla e Dr Rogério. Então, aceitei e lá fui eu conhecer as moças: Flávia e Mariana.
Fui à casa da Flávia uma vez, para conhecê-la, conhecer o marido, a casa... ela já tinha feito a preparação para o parto com a Jamile, e sabia pelo menos um filme "decor e salteado".
E as duas semanas passaram, e chegou a semana da defesa do doutorado da Jamile.
À pedido da Flávia e contrariando os conselhos de Dra Carla, que preferia esperar mais pelo parto espontâneo já que havia um descompasso entre a DUM e os ultrassons, e estava tudo muito bem com a bebê... chegaram a um acordo e a indução dela foi marcada para o dia 01/12/2009. Fiquei à postos, esperando ser chamada quando a indução "pegasse", isto é, quando as contrações estivessem já bem ritmadas, próximas e com um certo nível de desconforto. Num parto induzido eu sempre combino assim as minhas adouladas: que façam da mesma forma como fariam num parto espontâneo - me chamem quando as contrações estiverem ficando próximas, com intervalos iguais ou menores que cinco minutos, já que antes disso não tenho muito o que fazer, viro visita e isso pode atrapalhar. Enquanto o trabalho de parto está tranquilo se ganha muito mais em estar com familiares pois não causam nenhum tipo de contrangimento.
Jamile me ligou perto das 10h30 perguntando se eu poderia ir até a maternidade pq a Flávia tinha ficado um pouco nervosa e tinha chorado na hora da internação.
Cheguei bem na hora do almoço, que na maternidade é servido bem cedo, e a mãe dela pediu que eu aguardasse um pouco até que ela tivesse acabado de comer. Fiquei na recepção até que a mãe dela trocasse de lugar comigo. E como ao meio dia há um horário de visita especial para os pais, o Douglas logo apareceu.
Conversamos um pouco. Ela tinha ficado nervosa na hora da internação por conta do Douglas não poder ficar, por causa da obrigatoriedade imposta pela maternidade de que "o" acompanhante tem que ser uma mulher. Quando cheguei ela já estava bem mais calma. Nesse ponto seria interesante para todos que eu saísse e a mãe dela voltasse, mas achamos que causaria um transtorno maior quebrar a rotina da maternidade, fazer de novo um pedido de troca de acompanhante fora do horário esipulado por eles, e resolvemos que seria melhor eu ficar. Acabou o horário de visita, o Douglas foi embora, e Flávia resolveu ligar a tv. Tentaríamos tirar um cochilo. Eu na outra cama do quarto, e a tv com o volume bem baixinho, para funcionar como sonífero.
Mas ela não conseguiu ficar muito tempo deitada. As contrações firmaram o rítmo de 3 em 10 minutos às duas da tarde. A orientação era que avisássemos quando isso acontecesse para que trocassem o soro, e assim foi feito. A enfermeira de plantão era a Shirley, maravilhosa!
Chegou a Jamile, trazendo a banheira dela emprestada, que é bem melhor do que a disponível na maternidade. Conversaram, estava tudo muito tranquilo.
Às 3 da tarde é horário de visita. Entrou a mãe, e depois o marido. E também uma vizinha, que tinha entrado para visitar outra conhecida que estava internada, mas fez um desvio e foi parar no quarto da Flávia! Rrssrsrsr
A Flávia estava dançando com o marido, super concentrada, e não respondia às perguntas da sua visitante. Chamei a visita para ver a banheira que eu estava começando a inflar, para deixar pronta para encher quando fosse a hora. Ela me perguntou: "o que está acontecendo"?! Imaginem o susto de ver alguém em TP com contrações próximas e dançando com o marido! Expliquei que estava tudo bem. Mas ela queria voltar para o quarto e ficar lá com a Flávia. É compreensível sabe? As pessoas querem ajudar, querem participar, querem se certificar que está tudo bem. Mas esta vizinha tb tinha no olhar uma expressão de susto, como quem diz: "meu Deeeeeeeus o que está acontecendo aqui?!!!!!" De onde concluímos o de sempre: para ajudar é preciso estar preparada. Daí a pouco a visita resolveu sair, e eu deixei os dois dançando, fui inflar a banheira.
Passou o horário de visita e ele foi ficando.
Shirley sorria, verificava o bem estar do bebê, elogiava muito, colocava-se à disposição para qualquer coisa que fosse necessária e saía. Estava tudo perfeito.
Às cinco da tarde o Douglas começou a dizer que precisava sair para fumar, mas sabíamos que se ele saísse dificilmente deixariam voltar.
Coloquei a banheira para encher porque Flávia estava sentindo um pouquinho mais de desconforto, e eu achei que poderia aumentar muito rápido, por ser indução. Então resolvi deixar a banheira cheia, e quando fosse a hora levaríamos pouco tempo para conseguir esquentar a água. A Jamile também tinha deixado o aquecedor dela que é bem grandão.
Às seis o Douglas não aguentou mais e saiu. Aproveitou para ir para casa tomar um banho. Às sete e meia tinha outra horário de visita e ele poderia voltar.
Seis e meia a Shirley mediu a dinâmica uterina e os intervalos tinham aumentado, assim como a duração das contrações tinha diminuído.
Dra Carla passou visita e estava tudo com cara de início de TP, de modo que fazer um exame de toque naquela hora poderia ser ansiolítico, não serviria para nada. A Shirley desejou que o parto fosse feliz como a Flávia desejava, despediu-se e foi passar plantão.
Flávia perguntou se poderia tomar um banho pq estava com muuuito calor. Eu e Carla falamos quase ao mesmo tempo que poderia tomar uma ducha, sem entrar na banheira, porque isso poderia tornar o TP arrastado, já que tudo indicava que estava apenas no começo.
Não chegamos a contar para a Flávia que as contrações tinham diminído. Apenas confiamos que logo aumentariam novamente. Ela estava tendo 3 contrações a cada dez minutos, e durando muito pouco ainda - 30 ou 40 segundos.
Não chegamos a contar para a Flávia que as contrações tinham diminído. Apenas confiamos que logo aumentariam novamente. Ela estava tendo 3 contrações a cada dez minutos, e durando muito pouco ainda - 30 ou 40 segundos.
Dra Carla saiu. Ajudei a Flávia entrar na banheira. Ela se colocou de pé na banheira, embaixo da ducha, e começou a lavar a cabeça com expressão de intenso alívio.
Aí veio uma contração, ela me olhou com a expressão completamente alterada e falou bem baixinho: - "eu posso ajoelhar"?
- Pode!
- "Vânia, tá nascendo"!!!
Me imaginei correndo pelo corredor e depois a enfermeira dizendo que estava com 2cm de diltatação. (Olha como o fantasma da doulagem anterior apareceu)!
- Coloca a mão lá e me dá certeza.
Flávia colocou a mão e disse:
- "Tem alguma coisa aqui"!
Falei bem calma: vou chamar a enfermeira prá dar uma olhada. Saí devagar do quarto... e aí fui correndo até o postinho da enfermagem. Correndo de chinelos no corredor, fazendo aquele barulhão de PLÁ PLÁ PLÁ PLÁ Apareceu um monte de cabecinhas prá fora dos quartos para ver o que estava acontecendo. Quando cheguei no postinho todo mundo já tinha parado de conversar prá ver quem vinha correndo... falei SHIRLEY, TÁ NASCENDO!
A Shirley: - "Como assim tá nascendo?!!!! Tem certeza?"
- Ela colocou a mão e falou que está nascendo!
E voltei correndo: PLÁ PLÁ PLÁ...
A Shirley: - "Como assim tá nascendo?!!!! Tem certeza?"
- Ela colocou a mão e falou que está nascendo!
E voltei correndo: PLÁ PLÁ PLÁ...
Veio um monte de gente correndo atrás de mim. Paramos e entramos calmamente no quarto... Flávia estava acocorada dentro da banheira, segurando nas bordas. A Shirley colocou as luvas e pediu: posso examinar? A Flávia fez sinal negativo com a cabeça. No meio dessa contração a bolsa rompeu. Passou, a Flávia falou que agora podia examinar. A Shirley examinou, e disse com a voz muito doce: "vamos chamar o marido que está nascendo".
Saíram todas do quarto, com a missão de preparar tudo em tempo recorde, correram cada uma para um lado. - chamar o marido; - chamar a obstetra; - chamar a pediatra; ...
Mais uma contração e Flávia falou de novo:- "Vânia, tá nascendo".
Tudo bem, elas já estão vindo...
- "Já saiu a cabeça! E agora saiu o resto!
Tudo bem, elas já estão vindo...
- "Já saiu a cabeça! E agora saiu o resto!
Olhei para a banheira, e lá estava Maria Clara nadando! Peguei a bebê, virei-a e entreguei para mãe. Estava tudo bem. Entrou alguém no quarto, uma auxiliar eu acho, não me lembro quem era. Falei: já nasceu! Ela entrou e eu fui de novo correndo atrás da Shirley, mas ela já estava vindo pelo corredor. Voltei para o quarto, peguei a máquina e tirei uma foto.
Clarinha estava bem, movimentando-se vigorosamente.
Saí para o corredor para tentar falar com o Douglas de novo, mas ele não atendeu. Achei que ele devia estar vindo correndo para a maternidade e não quis atender o celular enquanto dirigia.
Voltei para o quarto e vi a pediatra passando correndo com a bebê nos braços. O nascimento foi tão inesperado que a água estava fria!!! Na época ainda não tinha o berço aquecido no quarto, e só por isso a Clara foi levada para o centro obstétrico, para ser aquecida mais rapidamente. E a Flávia contou que a bebê chorou forte assim que foi tirada dos braços dela. O único problema foi que perdeu temperatura e precisou do berço aquecido.
Dra Carla chegou com a expressão mais feliz do mundo. Contou que quando a Shirley ligou e disse que estava nascendo ela respondeu:
Dra Carla chegou com a expressão mais feliz do mundo. Contou que quando a Shirley ligou e disse que estava nascendo ela respondeu:
- Shirley, você tá falando sério?!
R) - Doutora, nunca falei tão sério na minha vida!
Então ela saiu correndo, deixou os filhos na aula de futebol, e ligou para a mãe dela ir buscá-los.
R) - Doutora, nunca falei tão sério na minha vida!
Então ela saiu correndo, deixou os filhos na aula de futebol, e ligou para a mãe dela ir buscá-los.
Conversou um pouquinho com a Flávia e foi lá ver a Clarinha. Já estava tudo bem, ela tinha sido aquecida e voltou para o quarto em bem pouco tempo.
A mãe da Flávia chegou. Nossa, ela estava MUITO BRAVA por imaginar que não havia sido chamada por algum tipo de boicote da equipe. Repetia sem parar: "mas vocês não disseram que chamariam quando estivesse perto de nascer?" Tentávamos explicar e logo ela perguntava de novo. Mais uma vez: é compreensível. Foi inesperado para todos.
O Douglas já tinha se acalmado no caminho. Ele tinha ficado nervoso à principio mas logo imaginou que haveria uma explicação. Ele confiava na equipe. Depois ele disse que chegou a imaginar que tinha sido cesárea de emergência. A Jamile também imaginou a mesma coisa quando enviei um torpedo para ela dizendo "já nasceu"!
O Douglas já tinha se acalmado no caminho. Ele tinha ficado nervoso à principio mas logo imaginou que haveria uma explicação. Ele confiava na equipe. Depois ele disse que chegou a imaginar que tinha sido cesárea de emergência. A Jamile também imaginou a mesma coisa quando enviei um torpedo para ela dizendo "já nasceu"!
Jamile também passou por lá. A defesa do doutorado dela era no dia seguinte, a apresentação ainda não estava pronta, mas saiu correndo quando contei que já tinha nascido.
Em pouco tempo a alegria absoluta reinava entre todos. E o Douglas me disse baixinho: - "A Flávia teve exatamente o parto que ela queria"!
A mãe dela me pediu que passasse a noite lá porque ela tinha ficado nervosa demais e ainda não tinha conseguido se acalmar. Mas já tinha aceitado que havia sido um imprevisto.
Ficamos Flávia, Maria Clara e eu. Até meia noite estávamos completamente acordadas, e foi bem depois que a emoção começou a dar lugar ao cansaço. Me lembro de que bem perto de amanhecer a enfermeira da noite entrou, verificou o bem estar da Flávia e da bebê, e eu percebi tudo mas não consegui levantar. Elas ficaram falando baixinho para me deixar dormir. Vê se isso é acompanhante que se apresente! rsrsrsr
Em pouco tempo a alegria absoluta reinava entre todos. E o Douglas me disse baixinho: - "A Flávia teve exatamente o parto que ela queria"!
A mãe dela me pediu que passasse a noite lá porque ela tinha ficado nervosa demais e ainda não tinha conseguido se acalmar. Mas já tinha aceitado que havia sido um imprevisto.
Ficamos Flávia, Maria Clara e eu. Até meia noite estávamos completamente acordadas, e foi bem depois que a emoção começou a dar lugar ao cansaço. Me lembro de que bem perto de amanhecer a enfermeira da noite entrou, verificou o bem estar da Flávia e da bebê, e eu percebi tudo mas não consegui levantar. Elas ficaram falando baixinho para me deixar dormir. Vê se isso é acompanhante que se apresente! rsrsrsr
Quando o dia amanheceu a mãe dela logo chegou para trocar comigo, e o Douglas também entrou pq bem cedinho tem um horário para os pais. Ambos estavam muito sorridentes, e nesse ponto a mãe dela já me abraçou e agradeceu.
Prá mim foi uma honra. Mais uma história inesquecível de parto feliz.
Flávia e Douglas, obrigada por terem me chamado para esta festa! E que festa heim? Daquelas que a gente acha que vai ter um bolinho com guaraná e de repente vira uma festona com música ao vivo, e tudo do bom e do melhor! Que eu saiba foi o primeiro parto na água na maternidade de São Carlos.
Maria Clara, minha linda, desculpe pela água fria! Mas algo me diz que vc gosta taaaanto de água que tanto faz se está fria ou quentinha, basta que dê para bater os pézinhos!
Maria Clara, minha linda, desculpe pela água fria! Mas algo me diz que vc gosta taaaanto de água que tanto faz se está fria ou quentinha, basta que dê para bater os pézinhos!
Bom... aí no banho de balde já não está dando para bater os pézinhos, mas tendo água já está bom! Rsrsrsrs
Beijoooooooooooos,
Vânia C. R. Bezerra
emocionada de novo por lembrar de tudo!
Em tempo: obrigada Jamile por ter me chamado, e obrigada à você e à Carla pela felicidade tão intensa que só os profissionais que confiam na capacidade das mulheres podem demonstrar. Parir é natural! E saber "obstar" é para bem poucos. Felizmente não tão poucos assim!
Lindo ler os relatos de vocês...em especial este com fotinhos!
ResponderExcluirBjs e parabens pelo trabalho...
Amei este relato. Achei lindo. Parabéns pelo seu trabalho, Vânia.
ResponderExcluirUm beijo