Quem sou eu

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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou Doula e Psicóloga. Atendo em consultório na Vila Prado em São Carlos SP. Formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Sou doula e psicóloga. Atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Michele, Tiago e Gabriela

Madrugada Intensa - novembro de 2009

Eu e Frê continuávamos trabalhando juntas, mas decidimos que nem sempre seria preciso fazer todos os atendimentos juntas. Então, eu fazia a preparação para o parto com algumas gestantes e ela com outras, e no dia do parto poderíamos ficar juntas ou revezar se fosse preciso. Nesta doulagem o esquema novo se mostrou muito útil.

De madrugada, como na maioria das vezes, meu telefone tocou. Era a Michele dizendo assim:




- Oi Vânia, eu sou a Michele, não sei se você sabe quem eu sou, eu fiz a preparação com a Frê, só que eu estou tentando falar com ela e não estou conseguindo... eu já ia ligar para a Dra Carla, mas resolvi ligar para você antes...




   (Alguns relatos à frente vocês vão ver um casal que tentou falar comigo e não conseguiu e ligou para a Frê. Essas coisas podem acontecer e é ótimo quando o casal mantém seu centro e procura um norte! Os dois casais se saíram muito bem!)

Continuando:

Eu: - Eu sei quem vc é! Eu e Frê estamos sempre em contato conversando sobre as moças que estão perto de entrar em TP. Eu só não sei chegar na sua casa...

Peguei o endereço, conversei mais um pouco sobre os intervalos das contrações, se tinha rompido a bolsa, se a neném estava mexendo... tuuudo tranquilizador.

Então peguei minhas coisas, acordei meu marido, sempre pronto a ajudar, e fui buscar a Frê na casa da sogra dela. Pois é: a Frê tinha se mudado havia pouquíssimo tempo, e a sala da casa nova tinha apresentado um problemão no piso. Então, ela teve que se mudar para a casa da sogra por uma semana, para a construtora trocar o piso e pintar a sala novamente. Por isso no tel. fixo não tinha ninguém, e o celular bem naquela noite deu um probleminha. O mesmíssimo problema que aconteceu comigo algum tempo depois!

Plena madrugada e eu tocando campainha na casa da sogra da Frê! Olha a situação!

Toquei um monte de vezes e estava quase desistindo quando o sogro dela abriu a janela. Falei que precisava falar com ela, e dois segundos depois ela apareceu na janela! Caramba, que rapidez! Expliquei que a Michele estava em TP, que tinha tentado falar com ela, etc... em cinco minutos estávamos à caminho. Raul (meu marido), Danilo (marido da Frê) e companhia ltda. voltaram a dormir.

Sempre fico imaginando quantas doulas estarão acordando na mesma madrugada... é uma delícia saber que a mesma energia está em movimento em muitos lugares.

Chegamos na casa da Michele, Tiago nos recebeu, e ela nos aguardava na sala. Estava bem calma, muito sorridente, contrações um pouco espaçadas, durando pouco tempo. Fizemos o chá de canela, ficou aquele cheiro bom na casa! Logo depois as contrações regularam e ficaram um pouco mais fortes. Ela nos contou que tinha ido a um velório e como estava muito vazio ela tinha ficado sem jeito de sair... só foi para casa às duas da manhã, e antes que tivesse se deitado as contrações começaram. Prá complicar mais ainda, na noite anterior ela já tinha dormido pouco e mal.

Quando amanheceu o dia as contrações já estavam beeeem fortes, e ela se queixava de dor nos olhos e dor nos pés, que estavam muito inchados. Fizemos um escalda pés, depois ela tentou relaxar na poltrona de amamentação durante os intervalos, mas não dava muito resultado. Ela passou a verbalizar muito alto, e as contrações pareciam muito fortes e próximas. Mais uma vez, achei que por ela morar muito longe seria perigoso esperar muito mais e o trajeto ser muito sofrido até a maternidade.

Essa foi a primeira vez que errei feio. Na maternidade, quem entrou para acompanhar o exame inicial foi a Frê, e algum tempo depois ela saiu no corredor e fez sinal para mim que a dilatação estava em dois cm e que a Carla tinha orientado a voltarmos para casa, claro, com toda razão. Esperei um pouco e nada delas saírem. Pedi à recepcionista que me deixasse ir ao banheiro (o que eu estava mesmo precisando), mas minha intenção era ajudar a resgatar a moça da decepção que ela deveria estar sentindo. Fui até ela, abracei e disse:

- Me perdoa por eu ter errado a hora de vir para a maternidade? Vamos voltar para casa, nós vamos te ajudar. Vai dar tudo certo...

E fui pegando ela e fazendo ela andar em direção à saída. Tem horas que a gente não só tem que jogar a corda mas também tem que fazer toda a força para tirar alguém que "está se afogando". Como eu tinha responsabilidade por ela estar lá, também peguei para mim a responsabilidade de tirá-la de lá. Graças a Deus, deu certo.

Voltamos todos para a casa dela, agora também com a mãe dela, o que foi muito bom.

Pãozinho quentinho, café, bolachinhas...

Fizemos mais escalda pés, ela ficou bastante tempo em baixo do chuveiro com o marido ajudando, andamos no quintal, colocamos músicas de conforto e fé. Ela tinha recuperado totalmente o controle sobre a dor. Mas começou a vomitar muito. Nada parava no estômago: nem água nem comida, e ela começou a queixar-se de fraqueza.

Tinha uma consulta de pré-natal marcada para as duas da tarde, e achei uma boa idéia irmos até lá para conversar com a Carla. Falei que se a dilatação estivesse em 6 ou mais ela já poderia entrar na banheira, e alguma coisa poderia ser feita em relação à fraqueza que ela estava sentindo.

A essa altura a Frê tinha saído para ir levar as filhas à escola, almoçar, e atender um paciente que vinha de outra cidade e que ela não tinha conseguido desmarcar. Depois disso ficaria à postos para revezar comigo se fosse necessário.

Então, fomos à consulta. Ela estava com contrações próximas e quando entramos no Centro Médico as pessoas "abriam alas" para que ela passasse, e o porteiro veio nos ajudar a passar na frente da fila do elevador. Eu sempre acho que as pessoas deveriam estar mais acostumadas a ver mulheres em TP... rsrsrs... mas a reação é quase sempre como se estivesse passando uma vítima de furacão! O que me traz de volta à realidade: estamos num país cesarista.

Chegamos cedo, antes da Carla, e a secretária nos deixou esperar na sala de consultas. Quando a Carla chegou, conversamos, expliquei que a moça estava há algum tempo fazendo vômitos ainda que não tivesse comido nada, e a dor também já estava num ponto que a banheira poderia ajudar muito. No exame a dilatação estava de 5 para 6cm, e quando a Carla perguntou para a moça o que ela queria fazer, ela respondeu:

- "Não quero ter que voltar prá casa"!

Então, todos de acordo, fomos para a maternidade, com receita de medicação para cortar os vômitos e intenção de colocar a banheira para encher. E assim foi feito.

Quando a Frê chegou, Michele tinha acabado de entrar na banheira, e eu já estava precisando sair por que naquele dia era a minha palestra no curso de gestantes da Unimed. Graças a isso não tivemos problemas quanto a eu sair e a Frê entrar, mesmo não sendo o horário estipulado pela maternidade para troca de acompanhante. Fui para casa com tempo de descansar duas horinhas antes de voltar para a palestra, às 19h30. (Fui palestrante voluntária na Unimed por dois anos, e atualmente não sou mais chamada, o que devo dizer que veio a calhar porque era mais uma preocupação de estar atendendo um parto e ter que sair para dar a palestra, ou faltar ao compromisso e deixar o pessoal todo sem palestrante. Nesse parto que estou relatando agora foi a única vez que eu saí durante a doulagem, e eu não gostei nada de ter feito isso).

Enfim, a Frê ficou com a Michele até as três da madrugada, quando a dilatação já estava em 8cm, mas a moça simplesmente não aguentou mais, por puro cansaço, dor nas pernas, nos pés e nos olhos. Pediu cesárea.



E aí está a Gabriela, sendo mostrada para a vovó e para o papai.

Depois disso passei a recomendar veementemente para as gestantes que acompanho, que final de gestação não é hora para ser politicamente correto. Também não é hora de ir a shows de rock em que você tenha que ficar de pé. Enfim, é preciso preservar as horas de sono, porque se calhar de você entrar em TP na mesma noite, você pode não aguentar o cansaço, o sono, a dor nos pés...

E como disse o marido de outra "adoulada": é trabalho de parto e não "férias" de parto. Boa disposição pode ajudar muito, e nesse caso fez falta.

No entanto: vejam, o pedido foi por cansaço, mas à favor da Michele devemos lembrar que a bebê estava na posição "invertida" (olhando para a frente, com as costas alinhadas com a coluna da mãe), posição em que o parto natural costuma demorar mais. Provavelmente se a bebê estivesse na posição que facilita o parto, (olhando para trás, com as costas voltadas para a barriga da mãe) ela teria nascido e o cansaço não teria feito taaaaanta diferença. A bebê também estava com duas voltas de cordão no pescoço, mas isso não deve ter sido determinante na demora. Mais ou menos quarenta por cento dos bebês que nascem de parto natural têm voltas de cordão no pescoço e nascem muito bem.

Enfim, a menininha nasceu no dia que ela escolheu para nascer, recebeu as ondas de contração sobre seu corpinho, e não foi simplesmente arrancada de lá com hora marcada, para a comodidade de todos. Bebês não vêem para esse mundo para não incomodar sabe? Quem não quiser ser incomodado é melhor não ter filhos. O mínimo de respeito que devemos a eles é deixá-los nascer no dia que quiserem, a não ser nos poucos casos em que realmente há necessidade de interromper a gestação.

Pois esse respeito essa moça teve. Ela tentou. E tenho certeza que só não conseguiu por estar muito cansada. Não tenho a menor dúvida que ela teria conseguido se as noites de sono tivessem sido boas.

Michele, obrigada por ter confiado em mim, por ter me chamado e por ter compartilhado comigo este momento glorioso em que você aumentou sua família.

                 


        Tiago, sua calma e tranquilidade foram decisivas para que Michele e Gabriela pudessem sentir que era hora de se separarem e você estaria ali do lado para apoiá-las na hora do re-encontro.






 Gabriela, que sua vida seja linda, cheia de noites bem dormidas, assim como de madrugadas intensas! (Vou te contar um segredinho; minha vida é lotada de madrugadas intensas e eu amo muito tudo isso!)




 

Um grande beijo,

Vânia C. R. Bezerra.

2 comentários:

  1. Só mais uma coisinha: sobre o porteiro ter passado a gente na frente da fila do elevador. Ele era o único que não estava com cara de dó. Ele foi atencioso na medida certa. As outras pessoas apesar de estarem com aquela cara de "meu Deus pq não fazem logo uma cesárea"? abriram alas até nós nós estarmos na fila, mas uma vez nela, não fizeram menção de deixá-la passar na frente! Então ele veio, ficou na frente da porta e nos fez entrar primeiro. Com muita tranqüilidade. Foi ótimo pq a poupou de ficar sob olhares de pena. Mulheres em TP precisam de ajdua confiante, e foi o que ele fez. Amém.

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  2. Vânia, apesar de todo contra tempo, que saudades desse dia... minha princesinha já fez uma ano (19/11)... Feliz por você estar feliz com sua mudança pro Amazonas, que Deu te acompanhe e ilumine... quem sabe por lá vc continua este trabalho tão bonito. Bjs, Mi e Gabi

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