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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

sábado, 18 de junho de 2011

Liriane, Valter e Arthur – 11/06/10

Liriane me contratou quando ainda tínhamos bastante tempo para a preparação, ainda bem! Enquanto algumas me procuram já com mais de 38 semanas, outras me procuram logo no começo da gestação e eu tenho que pedir para esperarem um pouco mais, peço que frequentem as reuniões do GAPN... Liriane acertou, me contratou na hora certa, e assim fizemos a preparação bem tranquilamente. Ela morava num bairro muito gostoso, não muito longe da maternidade onde pretendia ter o bebê, e eu gostava muito das tardes que passava na casa dela, vendo filmes e conversando sobre partos, e também falando sobre receitas vegetarianas, com cappuccinos cremosos para rebater o frio.

Ela estava às voltas com uma preparação para prestar um concurso, continuava dando suas aulas na faculdade, fazendo hidroginástica e yoga para gestantes, e ainda bordava o enxoval do bebê. Um verdadeiro poço de energia, e energia boa!

O que anotei de diferente no caso da Liriane: “ela acha que o bebê está sempre uma semana a mais do que o ultrassom diz”.

Conheci o Valter no dia em que fizemos o plano de parto. Digo fizemos, incluindo-me no processo, porque eu explicava ponto por ponto do trabalho de parto e ia anotando as preferências de cada casal que me contratava para acompanhá-los no dia P.

Fizemos uma oficina de parto quando ela já estava com quase 39 semanas (segundo o ultrassom), e quando eu disse algo como: “então nos vemos na oficina se até lá ainda não tiver nascido”, ela respondeu: “tenho certeza que só nasce depois da oficina”.

Também conversamos sobre as provas do concurso que seriam no fds em Ribeirão Preto, como seria viajar de volta caso rompesse a bolsa e/ou começassem as contrações... tudo bem combinado entre nós.

Fizemos a oficina em uma quinta à noite, e na sexta de manhã ela me ligou dizendo assim:
- “Ai Vânia, meu concurso... a bolsa rompeu...”

E eu, bem palhaça, respondi:

- Bem que você falou que nasceria depois da oficina! Rsrsrsr Bom, melhor assim do que você ir no primeiro dia e entrar em TP no segundo dia de provas...

As coisas estavam só começando, ficamos então aguardando que as contrações começassem. Estava um dia muito frio. Chamara-me no início da noite, meu marido me levou até lá, desejou boa sorte quando o Valter veio abrir o portão e foi embora.

Liriane estava na sala, calma, sorridente. Entre as contrações foi me contando como tinha passado o dia na companhia do chazinho de canela, a empregada estranhando ela não ir para a maternidade estando já com a bolsa rota...

Enquanto estávamos ali eu inflei minha bola suíça, e logo depois a Liriane passou a utilizá-la, sentindo-se melhor sentada na bola durante as contrações, e ali ficou durante algum tempo. As contrações já ficando mais fortes e bem mais próximas. Mesmo assim ela insistiu que eu fosse comer alguma coisa, depois o Valter, e ela aceitou um ou dois sachês de mel que tinham sido comprados especialmente para esta ocasião, tomou uns golinhos de gatorade e mordiscou umas bolachinhas. Eu lembro do Valter também se utilizando dos sachezinhos de mel como sobremesa! Rsrsr

Pouco depois as contrações ficaram beeeem fortes, Liriane manifestou dor intensa, então fiz massagens e coloquei a bolsa de água quente. Ela mudou de posição, quis sair da bola, ajoelhou-se no chão e reclinou o corpo apoiando-se no sofá, e a contração foi looooooonga. Logo depois outra, looooooonga, com muita dor. Então achei que já era hora de ir para a maternidade. Começamos a colocar as coisas no carro e depois fomos devagar até a maternidade. Chegando lá entrei com ela enquanto o marido ficou preenchendo a ficha, e quando a enfermeira plantonista veio atendê-la, avisei que a bolsa estava rota. Ela então não fez um exame de toque e sim colocou o espéculo e olhou a dilatação. Isso foi muito dolorido, como sempre é para mulheres em trabalho de parto que precisam se deitar para o exame... aí a enfermeira me chamou lá fora, e disse:
- “Vânia, eu não sei nem como dizer... ela está no máximo com 1cm de dilatação, é melhor vcs voltarem para casa”.

Ok. Voltei para a sala de exame e falei com eles, pois o Valter já tinha entrado. Eu disse a eles que a dilatação estava menos de 4, então... pedi desculpas e expliquei que era melhor voltar para casa.

Infelizmente um erro destes tem um custo emocional muito alto. Ir para a maternidade gera incomodo, o exame foi muito dolorido... então na volta ela disse que se toda essa dor que já tinha passado não tinha dilatado nem 4 ainda, será que conseguiria aguentar?

Fui apoiando, incentivando, chegamos de volta à casa dela, e ela foi direto para o banho quente, enquanto eu e Valter tiramos algumas coisas do carro, incluindo o aquecedor, que tinha sido levado para a maternidade e trazido de volta. Ele ligou o aquecedor e eu fui ver como ela estava lá no chuveiro, logo ele chegou e ficamos ali, água quente caindo nas costas, muita dor, contrações longas...

Senti um cheiro estranho. Parecido com querosene. Sai no corredor e o cheiro estava mais intenso, fui até a sala e vi fumaça. Era o aquecedor, praticamente pegando fogo. Puxei o fio da tomada e fui chamar o Valter, ele foi até lá e conseguiu, não sei como, pegar o aquecedor e levar para fora. Abriu todas as portas e janelas para a fumaça sair, e nós fechamos a porta da suíte para ficarmos mais protegidos do frio.

Acho que conseguimos ficar em casa mais uma hora e meia, mas os alívios não farmacológicos disponíveis não estavam sendo suficientes e Liriane deixou claro que não estava mais aguentando, queria cesárea. Conversamos um pouco até eu ter certeza, e a decisão estava mesmo tomada.

Então enquanto Valter a ajudou a se preparar para voltar para a maternidade eu liguei para a Dra Carla e expliquei:

- “Carla, o nível de dor que ela sente é muito alto, eu pensei que a dilatação estaria avançada, nós fomos até a maternidade e ela estava com 1 cm de dilatação! Voltamos para casa mas agora ela não está mais aguentando”...

Quando desliguei o telefone e voltei para a sala a Liriane disse:
- “1cm?!!! Se você tivesse falado eu tinha pedido a cesárea naquela hora!”
Pois é... tentei ajudar, mas de bem intencionados...

Então fomos indo para a maternidade, e como sempre acontece quando se toma a decisão pela cesárea, as dores parecem ficar ainda mais intensas. É como se a dor perdesse todo o sentido, pois se não vai nascer por baixo... fica bem mais difícil de suportá-las. Quando estávamos quase chegando na maternidade ela pediu que o Valter parasse o carro porque ela estava com ânsia. Abriu a porta para vomitar e eu desci do outro lado para ajudar, fui até ela, segurei o cabelo, tentei proteger o vestido mas não consegui... quando ela melhorou eu quis dar a volta correndo no carro e levei um baita tombo. Torci o pé com tanta força que pensei que tinha quebrado o tornozelo. Imaginei toda a cena deles tendo que seguir sozinhos até a maternidade e eu ficando ali sentada na calçada esperando o resgate! Rsrsrsr... (quanto exagero!) Então me obriguei a levantar e consegui entrar no carro e fechar a porta. Só faltava dar a volta no quarteirão para chegar à maternidade.

Quando chegamos eu consegui colocar o pé no chão e apoiar o peso nele, então tive certeza que não tinha quebrado apesar da BAITA dor que eu estava sentindo. Lembrei do episódio do Friends que tem o parto da Rachel... uma cena em que o Ross bate a cabeça e diz olhando para ela: “você não tem idéia de como isso tá doendo!” enquanto ela está tendo uma contração.  rsrsr

Entrei com a Liriane na maternidade, a Dra Carla já estava ali pelo corredor, e perguntou se ela aceitava mais um exame de toque, só para ter certeza de que não estava próximo de nascer...

Liriane abraçou a Carla e falou que estava com vergonha, mas não estava aguentando... pediu desculpas pelo vestido sujo...  chorei também!

Conversamos nós 3, mais o Valter que logo chegou, o exame foi feito e ela estava com 4cm. Eu achei até uma evolução boa: 3cm em uma hora e meia... mas ela não aguentava mais.

Então ela foi para a cesárea, e eu fui junto para fotografar. 



A cesárea foi tranquila, anestesista bom, logo Liriane pode ver a carinha do Arthur. Lindo! E nasceu com a cabecinha comprida, típica do bebês que nascem de parto normal.














Valter teve autorização para ficar na janelinha, e depois de concluída a cirurgia ele entrou também. (Nós dois pagamos a taxinha de paramentação).

Arthur recebeu as ondas de ocitocina, escolheu o dia do seu nascimento e foi recebido com amor. Depois do nascimento Dra Carla e a pediatra comentaram que quando crescesse ele só ganharia um presente pelo aniversário e dia dos namorados. Mas alguém disse que não: quem dá só um presente são os homens. A mulheres são bem capazes de dar 3 presentes! Rsrsrsr
Fiquei com ela até estarem no quarto, acho que o Valter foi até em casa buscar alguma coisa e eu fiquei até ele estar de volta. Arthur logo foi trazido e amamentado, Liriane sorridente, apesar do cansaço. Até se lembrou de me pedir que escrevesse algo no livro de visitas que ela tinha preparado. E conversamos um pouco sobre religião, posto que compartilhamos o modo de entender a espiritualidade.

Quando o Valter chegou de volta fez questão de me levar para casa, apesar d’eu insistir que não era necessário... e se me lembro bem, depois ele teve dificuldade para conseguir entrar novamente na maternidade.

Quando fui à visita pós parto, Liriane me recebeu tranquila. Comentou que seu maior medo era o que realmente aconteceu – ir cedo demais para a maternidade. Mas quanto a isso assumo totalmente a responsabilidade. Sem fazer exame de toque eu tenho que me basear no ritmo e duração das contrações, intensidade da dor e comportamento da mulher. Tudo me levou a crer que ela estaria com dilatação avançada... mas errei. E ela me perdoou.

Contou dando muita risada do dia em que foi levar o Arthur para fazer o exame do ouvidinho, de que desceu do carro toda atrapalhada, carregando o bebê, a bolsa dela, a bolsa dele, e tentando cobri-lo com a mantinha porque estava frio. Aí entrou no consultório com tudo meio despencando, descabelada pelo vento, e viu todas aquelas mães arrumadinhas, parecendo comercial de margarina... haaaaaaaaaaaahahahah Para conseguir ficar arrumadinha numa situação dessas só com muita prática, talvez no quarto ou quinto filho! Só de conseguir descer do carro e carregar isso tudo menos de 10 dias após uma cirurgia abdominal, prá mim Liriane já merecia o prêmio “mãe do ano”!

Liriane, espero que tenha gostado das lembranças. Sei que não teve o final que você esperava, mas como você mesma disse na época: preparação física tinha, não engordou demais, tinha doula, foi à oficina de parto, estava com a melhor médica da cidade... o que mais poderia ter feito?! Limiar de dor não muda. A única coisa que poderia ter feito diferença seria ter a anestesia peridural disponível, mas infelizmente São Carlos ainda não chegou neste nível de excelência. Você foi grande o quanto pode. Ficou em casa tranquila, aguardou o início das contrações, e aguentou bastante. Tudo que posso dizer é que te admiro muito.

A você e sua família, obrigada por terem me chamado.  Eu adorei fazer parte desta história.

Valter, parabéns pelo companheirismo demostrado durante o TP. 
Vocês foram um casal lindo de se ver.


Arthur, bem vindo a esse lindo mundo. 
Que sua vida seja cheia de boas emoções.



Um grande beijo,
Vânia Doula.

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