Quem sou eu

Minha foto
São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sem hora marcada



                                            Março de 2010

Lembro-me bem do dia em que conheci o casal. Foi no mesmo lindo dia em que inauguramos o Grupo de Apoio ao Parto Natural (GAPN) de São Carlos.  Sala lotada, nós, profissionais do grupo nos apresentamos, e eu, como em todas as reuniões seguintes, falei que ali não haveria destaque para os “achismos”: exemplo: “eu acho que o parto natural é mais seguro”.  Aqui se fala em evidências científicas: parto normal É mais seguro. Dra Carla falou sobre a Biblioteca Cochrane, melhor fonte de evidências sobre a assistência à gestação, parto e pós-parto.


Então solicitamos aos casais que se apresentassem e falassem um pouco sobre o que os levara até ali. Quando chegou a vez deste casal se apresentar o entusiasmo deles era enorme. Os olhos de ambos brilhavam de felicidade: era o prazer de encontrar assistência que não trata os leigos em medicina como se fossem completos ignorantes a respeito de tudo na vida...

Continuaram freqüentando assiduamente as reuniões quinzenais do GAPN e me contrataram para doulá-los. Fui à casa deles pela primeira vez no dia 03/02. Nessas reuniões assistimos filmes e falamos sobre parto. Eles foram à oficina de parto que fiz em parceira com a Katrina, no Espaço Shanti, onde ela dá aulas de yoga, inclusive para gestantes. Foi uma oficina muito boa. Fizemos uma dança circular no final, e foi lindo! Isso foi no dia 25/02.

E ficamos então aguardando o início do trabalho de parto. A moça completou  40 semanas... bem tranqüila... 41 semanas...  bem tranqüila... e com 41s2d me ligou dizendo que a bolsa havia rompido, bem no final de uma sessão de drenagem linfática. Ela percebeu que era a bolsa , mas disfarçou e saiu calmamente da clínica... e estava muito feliz a telefone...  As contrações ainda não tinham iniciado e o líquido estava um pouquinho verde, mas isso não nos preocupou. Só um pouquinho verde numa gestação com mais de 41 semanas, movimentação fetal normal, pela minha cartilha não há motivo para pânico. Só não pode ficar muito verde, e a movimentação não pode diminuir. Conclusão óbvia: estando tudo bem está tudo bem!

Bom... Dra Carla não estava na cidade por conta de um falecimento na família do marido dela. Estava no velório, em outra cidade. Então a moça ligou para o Dr. Rogério porque achou que não estava tããããããão pouquinho verde assim...  e ele pediu que ela fosse à maternidade para uma avaliação. Lá resolveram que ficariam internados e se as contrações não começassem em 12 horas dariam início à indução química do parto. Mas as contrações tiveram início espontaneamente e tudo caminhava bem. Ficaram internados para monitorar o bem estar fetal, e quiseram que eu já fosse ficar com eles. 

Eu estava na reunião do GAPN, e assim que terminou meu marido me levou até a maternidade.  Chegando lá os encontrei instalados no apartamento bem em frente ao postinho de enfermagem. Fiquei com eles por duas horas e as contrações estavam bem espaçadas e durando pouco, a fase que chamamos de pródromos. 

Conversei e expliquei que se eu ficasse lá, quando ela estivesse na fase ativa, realmente precisando da minha ajuda, aí eu estaria muito cansada... assim, concordaram que eu fosse embora. Deixei meus “apetrechos doulísticos”, chamei um táxi e fui para casa descansar. Era pouco mais de meia noite. Às 4 da manhã o marido dela me ligou dizendo que agora as contrações estavam mais próximas e doloridas e ela já queria que eu fosse ajudar. Então voltei. E os encontrei bem, as contrações estavam de 5 em 5 minutos mas bem ritmadas. Daí a algum tempo se completaram as 12 horas desde a ruptura da bolsa e ainda não haviam chegado na fase ativa do parto, então o soro foi instalado pois era isso que tinha sido combinado.

O Dr Rogério deu uma passadinha para ver como estavam indo... e eu aproveitei para dizer... que estava me sentindo gripada! Estava pensando em chamar a outra doula para me substituir pq se eu ficasse lá teria que doular de longe... A moça preferiu que eu ficasse, mesmo sendo de longe. Dr Rogério concordou e aconselhou que eu colocasse uma máscara, a enfermeira trouxe prá mim, e assim eu fiz. Fiquei o resto do tempo de máscara e sem tocar na moça. Apoiando com falas de incentivo e orientando o marido nas massagens.

Antes mesmo que houvesse tempo do soro ser instalado a moça referia muita dor. Lembro bem do marido dizer algo como:
- “Então aquela dor que ela estava sentindo às 10 da noite ainda não era nada comparado à real dor de parto, que é o que ela está sentindo agora”...

Não sou a favor de mentiras, muito menos quando elas são gigantescas... exemplo: dizer à mulher que ela está com 8cm de dilatação quando na verdade está com 3. Se a pessoa que recebe a informação fica com a expectativa de que está “quase terminando” e  5 horas depois o bebê ainda não nasceu, logo começam a achar que algo está muito errado... a adrenalina faz seu estrago de uma forma ou de outra... então não seria eu a mentir ou sonegar informações para eles.

Respondi com toda a calma e doçura que me são possíveis: “não... ela ainda não está na fase ativa do parto, a sensação dolorosa ainda pode aumentar bastante... é preciso firmar o pensamento de que é uma contração de cada vez, que vai passar e vai trazer o bebê para mais perto do lado de cá”...

O olhar dele demonstrou dúvida por alguns segundos... mas a firmeza voltou, e assim continuamos... uma contração de cada vez... uma contração de cada vez... o marido dela e eu dando todo o apoio possível, a moça indo muito bem, o soro fazendo bem o seu papel e as contrações foram se aproximando, tornando-se um pouco mais intensas... e o líquido amniótico se apresentou mais verde. A enfermeira plantonista ligou para o Dr Rogério e ele solicitou um cardiotocograma, e durante o exame houve uma queda de batimentos cardíacos fetais (BCFs), com recuperação espontânea. Dr Rogério veio falar com o casal e me lembro tão bem quanto se tivesse sido ontem. Ele explicou ao casal que o resultado do exame não estava exatamente tranquilizador, mas que também não estava ruim a ponto de ser indicativo de cesárea. Poderiam aguardar mais algumas horas...

Acontece que neste ponto a moça tinha ficado muito preocupada. O exame não ser 100% tranquilizador bastava. Ela disse: "eu não esperei tanto para agora insistir no parto normal apesar do exame não estar 100% tranquilizador. Eu quero cesárea”.

Isso é co-responsabilidade. De posse de informações verdadeiras, médico e casal decidiram juntos.

Dr. Rogério concordou tranquilamente e saiu para chamar a equipe. E aí vivemos mais uma vez a tristeza de não poder escolher o anestesista e ter que aceitar qualquer porcaria que aparecesse. (desculpem a sinceridade). E infelizmente foi isso mesmo que aconteceu. O pior de todos (na minha opinião) era o plantonista naquele dia.  Poderia ter sido uma cesárea tranquila... mas nem isso foi possível. E a moça sofreu muito com a cefaleia pós-raqui. Muito mesmo!

Visitei-os alguns dias depois, e os encontrei muito felizes, apesar dela ainda estar tomando analgésicos para as cefaléias intensas que ainda não tinham ido embora... eles estavam felizes pelo milagre da vida. Seu filho muito amado havia finalmente chegado em casa. 

Ao casal: muito muito muito obrigada por terem me concedido a honra de acompanhá-los neste dia. Um grande beijo!

Vânia Doula.

Que fica feliz pela cesárea não ter sido com hora marcada. O bebê nasceu no dia que ele indicou que era o dia. Isso é nascimento com respeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário