Denise e eu trocamos vários e-mails antes do nos encontrarmos. Ela vinha de uma cidade vizinha para as consultas de pré-natal e um dia conseguiu marcar tudo no mesmo dia: a consulta, o encontro comigo e logo depois a reunião do grupo de apoio ao parto natural (GAPN). Marcamos o encontro em um bar noturno que fica a poucos metros do local da reunião, e ficamos ali conversando e trocando informações até nos encaminharmos para o encontro. Combinamos então que faríamos a preparação em um só encontro.
Em um sábado eu fui até a cidade deles e ficamos por algumas horas conversando bastante, falando sobre o plano de parto, os medos, a confiança, etc. Ficou combinado que para não pegarem estrada com contrações muito próximas eles viriam a São Carlos e aguardariam a evolução do TP em algum hotel.
No dia em que a Laura deu sinal de que estava pronta para nascer a Denise me ligou às 4 da manhã e avisou que a bolsa tinha rompido e o líquido parecia rosa. É comum o líquido amniótico trazer junto um pouquinho de sangue que estava no caminho, provavelmente decorrente de dilatação do colo do útero. Então, se não está verde e grosso (tipo papa de ervilha), e se não está sangrando muito, não há razão para preocupações. A recomendação é: tente descansar porque depois você vai precisar. Ligue a televisão em um programa bem monótono, tipo jogo de futebol... rsrsrs... que isso vai te ajudar a pegar no sono. Mas na maioria das vezes a excitação de perceber que o TP vai começar dentro em breve acaba com o sono...
Às 7 da manhã as contrações tinham firmado o ritmo de 10 em 10 minutos e eles resolveram vir para São Carlos. Por uma infeliz coincidência as universidades da cidade estavam recebendo eventos neste dia e eles tiveram dificuldade de encontrar vaga. Finalmente encontraram em um apart localizado próximo à USP, portanto próximo também da maternidade, então passaram o dia tranquilos, mas com um porém: aquela última vaga estava reservada para o final do dia, então teriam que deixar o hotel perto das 7 da noite, tivesse o TP engrenado ou não.
Durante a manha a Denise achou que fazia tempo que não sentia a bebê se mexer e diante da dúvida é melhor verificar. Então foram até a maternidade e a enfermeira de plantão foi muito atenciosa e fez o tococardiograma, que mostrou estar tudo bem, então voltaram para o hotel.
Chamaram-me ao meio dia, quando as contrações estavam ficando mais fortes e mais próximas, já de 5 em 5 minutos. Passei a tarde com eles, e Denise manteve-se ativa, tomou banhos para relaxar, ficou na bola, aceitou a bolsa de água quente nas costas, massagens, enfim... e as contrações foram aos poucos ficando mais próximas, mais fortes e durando mais. Felizmente quando estava se aproximando o momento em que teríamos que deixar o hotel as contrações estavam já bem próximas, então isso não chegou a ser problema.
Na maternidade eles foram muito bem recebidos e o exame constatou que a dilatação já estava avançada. A banheira foi colocada para encher, e todos continuamos a incentivá-la. Apesar do cansaço, Denise continuava no controle da situação, e com seu marido ali presente e dando força.
A dilatação se completou e passamos a aguardar que Laura descesse no canal de parto... e o tempo foi passando, e a bebê continuava no mesmo lugar.
Denise mudou de posição várias vezes, descansava entre as contrações, aceitava golinhos de água, mas o cansaço foi chegando.
Após conversarem bastante decidiram-se pela cesárea, e assim foi feito. Não é uma decisão fácil, requer tempo... por isso eu fico muito brava quando o médico chega, faz um exame de toque e sem mal olhar para a moça ou para o marido, se vira para a enfermeira e ordena que preparem a cesárea. Deusmelivre de ver essa cena mais vezes... graças a Deus, esse não foi o caso, nem de longe! Tivemos tempo para ir aceitando que talvez a cesárea fosse necessária, e sim, eu me incluo nisso porque quando vou doular eu estou ali inteira para o que der e vier, e quando há a necessidade de aceitar a cirurgia eu sofro junto com o casal. Se cesárea fosse uma coisa tranquila pra mim eu não seria doula.
No entanto é preciso lembrar: uma cesárea que não foi feita com hora marcada já inclui uma boa dose de respeito pela criança que não está sendo obrigada a vir para este lado na hora em que os adultos resolveram que era a melhor hora para eles. E como dissemos já há dois anos: cada contração vale a pena, cada minuto, cada hora passada em um trabalho de parto tranquilo vale a pena, porque inclusive a amamentação será muito facilitada, afinal é muito diferente de não estar acontecendo nada e entrar no bloco cirúrgico, de ter passado várias horas em TP, pois durante estas horas o corpo da mulher e o bebê estão se preparando para o pós-parto.
Laura nasceu no dia em que escolheu para isso: um lindo dia de primavera, uma noite bela, um casal em sintonia, um nascimento com respeito. Cada contração foi importante para que ela chegasse bem, e cada minuto esperado foi importante para fortalecer sua mãe. Assim, as duas juntas participaram de todo o processo que as uniria, e não simplesmente foram apresentadas sem que nenhuma das duas tivesse dado sinal de que estavam prontas para isso.
Sim, eu amo esta vida de doula, mesmo quando acaba em cesárea, porque não foi uma cesárea tola, foi uma cesárea bem vinda.
Com muito amor,
Vânia C. R. Bezerra
Nenhum comentário:
Postar um comentário