Quando ela estava ali pelos seis meses de gestação eu já passei a acompanhar gestantes somente com mais de 32 semanas, com 3 ou 4 reuniões para falarmos sobre parto e mais uma oficina de parto para uma revisão geral com prática do relaxamento e posições mais confortáveis.
Então, com a Tânia eu tive um contato mais prolongado, nos falamos muitas vezes por telefone e trocamos muitos e-mails também. Durante o segundo e terceiro trimestre da gestação da Laura, o Edson foi para a Europa (não me lembro para qual instituição) para fazer o doutorado. Ficar “sozinha” durante parte da gestação não foi fácil, mas Tânia foi se superando semana a semana.
Um dia me ligou nervosa porque tinha levado um tombo. O médico dela, Dr. Rogério não estava na cidade. Então liguei para a Dra Carla e avisei que a Tânia, paciente do Rogério, talvez ligasse para ela. Não haveria nenhum motivo para preocupação, não fosse pela impressão da Tânia de que a bebê estava se mexendo bem menos depois do tombo. Então ela foi até a maternidade para fazer um cardiocotograma, cujo resultado foi excelente, e Tânia voltou para casa mais tranquila.
Ela chegou a cogitar o parto domiciliar, falava muito de sua casa própria que estava quase pronta, e da mudança que ela faria com a ajuda da mãe e das irmãs, já nas últimas semanas de gestação.
Tânia também foi sozinha a uma oficina de parto, a cuja apostila o Edson recorreu quando chegou. Ele voltou quando ela completou 38 semanas, e então Laura podia escolher o dia que quisesse para nascer.
Passou mais uma semana...
E um grande estresse para o casal, que a poucos dias do parto, descobriu que o convênio tinha zerado as carências quando fizeram a migração de aluno de mestrado para doutorado (foi isso mesmo?), e então eles teriam que pagar pelo parto particular se quisessem escolher o médico. Seria isso ou aceitar se colocar na mão de um plantonista. E eu já tinha avisado nas reuniões do GAPN que não doularia pacientes do SUS novamente. Nunca mais, MESMO! Já falei que se tem médicos que não querem me ver nem pintada de ouro, o sentimento é reciproco, e eu me recuso a ligar o meu nome a qualquer um que se formou em obstetrícia e nunca mais estudou na vida. Pior... só estudam técnicas novas de cesárea, no esquema de quanto mais rápido melhor!
Bom... voltando ao assunto “parto com amor porque parto com respeito pela fisiologia feminina”.... Tânia e Edson decidiram pagar pelo direito de escolher e depois tentar reaver o dinheiro pelos caminhos legais. E voltamos a esperar que Laura ficasse com vontade de nascer. Enquanto isso o casal ia arrumando a casa nova e matando saudades.
Tânia me ligou às dez da noite do dia 14 para passar o endereço novo e dizer que estava com contrações de meia em meia hora mais ou menos. Não sentia dor, apenas o desconforto da barriga ficando muito dura.
Na sexta, dia 16, ligou à uma da tarde e disse que sentiu uma dor bem embaixo, como uma cólica, e quando foi ao banheiro saiu uma coisa verde. Ligou para o médico e um pouquinho mais tarde foi até a maternidade para que ele a avaliasse. Ele mesmo me ligou logo depois dizendo que era o tampão. Estava tudo bem e ela estava voltando para casa.
Laura quis nascer em um sábado. Tânia me ligou às 9 da noite e avisou que a bolsa tinha rompido e tinha saído muito líquido verde e também muito sangue (muito sangue pode ser sinal de problemas ou de dilatação avançada).
- “O que eu faço”?
Diante de que a bebê continuava se mexendo bastante eu disse a ela que não havia motivo para correria, mas que ligasse para o Dr Rogério. Por ela estar já com mais de 41 semanas poderia ser absolutamente normal, mas só o médico poderia dizer. Então ela ligou para ele, tomou um banho e foram para a maternidade. Fiquei pronta também, com tudo arrumado, a postos para sair a qualquer momento. Achei que estavam demorando muito para ligar e e então liguei para perguntar. O Edson me disse que ela estava terminando o tococardiograma e assim que o Dr Rogério falasse com eles, ele me ligaria.
Ligou pouco depois, dizendo que estavam entrando para a cesárea. O que aconteceu foi que as contrações de repente ficaram muito longas, muito fortes e muito próximas – um quadro que se não me engano é chamado de taquisistolia – e a dilatação estava ainda muito pequena. A Tânia não sentia nenhuma dor mas o aparelho marcava contrações fortíssimas, confirmadas pela observação de que a barriga ficava muito muito dura.
Então: mecônio espesso mais taquisistolia, se a dilatação estivesse quase completa já seria um quadro “não tranquilizador”. Com a dilatação pequena então, era “nada tranquilizador”. A decisão pela cesárea foi tomada sem demora. E Laurinha nasceu muito bem, contando com a presença do pai.
Visitei o casal poucos dias depois, na casa nova. Foi muito legal porque eu já tinha marcado com eles pouco antes, e estava indo prá lá quando a Tânia me ligou, perguntando se podia me esperar para juntas darmos um banho na Laura. Claro!
Laurinha chorava muito, tomou complemento depois da mamada por alguns dias e era difícil saber se chorava de fome ou de cólicas. Era uma bebê difícil de ser acalmada.
Quando cheguei a Tânia estava amamentando, e ficamos conversando, ela chorou um pouco. Tinha sonhado muito com seu parto, cogitou o parto domiciliar, o que mostra o grau de confiança que tinha adquirido na própria natureza. E então ter que lidar com a cesárea, ainda que necessária, pode ser muito doloroso. Então ficamos ali, trocando impressões... A cesárea existe e é muito bem vinda exatamente para estes casos, onde realmente há um motivo. Ainda levaria muitas horas para a Laura nascer de parto normal, e com o mecônio espesso e contrações muito fortes, longas e próximas... isso é esperado para o final do TP, não para o começo...
Laura terminou de mamar, o papai a colocou para arrotar, e depois demos o banho. Fazia já um tempinho que eu não dava um banho em um recém-nascido. O último tinha sido o Miguel, da Veruska, lá na maternidade! Parecia ter sido há muito muito tempo, quando os partos naturais ainda aconteciam dentro do Centro Cirúrgico... Dei o banhinho na Laura com aquele gostinho de saudade e de gratidão pelas mudanças que aconteciam e ainda acontecem em São Carlos... felizmente temos médicos que fazem cesáreas somente quando bem indicadas. E eu adoro o que eu faço!
Tiramos fotos, ajudei a limpar o umbigo, Laura mamou mais um pouquinho e dormiu. Então descemos para tomar chá. Os chás da casa da Tânia eram muito especiais! Delícia!
Conversamos bastante, e continuamos em contato depois. Tânia “digeriu” bem sua cesárea. A amamentação não foi fácil, assim como o fato da Laurinha não ser exatamente uma bebê calminha, e o Edson precisar voltar para terminar seu doutorado... tudo isso tornou o pós-cirúrgico mais conturbado. Mas Tânia foi descobrindo seus caminhos, abrindo suas trilhas, removendo as pedras... até que um dia o caminho se tornou mais tranquilo e as flores começaram a se abrir para ela!
Tânia, querida, muito obrigada por tudo! Você é uma vencedora, e tenho muita alegria por ter feito parte dessa história. Você, Edson e Laura formam uma linda família.
Lembranças à sua mãe e seu sobrinho.
Um graaaaande beijo e um abraço enorme.
Vânia Doula.
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Vâniaaaaaa
Saudadesssss
Já te falei ne variass vezes, vc é muitooooooo especial em nossas vidas....
Ficou o lindo o relato e lembra mesmo todos os detalhes...uallllll. Pode publicar claro, e colocar fotos, e colocar nossos nomes mesmo...assim que tiver no blog vc me avisa? So uma coisa, eu não tive nenhuma dor nada, para amamentar a laura mamou assim que nasceu, porem é igual vc disse mesmo, ela não ficava quieta pra mamar agitada e chorava muitooooooo.
Estou em ferias, assim que voltar vou te enviar fotos!
Beijo enorme
Tânia
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