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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Rosa e Rafael - estreando como mãe e pai.


Rosa entrou em contato comigo no dia 07 e sete dias depois já estava com o bebê nos braços.

Ela viria de Franca pra ter o bebê em São Carlos e ainda estava sem doula, com 37 semanas.

Trocamos algumas mensagens pelas redes sociais, Ela me contou que seria seu primeiro parto, e tinha buscado preparação lendo livros (Parto Ativo da Janet Balaskas), assistiu o filme "Renascimento do Parto", e uma preparação baseada no método Hypnobirthing, que envolve visualizações e exercícios de respiração. Fiquei bem contente e mais tranquila, ela estava fazendo sua parte.



Disse que no começo achou que não precisaria de doula, depois foi conversando com outras mulheres que tiveram parto natural, e se convenceu sobre a importância de estar acompanhada.











Doulas não são imprescindíveis, é fato! Mas que fazem uma enorme diferença, isso com certeza!




Tentamos marcar um dia para nos conhecermos antes do parto. Eles viriam para uma consulta no dia 19, mas ela já intuia que o bebê nasceria antes. E assim foi.


Domingo, dia 13, 8h15, eu já estava acordada e tomando café da manhã, o telefone tocou.

- "Oi Vânia, aqui é a Rosa, vc se lembra quem sou eu? ... então, estamos indo pra São Carlos, eu estou com dores, passei no hospital aqui de Franca, já estou com 2 dedos de dilatação, então já estamos pegando a estrada"...

Fiz algumas perguntas e por tudo me parecia cedo demais, ela estava muito calma, raciocínio claro... No entanto, era preciso considerar que pegariam duas horas de estrada. Perguntei sobre a força das contrações, e a resposta me convenceu que estavam fortes. Sendo assim não valia a pena esperar muito mais e depois ficar com a impressão de que poderia nascer antes de chegar no hospital. (A gente sempre tem essa impressão, a cada contração com a vocalização mais alta que a anterior, todos ficam com a impressão de que vai nasceeeeeeeeeeer!).




Então me coloquei de prontidão esperando que chegassem. Três horas depois não tinha noticias, liguei e não atenderam, Liguei nas duas maternidades e perguntei... ainda não tinham chegado. Fiquei matutando se teriam desistido de vir pra São Carlos.

Mas logo responderam as mensagens, tinham parado pra almoçar e estavam vindo com bastante calma. As contrações estavam ficando mais fortes. Excelentes noticias!

Avisaram quando estavam quase chegando e fui pra maternidade acompanhá-los. 13h50 Encontrei-os na recepção da Casa de Saúde, estavam aguardando a enfermagem vir buscá-los. Nos apresentamos, e conversamos um pouquinho, conversa já bem entrecortada pelas contrações.

A enfermeira chegou e os acompanhou pelo elevador, eu fui pelas escadas (o elevador só comporta 3 pessoas).

Foram encaminhados para a suíte de parto porque o quarto adaptado para parto humanizado já estava ocupado e os outros estavam passando por reformas.


Na suíte Rosa foi passou pelo cardiotocograma, e o exame de toque. A enfermeira disse que tinham sido muito otimistas dizendo que ela estava com dois dedos de dilatação, que nem chegava a isso, mas colo molinho, afinando e centralizado. O cardiotoco mostrou que as contrações estavam ficando próximas mas nos 20 minutos somente uma tinha sido efetiva (com força suficiente para promover dilatação). O médico não autorizou a internação dizendo que ficar no hospital só aumenta o stress e a chance de acabar em cesárea.




Sinceramente ficamos tristes com a possibilidade de perder a boquinha de ficar na suíte! rsrsrs Mas ele tinha razão, então ficamos ali conversando um pouco, Rafael procurou hotéis com vagas disponíveis, falei da possibilidade de darmos uma volta na praça, mas aí as contrações já estavam ficando realmente mais fortes e ela precisava se abaixar, estava começando a vocalizar um pouco mais alto, fiquei imaginando a cena no meio da praça, não ia dar muito certo!

Então fomos pra um hotel. 14h30 Fui com o meu carro para guiá-los, e apenas uma vez o Rafael deu sinal de luz me alertando que teriam que parar pq estava vindo uma contração.

Chegamos e no hotel tinha quartos com diferentes tamanhos por diferença de 10,00, então quisemos ver os quartos. Daí descemos do elevador e o sensor de presença não funcionou, a porta do elevador fechou e ficamos no escuro, Já comecei a rir imaginando que se ela tivesse uma contração eu ia sair tateando tentando chegar até ela... kkkkkkkkk Mas o Rafael foi até uma porta e abriu, o sensor funcionou e conseguimos encontrar o quarto. Era bonitinho.


Fomos ver o outro. Maior, uma cama a mais, menos espaço entre as camas e um cheiro de casa fechada horroroso. Nem entramos direito, todo mundo repetiu as mesmas falas - "que cheiro ruim, o outro é melhor"... e voltamos então para o corredor escuro. Eu e Rosa já ficamos no quarto, ela foi pro chuveiro, enquanto Rafael foi fazer o check in e pegar as malas. Depois saiu novamente pra comprar lanchinhos e suquinhos. Mulheres em trabalho de parto precisam comer. :)

Rosa tendo contrações mais fortes e mais próximas, entrou no chuveiro e logo declarou: - "não vou sair daqui nunca mais"!

O alívio que a água proprociona é grande mesmo. Água quentinha caindo nas costas, box largo suficiente pra mudar de posição, mais conforto. Pouco antes ela estava sentindo tremores, calafrios, e no chuveiro tudo voltou a ser calma e tranquilidade. Dor não é sinônimo de sofrimento!

Mais alguns minutos e o cansaço falou mais alto. Ela saiu do chuveiro e deitou-se para tentar descansar entre as contrações. Tinha ficado a noite anterior em pródromos fortes, já estava há mais de 24 horas sem dormir. Conseguia relaxar. Apaguei as luzes, ficamos na penumbra, e quando vinham as contrações eu me levantava e fazia massagens nas costas e pressão no quadril. Ela sempre relatando que a pressão nos dois lados do quadril aliviava mais.

Ficou assim umas 5 ou 6 contrações, depois tentou debruçar-se sobre a bola mas achou que a dor piorava, foi pro banheiro e sentou-se no vaso, eu dava as mãos pra ela puxar durante as contrações. Estava com sede, não tinha água no quarto e eu não queria deixá-la sozinha pra ir até a recepção buscar, mas nesse meio tempo o Rafael já mandou mensagem de que já estava chegando de volta, e logo entrou pela porta carregando as sacolinhas, vários lanches, duas garrafas de vitamina de frutas, e pamonhas. 17h00

Então Rosa tomou água, depois vários goles da vitamina, e uma mordida na pamonha salgada que ela detestou... rsrsrsr (Mas tinha da doce também. Ficou pra depois). Comeu um lanchinho wrap.

Caminhou pelo quarto, conversando pouco, às vezes ficava de cócoras durante as contrações, tentou deitar-se novamente, depois voltou pro vaso. Coloquei um travesseiro atrás da cabeça, ela gostou, recostou-se e conseguia descansar e até cochilar entre as contrações, que continuavam vindo mais fortes, mais próximas e já começavam a ficar mais compridas também.

Às 18h30 começamos a nos preparar para voltar ao hospital, era a recomendação dada pela enfermeira, que voltassem no final da tarde. Dessa vez já fui junto com eles, e no caminho paramos diversas vezes para esperar a contração passar. (Sempre considero que parar o carro é a melhor coisa a fazer, pois a imposssibilidade de mudar de posição e o balanço do carro pioram muito a sensação de dor, sem falar no risco de um buraco ou um obstáculo provocarem um solavanco que poderiam até resultar em descarga de adrenalina, fazendo as contrações diminuírem o ritmo ou a intensidade).

Aí o quarto adaptado já estava disponível, o cardiotoco foi repetido, assim como o exame de toque, que revelou 3cm de dilatação, bebê alto ainda, mas a s contrações bem próximas e bem mais fortes. No início da tarde as mais fortes chegavam a 16, agora já chegavam a 70 e estavam durando mais que um minuto. A internação foi autorizada, e a banheira logo colocada pra encher.

Pediram pro Rafael descer e assinar a internação, ele aproveitou para jantar e também trocou o carro de lugar, colocando-o próximo à recepção do ambulatório, que fica aberta durante a noite.

Rosa tentou o chuveiro, ficou por pouco tempo, tínhamos a impressão de que não estava esquetando. Ela entrou na banheira mesmo ainda com pouca água, quando vinham as contrações Rafael dava as mãos enquanto eu pressionava os pontos de dor. E assim ela ficou até a banheira estar cheia, e declarou novamente:

 - "É incrível como a água alivia, não vou sair nunca mais"!


Assim, Rafael e eu ficamos um tempo nos revesando no apoio físico a ela, dando as mãos, fazendo massagens, dando água, incentivando a comer, e logo chegou o momento de covardia, que passou a se repetir em casa contração: não vou conseguir, estou muito cansada, não aguento mais essa dor, não tem mesmo analgesia, e se eu tomar um remédio x será que não alivia?, estou tão cansada, queria tanto dormir...

A cada contração Rafael se desdobrava em atenção e frases de incentivo: você está conseguindo, lembra da preparação, respira, segura minha mão, estou aqui com você...

E eu ajudando com as massagens e mais incentivo: seu corpo está funcionando perfeitamente, olha como as contrações estão vindo bem, percebe como a ausculta está cada vez mais baixa, percebe como vc já está sentindo uma pressão diferente, você está conseguindo...

E assim que cada contração passava ela se recostava e descansava até a próxima, que começava com a mesma música: aaaaaaaaaai eu não aguento mais, eu quero dormir um pouco, eu preciso descansar, não tem mesmo analgesia, nem se eu implorar? E perguntou isso pra enfermeira.

A enfermeira explicou que a analgesia só seria possível quando estivesse quase nascendo, e eu expliquei que isso é raquidiana baixa, mas a peridural que poderia ser utilizada desde os 4 ou 6 cm São Carlos não oferece... sim, fiz isso na presença da enfermeira pq não vou admitir que uma mulher que eu estou doulando seja levada a acreditar que em todo lugar do mundo as mulheres só se tem acesso a analgesia quando o bebê está perto de nascer. Mas... existe aqui a possibilidade de uma injeção de dolantina, parente da mordina, que proporciona um relaxamento muscular e sonolência, além de às vezes um leve "barato".

Rosa aceitou a injeção, próximo de meia noite, e realmente deu uma aliviada e ela conseguiu descansar um pouquinho, embora tenha ficado um pouco decepcionada pq esperava um alivio maior da dor, mas um tempo depois chegou até a pensar em pedir mais uma injeção caso a dilatação ainda não estivesse completa.

Quando as contrações voltaram com força e ela voltou a pedir analgesia e em toda contração se dizia muito cansada, chegamos a conversar sobre a possibilidade de romper a bolsa. Esse rompimento tem que ser feito com muito critério e cuidado, não deveria jamais ser feito como rotina, mas entre uma intervenção que pode acelerar a descida do bebê e uma desistência completa levando à cesárea, mil vezes uma intervenção. Conversamos sobre prós e contras, Rosa autorizou, embora o Rafael se declarasse contra, pois não era o que estava no plano de parto, onde diziam que aguardariam o rompimento espontâneo. A enfermeira veio e fez o exame de toque, falou que o bebê ainda estava um pouco alto, não seria seguro romper a bolsa, era preciso esperar mais. Mas a dilatação estava completa. Então ela voltou pra banheira e nos desdobramos em ajudá-la a ficar de cócoras nas contrações, depois de duas ou 3 tentativas ela conseguiu ficar nesta posição durante a contração toda.


Estava frio e a água da banheira não permanecia quente. Rafael e eu nos revazavamos tirando água da banheira com um canecão e enchendo novamente com água quente.

Sugeri que ela ficasse um pouco na banqueta, não muito, mas o suficiente para ajudar o bebê a descer na pelve. Apesar de da boca pra fora ela estar cansada e querendo jogar a toalha, a força que ela tem se mostrava na disposição para fazer tudo que fosse necessário pra ajudar no nascimento.

Na banqueta vi a bolsa começar a aparecer. A enfermeira estava vindo fazer a ausculta, e pedi a ela que ficasse no quarto. - "Como eu não sei se o que estou vendo é um bolsão ou se a cabecinha está logo atrás... melhor ficar aqui." Ela concordou, foi só trocar de roupa, o que se mostrou providencial porque a bolsa foi descendo mais a cada contração e quando rompeu fez um jato que molhou até o meio do quarto. Líquido limpido, e Rafael comemorando: - "Viu só, rompeu sozinha, SOZINHA! Vc está muito bem, tudo conforme nosso plano de parto"... E seguiu comemorando e incentivando.

Depois da bolsa romper a cabecinha não estava logo atrás, então voltamos a aguardar, e a enfermeira não ficou o tempo todo, porém voltava com mais frequencia, ficava no quarto alguns minutos e saia novamente. Esse é o cuidado humanizado, o cuidar sabendo dar o espaço... fiz o mesmo, sai do quarto duas vezes com pretextos de buscar água ou ir ao banheiro, mas com o objetivo principal de deixá-los à vontade durante alguns minutos. Eu ficava por perto e entrava quando ouvia a vocalização típica da contração. Na segunda vez em que voltei ao quarto ela havia saído da banheira e estava sentada no vaso sanitário. Ele dá mais alívio que a banqueta pq é maior, mais alto e as laterais são mais confortáveis... ela estava começando a ter os puxos. Estava sentindo o bebê descendo. Revezou algumas contrações entre a banehira, a banqueta e o vaso sanitário,  e logo pudemos ver o topinho da cabeça começando a aparecer durante as contrações.

Então a ajudamos a ir sentar-se na banqueta, o Rafael estava tirando fotos, eu me sentei atrás dela e fiquei apoiando suas costas, Fiquei durante algumas contrações, depois troquei de lugar com o Rafael e passei a dar as mãos pra ela puxar, depois o lençol.


Hora de chamar a pediatra e estava caindo na caixa postal, perguntaram quem estava de plantão da UTI, era uma boa pediatra e concordou em atender, fiquei aliviada! É tão ruim quando depois do parto ser lindo vem um pediatra intervencionista e estraga tudo! :( Mas não foi esse o caso!

Médico a caminho, berço aquecido ligado, camera filmando, e bebê descendo mais a cada contração.

Rosa já não tinha duvidas, não tinha cansaço nem desanimo que pudesse lhe tirar esse momento, ela estava conseguindo, estava fazendo força.

Médico chegou, sentou-se à sua frente, pediatra chegou em seguida, todos em expectativa respeitosa, frases de incentivo sendo ditas nos momentos certos, Rafael apoiando e Rosa fazendo força e puxando o lençol...  lá vinha o bebê, cada vez mais, cada vez mais, até passar suavemente do ventre de sua mãe para as mãos do médico, que o ergueu para que ela o pegasse, enquanto dizia: - "é um moleque!" E todos sorrimos dando as boas vindas ao Gael!



Você conseguiu Rosa, você conseguiu! Forte, venceu seus medos, respirou suas inseguranças e suas dores, trazendo Gael ao lado de cá, com saúde e lindo! Rafael, presente o tempo todo, ajudando e incentivando, chorando ao ver seu filho chegando a esse mundo.



Pediatra foi super tranquila, observou sem tirar do colo por váááários minutos, e o bebê só foi tirado por pouco tempo, apenas enquanto a equipe ajudava a Rosa a chegar até a cama. Médico a examinou, placenta veio logo, o médico só ajudou ali no finalzinho, quando já estava solta. Não precisou dar pontos, bebê veio devagar, períneo integro.

Tudo absolutamente calmo, dia amanhecendo, fui até o hotel e peguei as coisas deles que tinham ficado lá, fiz o check out, voltei à maternidade para entregar as coisas, os 3 estavam dormindo, ferrados no sono! Entrei no quarto, ajeitei as coisas, já ia embora sem me despedir mas a Rosa estava dormindo com o bebê meio escorregando, fui ajeitar, ele chorou, ela acordou e eu fiquei me sentindo uma vaca! rsrsrsrsr Mas aí ajeitei o bebê no bercinho bem ao lado da cama, onde ela poderia vê-lo, ele dormiu novamente, o Rafael por sua vez continuava capotado. :) Dei um abraço bem gostoso na Rosa, deixei-os descansando e fui pra casa, sorrindo o tempo todo. Que domingo abençoado, que semana começando cheia de luz!

Voltei na terça pela manhã, para vê-los, encontrei a Rosa sentada na cama e cortando as unhas do bebê. Falamos sobre os sentimentos do parto, e os preparativos para pegar estrada e voltar para casa.



Parabéns a essa nova família! Que sejam abençoados sempre, com muita saúde e paz.
Gael seja muito bem vindo!


Obrigada pela confiança! Foi uma honra estar com vocês!

Grande abraço!

Vânia.
















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