Conheci Fabíola em uma reunião do Grupo de Apoio ao Parto Ativo de São Carlos, o nosso GAPN.
Na hora das apresentações sempre pedimos que as gestantes digam seus nomes, de quantas semanas estão, como ficaram sabendo do grupo, e o nome do médico... e na hora da Fabíola se apresentar, estando pela primeira vez ali, ela foi muito enfática, de um jeito que eu nunca tinha visto! Apresentou-se com calma e depois disse algo assim: "meu médico é o Fulano de Tal mas eu já quero deixar claro que se eu tiver que trocar de médico eu vou fazer isso pq a minha relação com ele é profissional e se ele não tiver condições de me proporcionar uma experiência segura eu troco, sem nenhum problema"!
Tenho que dizer que em certas ocasiões no GAPN eu tenho vontade de pular da cadeira e aplaudir de pé! E essa foi uma dessas vezes!
(Outra vez inesquecível foi quando um filho de médico disse que o pai dele era TOTALMENTE contra a decisão do casal de ter parto domiciliar, mas... que isso era um problema que o pai que resolvesse lá na terapia dele, porque o parto domiciliar já estava decidido! Aaaaaaaaaaaaah os cortes do "cordão umbilical", como são lindos!)
Bom... Fabíola me contratou como doula, fui à casa dela duas ou três vezes, os encontros eram muito tranquilos, tiramos dúvidas, assistimos alguns vídeos, eu deixei com ela a minha banheira que encaixa no box para ela poder tomar uns banhos bem gostosos.
E a mudança de médico também foi mesmo muito tranquila! O médico perguntou muito calmamente se não iam mesmo querer marcar a cesárea porque ele viajaria na sexta, então a cesárea teria que ser na quarta... e disse que na verdade não se sentia confortável para oferecer o tipo de parto que ela estava buscando, especialmente porque ela completaria 40 semanas, o que na opinião dele o tirava da zona de tranquilidade... então que ela se sentissem bem à vontade para mudar de médico se preferisse... e assim foi! Ligaram no médico indicado por mim, ele os atendeu, solicito como sempre, atencioso, o casal sentiu a diferença.
Fabíola entrou em TP na sexta-feira. Dois dias após trocar de médico.
Eu estava super indecisa sobre viajar no fds. Tinha uma vivência espiritual em Barra Bonita que eu queria ir, mas sentia que não devia... e não deu outra, na sexta o Gabriel ligou, às 18h15, dizendo que a contrações estavam já de 3 em 3 minutos doendo bem pouquinho, ela continuava conversando durante as contrações. Só por aí já deu para saber que estava muito no começo, pedi pra eles esperarem mais um pouco, meia hora mais ou menos, e me ligar novamente, mas recomendei que avisassem também o médico que o TP estava começando. Daí a pouco me ligaram de volta dizendo que o médico estava de plantão em outra maternidade e solicitou que eles fossem até lá para ele dar uma olhada, qualquer coisa voltariam para casa.
Tomei um banhão, dei uma checada nas mochila de doulagem e fiquei montando quebra-cabeças na internet pra passar o tempo.
As 9 da noite eles me ligaram. Fabíola estava com 2 dedos de dilatação, o exame de cardiotoco estava perfeito, mas eles preferiram já fazer a internação para ficarem mais tranquilos. Moram longe da maternidade e acharam que ir e voltar seria mais estressante. Fui pra lá também para ficar com eles.
Quando cheguei os pais do Gabriel estavam lá. Ficaram um pouco e depois foram embora. E chegaram os pais da Fabíola, ficaram um pouco e depois foram embora. A mãe dela com foi com lágrimas nos olhos, queria ficar, mas respeitou o momento em que o casal estava.
As 2 da manhã a ausculta dos batimentos cardíacos fetais estava um pouco abaixo do umbigo. Primeiro exame de toque, 5 cm. Fabíola dormiu na poltrona, tirava chochilos entre as contrações. Depois revezou entre a bola, o chuveiro e a banheira. Não perdia o pique, manteve-se guerreira e nos provocou risos várias vezes...
Uma vez foi quando ela estava na poltrona, cochilando, veio uma contração e ela começou a cantar:
"NOSSA! .. NOSSA!... Assim você me mata"...
Eu não deixei por menos, peguei meu celular e toquei a versão em inglês: "this way you´re gonna kill me... oh, if I catch you, OMG"!... o Gabriel quase caiu da cadeira de tanto rir...
Essa ficou para a história!
As 6 da manhã as coisas pareciam estar bem diferentes, tudo muito mais intenso, foco bem mais baixo, exame de toque pra não correr o risco de não dar tempo do médico chegar... 7 cm, bebê beeem baixo, faltando pouco pra começar os puxos.
Chuveiro, bola, caminhadinhas pelo quarto, Fabíola correu pro banheiro e vomitou.
A enfermeira comentou: "o vômito dos 7 cm"! Nunca tinha ouvido ser dito dessa forma, mas sim, na transição - fase dos 7 aos 10cm - é mais comum vomitar.
O médico passou por ali, perguntou como estavam as coisas, conversou um pouquinho e foi embora, tudo muito tranquilo, uma benção!
Fabíola estava na poltrona, voltou para a banheira, passou a vocalizar bem mais forte durante as contrações, e pediu que sua mãe fosse chamada para vir ficar junto. Discordei nessa hora, tenho que confessar! Fui contra, argumentei, mas Fabíola foi firme em sua decisão. Sua mãe foi chamada, e tive impressão que chegou muito muito rápido! rsrsrs Já ouvi dizer que algumas mães tem asas...
Coloquei música de lobos uivando, Fabíola adorou. quando acabava ela logo pedia pra tocar de novo. Perdi a conta de quantas vezes os lobos uivaram nesse dia!
Quando a mãe chegou Fabíola já estava bem calma, apenas respirando fundo durante as contrações, e mesmo assim sua mãe derramava lágrimas todas as vezes que ela tinha contrações durante a primeira hora que esteve ali. Depois se acostumou, se acalmou, e ajudou, e no final juntou-se ao coro dos incentivos, quando Fabíola já estava muito cansada.
Às 10h30 o foco estava muito baixo, novo exame de toque: 9 cm.
Energia renovada, mais banheira, mais chuveiro, mais massagens, incentivos... mas Fabíola começou a ficar chorosa, quando vinham as contrações ela engatava um mantra de "não aguento mais, não aguento mais, não aguento mais", e Gabriel rebatia com "aguenta sim, você é forte, aguenta sim, você é forte". Apesar disso ela continuava choramingando... sugeri ao Gabriel que não falasse com ela algumas vezes, que assim ela acharia a fonte da própria força, que ela estava precisando dar um mergulho no fundo desse poço para conseguir tomar impulso e sair de lá com seus próprios recursos. E isso realmente aconteceu, mas tive a impressão que ela quase se afogou... ela entrou em desespero, passou a falar muito rápido e alto: EU NÃO VOU DESISTIR, EU QUERO VER VOCÊ NOS MEUS BRAÇOS, EU VOU CONSEGUIR, EU QUERO QUE VOCÊ NASÇA, EU NÃO VOU PEDIR CESÁREA AGORA QUE FALTA TÃO POUCO...
Mas isso foi falado com uma força tão grande que levou todos os presentes às lágrimas, inclusive eu... foi muito intenso!
Daí a algumas contrações ela voltou pra banheira, coloquei a música de uivos novamente, ela se tranquilizou tanto que eu e Gabriel chegamos a ter a impressão que as contrações tinham parado, mas depois ela explicou que conseguiu entrar em um estado meditativo profundo e passou a não reagir às contrações.
Mas explicou que não aguentava mais e pediu cesárea.
O médico veio, pediu para examinar com cuidado, inclusive para descartar a hipótese de que estivesse quase nascendo, ou que alguma manobra pudesse viabilizar o parto vaginal... fez um exame de toque com ela sentada na banqueta, amparada pelo Gabriel, e pediu para sentir se a bebê descia durante a contração. A dilatação continuava a mesma de 5 horas antes, e durante a contração a cabecinha não se moveu nem um milímetro. E assim a decisão pela cesárea foi tomada, o anestesista foi chamado, e Fabíola foi preparada para a cirurgia, com a maior calma possível. A dificuldade nessa hora é que quando a via cirúrgica foi decidida cada contração passa a representar uma dor totalmente sem sentido, e dói mais. Mas não demorou muito e já escutamos o chorinho da Luna através das portas do Centro Cirúrgico.
Gabriel acompanhou-a o tempo todo, e saiu junto com ela. Família reunida, todos felicitando o casal e a Fabíola por ter sido tão guerreira.
Apesar da cesárea ter sido a pedido no princípio, ficamos com a impressão de que realmente a Luna não conseguiria nascer por via baixa. Ela tinha um degrau na testa e as orelhinhas dobradas pelas 5 horas em que ficou parada no mesmo ponto. Não posso jurar, mas penso que ela entrou no canal de parto em uma posição mais difícil, olhando para a frente, o que algumas vezes não impede que o bebê nasça, mas no caso dela acabou sendo decisivo.
Nessa experiência o que mais me impressionou foi a tranquilidade do casal pois mesmo tendo ido ao grupo apenas uma vez, tendo trocado de médico às vésperas do parto, tendo ficado tantas horas em trabalho de parto para no final terminar numa cesárea, em momento algum eles lamentaram a decisão e a luta pela qual passaram juntos. Foram guerreiros, se apoiando o tempo todo, e trazendo sua filha para o lado de cá da melhor forma possível em cada um dos momentos. Compreenderam a força do processo natural pelo qual passaram até o momento da decisão pela cesárea, e a diferença que isso fez na vida da criança.
Sou muito grata por viver momentos como estes, em que um casal se torna uma família, e que bebês chegam a esta Terra!
Fabíola e Gabriel, muito muito obrigada pela honra de ter doulado vocês! Foi uma experiência muito linda!
Luna, seja sempre muito bem vinda!
Um grande abraço!
Vânia C. R. Bezerra
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Querida Vânia!
Você não tem noção de quão feliz me deixou seu relato!
Não só pelas suas palavras mas também por me fazer reviver tudo AQUILO de novo!
Meu Deus... que delícia!
A Luna está uma FOFA! Magicamente tranquila, carinhosa, esperta, saudável e bela (como as mães são puxa saco, Meu Deus!) Eu não poderia estar mais feliz em toda minha vida! É uma felicidade serena!
Para minha família, ela trouxe luz! Isso traduz tudo.
Me empolguei depois que li seu relato e estou começando a escrever sob minha ótica.
Claro que eu gostaria muito que você publicasse seu texto, principalmente porque das minhas fontes de inspiração e coragem, e também o lugar de onde eu tirava minhas dúvidas (madrugadas antes do parto!), o seu blog era dos mais importantes. Assim que devo muito a ele e reconheço a importância dos relatos para as futuras mamães. Te peço também que publique o meu texto, assim que eu terminar (vai levar alguns dias). Sobre os nomes, pode incluir tudo o que você quiser, inclusive as fotos que estou te enviando.
Muito obrigada por tudo! Por me ajudar a trazer ao mundo essa criaturinha!
Beijos
Fabi
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Opa, que delícia! Daqui a alguns dias então teremos o relato da Fabíola! Fiquei muito feliz!
Beijos, beijos! E vamos em frente, mudando o mundo, um parto de cada vez, um parto de cada vez!
Vânia.
Quem sou eu
- Vânia C. R. Bezerra
- São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
- Sou Doula e Psicóloga. Atendo em consultório na Vila Prado em São Carlos SP. Formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Sou doula e psicóloga. Atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566
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