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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou Doula e Psicóloga. Atendo em consultório na Vila Prado em São Carlos SP. Formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Sou doula e psicóloga. Atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Carolina e Ana Paula – Nina


Essa doulagem foi tão linda, tão perfeita, tão amorosa, tão tudo... que fico emocionada começando a escrever. Sinto um quentinho no coração, meus olhos estão brilhando, tenho certeza! Sabem aquela pergunta: “você quer com emoção ou sem emoção”? Essa foi com muita emoção!



Então lá vai:


Carolina me escreveu fazendo perguntas sobre doulagem, preparação, grupo de apoio... um dia Ana Paula foi à reunião do grupo e falou comigo no final. Disse que a Carol tinha ido numa reunião anterior mas não tinha conseguido falar comigo, e neste dia acho que ela estava gripada... então a Ana foi sozinha. 

Conversamos, falamos sobre a oficina de parto, elas se inscreveram e compareceram pontualmente... bem no dia em que atrasamos pra caramba o começo da oficina porque não achávamos as caixinhas de som... enfim, o oficina foi super legal e no final combinamos um dia para eu ir à casa delas. Em todas as conversas e trocas de e-mails eu tinha deixado claro que doular paciente do SUS para mim era um problemão... mas conversa vai, conversa vem, falei que doularia até a porta da maternidade... ou melhor, um quarteirão antes. Na esquina eu desceria do carro e elas seguiriam caminho sem mim. Elas toparam esse esquema, então começamos a preparação.

Assistimos os filmes, conversamos bastante, eu adorava ir à casa delas... ah, tenho que contar isso: no primeiro dia em que eu fui até lá o Raul foi me levar... (aliás, ele foi me levar todas as vezes), e ficamos completamente perdidos porque ele quis pegar um atalho por trás da rodoviária... e chegou uma hora que eu não fazia a menor idéia de onde estávamos... então ele fez uma curva, freou bruscamente e disse: “é aqui”! Eu comecei a rir e não parava mais, assim, de pura bobeira... de completamente perdidos a completamente localizados, a diferença foi só uma esquina. Pois é!

Entrei na casa delas rindo muito, e felizes foram todas as nossas reuniões. Quando já estava perto do final da gestação, Carolina e Ana Paula foram conhecer a maternidade, em uma tarde que a enfermagem dedica à recepção das futuras mamães que estão fazendo o pré-natal pelo SUS, para que conheçam as instalações, etc. Sabem quantas pessoas compareceram? Duas: Carolina e Ana Paula. Mas mesmo assim a enfermeira chefe as recebeu, falou sobre parto, elas perguntaram sobre o uso da banqueta de parto e da bola de fisioterapia que a maternidade possui e que elas haviam visto no site...

A enfermeira ficou feliz delas estarem bem preparadas e disse que não haveria problemas em utilizar esses recursos.

Quando elas me contaram, super elogiaram o atendimento que receberam, e estavam muito confiantes. Eu permanecia reticente. Já tinha sido confiante antes, e minha confiança foi arrasada pelo médico plantonista que fez questão de marcar território... De qualquer forma eu queria muito que essa história fosse diferente. Trabalhei muito para isso. E no fim fiquei com tanto medo de errar e fazê-las ir muito cedo para a maternidade (já aconteceu duas vezes comigo de achar que a dilatação estava avançada e estava com um ou dois dedos só!), que acabei contratando a Jamile por minha conta, para ir verificar a dilatação antes da transferência para a maternidade. Só que... Jamile avisou que iria a um congresso durante o período em que Nina poderia nascer.

Na ultima reunião de preparação para o parto eu conheci o pai da Nina. Ele tinha ido levar alguma coisa, não me lembro se era o berço ou o carrinho... Cumprimentamo-nos e ele logo foi embora.

Carolina passou muitas noites com contrações irregulares, mas suficientemente fortes para não deixá-la dormir. Independentemente das contrações, ela também sentia muito desconforto na lombar. Chegou a um ponto de exaustão em que ela até chorou porque precisava tanto dormir... mas as contrações só davam trégua durante o dia. Até que chegou a noite em que elas ficaram mais fortes e foram ficando mais próximas. Nina tinha resolvido nascer!

Ana Paula me ligou às seis e vinte da manhã. E disse assim:

-“Oi! Eu estava com dó de te acordar... Nós ficamos esperando o dia amanhecer pra te ligar”...
Cheguei lá às 7h30. Raul desejou boa sorte e foi embora. Entramos.
Encontrei Carolina andando, com expressão cansada, contando como tinha sido a noite. Tinha sido Agitada!

Naquele dia a Carolina tinha marcado um café da manhã com a mãe dela. Ficamos durante algum tempo conversando e pensando no que dizer... ela não queria que a mãe viesse ficar junto, nem que avisasse mais ninguém. Queria privacidade. (Certíssima!)

Daí a pouco ela pegou o celular, ligou para a mãe, avisou que não iria porque já estava com contrações... e falou bem firme: “não avise mais ninguém, eu não quero que ninguém venha aqui, a casa é pequena e eu quero ter liberdade... eu vou desligar os telefones, e depois que nascer eu aviso. Beijo mãe! Não se preocupe, vai dar tudo certo”.

Ah, se todas as grávidas fossem capazes de romper o cordão umbilical com suas mães... se tivessem a coragem de fazer o que a Carol fez... boa parte dos problemas durante o parto seriam sanados! E por mais que a gente avise durante as reuniões do GAPN que são raríssimas as mães que não atrapalham, vira e mexe acontece de novo e temos que lidar com a mãe da parturiente com cara de “você está fazendo minha filhinha sofrer”! rsrsrsrsr

Não foi o caso da mãe da Carol. E o que a Carol disse ela fez mesmo: todos os telefones foram desligados, e ninguém apareceu. Sua mãe a respeitou. Ah, se todas as mães fossem assim...

Ana Paula saiu para ir avisar que faltaria ao dia de trabalho, tinha que assinar alguma coisa... (o local de trabalho era bem perto de casa). E na volta trouxe pão e fizemos um café.

Então, as contrações foram ficando mais fortes, mais próximas e mais duradouras... lançamos mão da bola de fisioterapia sobre a cama, para que ela pudesse debruçar-se e descansar um pouco... bolsa de água quente nas costas, massagem com gel de arnica... e banheira enchendo dentro do box. Água esquentando no fogão... e eu pendurada no telefone tentando saber quem era o/a plantonista no SUS. E mais uma vez não demos sorte...

Às 11 da manhã Carolina entrou na banheira. Relaxou, tirou alguns cochilos nos intervalos... de vez em quando eu jogava água quente no canto da banheira. Mesmo com o chuveiro ligado estava um dia um tanto frio e a água precisa ficar quentinha.

Elas tinham feito um plano de parto, que levariam para a maternidade e entregariam para quem fosse atendê-las. Neste plano de parto estava escrito várias vezes: "avisar a doula quando... contar com a doula para... ficar com a doula até que"... Passei tudo a limpo e tirei a doula do plano. Risos... se eu não iria para a maternidade por suspeita de que a minha presença não só não seria bem vinda como poderia fazer com que o médico resolvesse marcar território (tipo: “aqui quem manda sou eu” ou “doulas deveriam trabalhar no circo”...), mesmo não tendo meu nome no plano, a simples palavra “doula” poderia fazer diferença no atendimento. Então, a toque de caixa, passei tudo a limpo. O plano de parto que elas levaram estavam inteirinho com a minha letra, mas não mencionava as temidas doulas... rsrsrsr

Carolina começou a sentir os puxos (vontade de fazer força) perto de meio-dia e meia. O plantonista mudaria às 13h00... Jamile estava mesmo viajando, então não tínhamos como verificar a dilatação em casa. Era preciso esperar mais um pouco.

Neste ponto o plano era chamar um táxi ou o resgate se sentíssemos que não daria tempo do táxi chegar...  E nessa hora minha confiança no plano começou a falhar. Fiquei pensando num motorista de táxi desesperado pela possibilidade do bebê nascer antes de chegarmos à maternidade... ou ficando bravo porque o banco ficou sujo de sangue... ele teria calma suficiente para parar durante uma contração mais forte e esperar passar? Eu duvidava... pararia para eu descer uma esquina antes? Eu duvidava... então o jeito era chamar o resgate... fariam ela se deitar com a barriga pra cima e passariam aquelas correias que prendem o paciente à maca para poderem acelerar sem risco dela cair? Talvez... eu nunca vi parturiente sendo atendida pelo resgate, não faço idéia se a prendem na maca ou deixam ela ir sentada... e a sirene ligada? Péssima idéia para quem precisa se manter relaxada... chegar na maternidade de resgate já atrai a atenção do quarteirão inteiro, e seria em um horário de visita... putz!


O QUE EU FAÇO AGORAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA??????


Não tem jeito... alguém vai ter que ajudar! Liguei para a minha super irmã ativista, Andréia.
- Déia, não vai dar certo ir de táxi ou de resgate... vc pode vir para levá-las até a maternidade?
- “Claro! Só que... o pneu da moto furou, então o Raul foi levar o Felipe na escola com o carro... quando ele chegar eu levo a Laura e depois vou até aí... dá pra esperar”?

Vai ter que dar!

Meia hora depois liguei pra Andréia... ela atendeu e disse:
- “Já estou aqui na rua, pode sair que só falta achar o número”.

Ana Paula e eu ajudamos a Carolina sair da banheira, secar-se, vestir-se, pegamos as malas e bolsas... e fomos para a frente do prédio. Entre a porta do apartamento e a porta do prédio tinha uns dez/doze metros, e Carol parou duas vezes para esperar a contração passar. Mais uma vez antes de entrar no carro. Elas foram no banco de trás e eu no banco da frente, Andréia dirigindo com toda a calma, sempre atenta aos lugares onde poderia estacionar se a próxima contração começasse. Acho que paramos umas cinco vezes no trajeto até a maternidade, e quando faltava só dar a volta no quarteirão Andréia parou para eu descer, Carol olhou pra mim e disse: “Vânia eu não vou aguentar”... Olhei bem nos olhos dela e respondi: “vai sim linda, você está muito bem e assim que você puder descer do carro vai ficar mais fácil, vai melhorar já já... boa sorte queridas, me liguem quando nascer”...

Desci e Andréia acelerou para aproveitar o intervalo entre as contrações... fui andando bem devagarinho, fazendo minhas orações e fiquei na outra esquina esperando a carona de volta! Rsrsr

Andréia contou que na recepção tinha que fazer a ficha e a recepcionista ficou fazendo mil perguntas... então Andréia perguntou: “ela não pode ser atendida primeiro e fazemos a ficha depois”? A recepcionista então perguntou para a Carolina: “tá doendo muito”? Carolina estava debruçada sobre o balcão, só levantou a mão e fez sinal de positivo. Então elas foram encaminhadas para dentro, mas não antes de esperar a contração passar.

Andréia me pegou na esquina de baixo, eu a levei para trabalhar (na época ela trabalhava em uma empresa na cidade jardim, não muito longe do ap. da Carolina), e eu tinha ficado com a chave delas para poder voltar lá, pegar a banheira e dar uma arrumada em tudo.

Aí... o resto da história eu não sei...
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Brincadeirinha! Depois d’eu voltar pra casa, almoçar, descansar... liguei na maternidade e pedi informações sobre a paciente Carolina...
- “Está aqui sim, já nasceu, está tudo bem”.
- Foi cesárea ou parto normal?
- “Parto normal”.
- Que legaaaaaaaaaaaaaaaaal... Ok, obrigada.

Bom, mas até aí eu já tinha visto antes. Chegar quase nascendo e virar parto frank ainda era uma preocupação. Então, depois que tiveram alta e eu fui visitá-las (inclusive para devolver a chave, que eu esqueci em casa e tive que voltar outro dia... rsrsrsr), e elas contaram os detalhes. Foram atendidas pela enfermeira, o médico não foi chamado embora provelmente tenha sido avisado, a enfermeira (minha chará) adorou elas terem levado plano de parto e pediu permissão para colocá-lo no mural (!!! Quanta diferença de outra, cerca de dois anos antes, que ficou espantada e disse: “ué! Paciente agora tem vontade?!!!).

O parto foi sem transferência para o centro cirúrgico, na banqueta de parto e sem episiotomia. Carolina deu uns bons gritos e ninguém a censurou em nenhum momento, e Nina foi colocada em seu colo assim que nasceu. O cordão não foi cortado imediatamente, foi cortado pela Ana Paula, e a amamentação foi estimulada imediatamente... enfim, um parto com o atendimento perfeito. Nina nasceu uma hora depois que elas deram entrada na maternidade.


Depois que estavam no quarto o médico plantonista passou e disse com jeito de censura:
- “Desse jeito o próximo nasce em casa”!
E Carolina respondeu:
- “Se eu puder pagar, sim, se não vai ter que ser aqui mesmo”!
Tóin!

Mais tarde ela teve problemas na amamentação e na visita eu também tentei ensiná-la a ordenhar para aliviar as mamas, o que deu resultado na hora, mas não durou muito e sozinha ela tinha dificuldades. Quando foi relatar o parto lá no GAPN contou que o parto foi muito legal, mas a amamentação não foi. E recomendou fortemente que a preparação para a amamentação fosse intensificada. Nessa parte o filme “Amamentação sem mistérios” lançado logo depois foi importantíssimo para atendermos esta demanda.




http://www.maternidadeativa.com.br/aleitamento/index.html








Ana Paula contou também que o pediatra que atendia a Nina no Posto de Saúde as chamou para uma conversa e perguntou se elas não tinham pensando no preconceito que a Nina sofreria na escola quando assumiram o relacionamento. Responderam educadamente com outra pergunta: "o senhor faz o mesmo questionamento para os casais pertencentes a outras minorias? Quer uma lista de motivos pelos quais as crianças podem ser vitimas de preconceito na escola? Para quantos destes o senhor se achou no direito de dar conselhos"?



Mudaram de médico. Ainda bem que existia esta opção.

Agora, pouco mais de um ano depois, Ana Paula está fazendo um estágio na Alemanha, Carolina já voltou a frequentar as aulas regulares da faculdade e tem contado com a ajuda preciosa do pai da Nina. Paternidade consciente, graçasaDeus!

A mãe da Carolina não ficou magoada ou ofendida por não poder acompanhar o parto da filha, e depois ate ajudou a pagar pela doulagem! E não se cansa de curtir a netinha linda!

Carol e Ana Paula, muitíssimo obrigada por terem me convidado. A história de vocês me devolveu a fé que o serviço público pode ser muito bom. Quem depende dele precisa estar muito bem informado sobre seus direitos, e ainda dependemos da sorte para pegar uma excelente enfermeira de plantão... mas sim, pode ser muito bom!



Eu adorei fazer parte desta história. Um graaaaande beijo, amo vocês!
Nina, bem vinda a este lindo mundo. Você merece tuuuuudo de bom!

Beijos,

Vânia Doula.


3 comentários:

  1. que liiindo....

    sou de Manaus, tbm espero conseguir meu pn...

    mas morro de medo de ceder, de acabar deixando médico ou outra pessoa me levar e acabar fazendo outra cesárea, como aconteceu com meu primeiro filho.... olha q foi pelo SUS, jurava q iam tentar pn até o fim...

    vc teria alguma indicação de alguma maternidade (SUS) onde eu possa conseguir meu vbac?? Minha irmã teve bb ano passado, e mesmo com 2 anos e meio da cesárea anterior dela não deixaram que fosse PN...

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  2. Olá!
    Pois é... ao mesmo tempo em que as maternidades SUS sempre apresentam indices maiores de PN, na prática pude observar que a taxa de cesareas entre plantonistas do SUS podem chegar a 80%... outro colega tem 15%, então na média vai dar algo entre 40 e 50%. Conclusão: tudo vai depender demais do plantonista daquele dia. Ficamos à mercê da sorte. É uma trsite realidade.

    Gostaria de ter lago melhor para dizer. Fico na torcida, espero que seu parto seja do jeitinho que vc sonhou.

    Beijos.

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  3. menina, que relato!
    devorei em dois tempos, quanta emoção!
    parabéns pra essa família inteira: as companheiras, o pai, a avó... e pra você, que sempre dá um jeito em tudo!
    beijo saudoso
    thaís

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