Eu e Frê fomos à casa da Claudia uma vez para explicar como é o trabalho de doula e no que poderíamos fazer alguma diferença... e Claudia nos contou sobre seu primeiro parto - o nascimento da Marcela. Tinha sido induzido e com anestesia, e ela guardava este parto como uma boa experiência, tendo portanto alguma dificuldade de aceitar que desta vez não poderia ser da mesma forma. Dra Carla, neste intervalo entre as duas gestações da Claudia tinha mudado muito sua forma de atender e não fazia mais partos com analgesia.
Aliás ela agora dizia que quem faz o parto é a gestante e que papel de bom obstetra é ficar ao lado e observar, entrando em cena só em caso de necessidade.
Então, eu e Frê conversamos com a Claudia sobre esstas mudanças... e cerca de duas semanas depois ela me ligou dizendo que gostaria de começar as reuniões de preparação para o parto natural.
Depois de 3 ou 4 reuniões ficamos aguardando o grande dia, onde conheceríamos o Rafael, irmão da Marcela.
No dia 08/12 meu telefone já tinha tocado mais cedo. Era a Frê dizendo que a Danuza estava em trabalho de parto, e depois de um pouco de conversa resolvermos que a Frê iria doular a Danuza e eu trocaria com ela quando amanhecesse o dia. Daí a pouco meu telefone tocou de novo. Pensei: nossa, será que já nasceu? Não... era a Cláudia avisando que estava em TP, e estava bem tranquila. Era só para eu ir me preparando.
Levantei, tomei um cafézinho, um banho... e logo meu telefone tocou de novo. Era a Claudia.
-"Agora já pode vir que está mais forte".
Chamei um táxi e ele demorou uma vida inteira para chegar... Marcelo me ligou pedindo que eu me apressasse e eu estava quase chegando lá.
Encontrei a Claudia no quarto do casal, sentada na cama, um pouco suada e um pouco ofegante, mas totalmente na paz. Contou que a Marcela tinha ido para a casa da tia, de pijama e tomando uma mamadeira gostosa, feitinha na hora. Todos muito tranquilos.
Inflei a bola suiça e a coloquei sobre a cama, e Claudia ficava de joelhos sobre a cama, descansando apoiada na bola, enquanto eu massageava suas costas. O Marcelo já estava esquentando água quando eu cheguei e colocamos também a bolsa de água quente. Claudia parecia fazer questão que o marido se afastasse quando ela estivesse com contrações. Assim ela podia fazer cara feia e xingar à vontade... quando passava ela o chamava e pedia alguma coisa: água, uma toalha... de modo que ele corria prá lá e prá cá conforme as contrações iam e vinham.
Já contei que ADORO mulheres que ficam bravas? Sabe, não dá para parir preocupada em ser uma "boa menina". Boas meninas marcam cesáreas, vão ao salão de beleza, fazem escova e unhas artísticas, e chegam na maternidade bem vestidas. Eu, com certeza, prefiro gente de verdade, que chega suada e descabelada, muitas vezes enroladas apenas no roupão de banho. Essas conseguem parir com louvor.
Claudia quis tomar um banho, e eu levei a bola para o banheiro. Continuei incentivando e fazendo massagens durante as contrações, cada vez mais fortes, mais próximas e mais duradouras. Ela me contou que tinha entrado na banheira no dia anterior eu acho, e não tinha conseguido sair da banheira sem ajuda, de modo que ficou gritando até o Marcelo aparecer para ajudá-la a sair. Demos muita risada... gestante passa por cada uma!
Bom... o TP foi ficando mais forte, e ela começou a dizer que sentia vontade de ir ao banheiro só durante as contrações. Tentou uma vez e nada... tentou novamente e nada... sinal de trabalho de parto avançado. Hora de ir para a maternidade.
Marcelo colocou as coisas no carro e a ajudamos a se vestir. No corredor do quarto até a sala de estar ela teve contrações, e depois da segunda ela travou no lugar e não conseguia mais andar... e tinha impressão de que ia fazer cocô. Booooom... mas vamos indo prá maternidade? Vem eu te ajudo... precisamos ir ... Eu e Marcelo fomos ajudando, puxando, empurrando, incentivando... até ela chegar no carro e sentar-se no banco de trás, bem na ponta do banco, abraçada ao encosto do banco da frente. E assim fomos para a maternidade, parando durante as contrações, eu massageava as costas dela, e Marcelo ficava de olho pelo retrovisor até que a Claúdia dissesse que podia continuar. Pé na tábua até a próxima contração.
No caminho liguei para a maternidade e pedi que levassem uma cadeira de rodas até a portaria pq ela realmente não estava conseguindo andar. Eu já sabia que a Dra Carla já estava lá pq tinha trocado uns torpedos com a Frê, que estava doulando a Danuza.
Chegamos, Claudia foi para dentro da maternidade na cadeira, e eu a acompanhei enquanto o Marcelo ficou fazendo a internação. A maternidade estava tão lotada que ela foi levada para um quarto particular, pois era o único disponível. Enquanto estávamos entrando no quarto eu vi a Dra Carla e a Frê lá na outra ponta de corredor, e logo a Carla chegou e pediu licença para avaliar a dilatação e altura do bebê. Ao fazer o exame de toque seu semblante se iluminou e ela disse: - Está nascendo!
Ela explicou que o parto não poderia ser no quarto pq a Danuza tinha solicitado analgesia, o que seria uma última tentativa para ver se o bebê descia, pois ela tinha ficado algum tempo com a dilatação completa mas o bebê não vinha... assim, não daria para ficar com uma paciente dentro do centro cirurgico e outra no quarto, ambas com dilatação total... então: fomos todos para o centro obstétrico.
Claudia foi de maca, e a entrada no CO foi meio dramática pq a maca travou na metade, não ia nem para a frente nem para trás... eu fui ajudar e quase derrubei ela da maca, peloamordeDeus! Que susto! No fim o jeito foi ajudá-la a descer da maca que tinha ficado meio pendurada. Dei a volta correndo, coloquei a roupa esterilizada, e quando as encontrei a Claudia vinha andando meio pendurada nos ombros da Dra Carla e Dra Patricia. Entramos em uma sala, onde a banqueta de parto já estava posicionada, e Claudia sentouse nela. Fiquei atrás apoiando, até o Marcelo aparecer e trocar de lugar comigo. Peguei a máquina fotográfica, e após poucas contrações e um grito de
- "Vemmmmmmmmmmmmmm Rafaaaaaaaaa que a mamãe está te esperandooooooooo"!!!!
Nasceu o Rafael! E foi direto para o colo de sua mãe, onde foi abraçado e recebido com palavras afetuosas da mamãe e do papai, ambos muito sorridentes. Tudo perfeito.
Tirei várias fotos, logo após o nascimento, e depois, na primeira mamada.
Após exame a médica disse que precisaria dar uns pontinhos. Mas a bebê da Danuza, a Laís, esperava ali do lado. Claudia e Marcelo ainda acompanharam minha angústia pelo desfecho do parto da Danuza. Viram quando eu chorei pq tinha virado cesárea, depois viram que eu tinha me tranquilizado pq estavam novamente aguardando o parto... e depois virou cesárea mesmo, e eu fui filmar.
Depois sai do CO, que estava bem movimentado e minha presença começou a causar estranheza.
Aproveitei e fui até o PQ, onde fiz um lanche e comprei umas coisinhas para a Claudia, que enquanto aguardava o desfecho do parto da Danuza tinha se queixado algumas vezes de fome. Quando ela chegou no quarto e viu os pães de queijo, seus olhos brilharam. Rsrsrsr
Fiquei com ela durante algum tempo, e como tinha demorado para sair do CO devido ao congestionamento de cesáreas agendadas... 4 horas após o nascimento do Rafael ele ainda não estava no quarto. Procurei a enfermeira plantonista e era a Shirley, linda!. Expliquei que tinha sido um parto tão lindo... tudo tão perfeito... mas a demora para trazer o bebê poderia estragar tudo! Ela então foi pessoalmente buscar o Rafael, e dez minutinhos depois ele chegou. Lindo ... e sonolento. Com dificuldade de pega. A demora já tinha feito seus estragos. Nada que a determinação da Claudia e do Marcelo não pudessem vencer, mas poderia ter sido um começo de vida mais tranquilo para o Rafael se ele não tivesse ficado separado de sua mãe durante as preciosas primeiras hora de vida. Ele já tinha mamado um pouquinho no C.O., mas depois disso ficou tempo demais separado da família. O calor de um abraço de mãe nunca poderá ser substituido por um berço aquecido!
Daí a pouco o Marcelo me levou para casa. Voltei com a sensação já bem conhecida que o mundo fica melhor a cada parto respeitoso que acompanho. Respeito pela fisiologia feminina e pelo nascimento suave, como foi o do Rafael.
Claudia voltou ao GAPN para contar seu parto. E completou dizendo:
- "Embora durante o trabalho do parto eu tenha ficado bem mal humorada, dando ordens o tempo todo para o Marcelo - vai pra lá, vem prá cá... - eu queria dizer que a presença dele foi fundamental, e ali quando o Rafael estava já nascendo, eu sentir a força do Marcelo atrás de mim foi muito importante... (nessa parte ela já estava com os olhos marejados)... Então eu queria agradecer ao meu marido... e também dizer aos maridos aqui que tenham paciência... pq depois do parto a gente volta ao normal viu?
Lindo depoimento! Maravilhoso!
Claudia, Marcelo, Marcela e Rafael. Foi uma honra ter trabalhado com vocês.
Um graaaaande abraço,
Vânia C. R. Bezerra
Quem sou eu
- Vânia C. R. Bezerra
- São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
- Sou Doula e Psicóloga. Atendo em consultório na Vila Prado em São Carlos SP. Formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Sou doula e psicóloga. Atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566
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Muito linda a trajetória dessa família. O relato emocionado no GAPN, após o parto, recheado de fotos e transpirando partolândia, inspirou vários outros casais. Adoro relembrar momentos como esse!!!!
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