Respondemos todas as perguntas, ou pelo menos fizemos o possível pra isso. E nas semanas seguintes ela começou frequentar o GAPN, sempre fazendo perguntas e considerações, cada vez mais certa do que queria para si e seu bebê conforme ia matando sua sede de informações.
Veio conversar sobre doulagem já com 34 semanas, e eu, que queria tanto ser a doula dela, já não podia assumir mais doulagens pra aquele período.
Mas quando a gente quer muito os caminhos se abrem... pra minha surpresa, na semana seguinte um dos bebês nasceu de 37 semanas, e assim abriu uma vaga para o próximo mês. Liguei pra ela!
- Posso ser sua doula! Você já contratou outra?
- "Nããão!" :)
Ficamos ambas muito felizes e acertamos um encontro já para os próximos dias.
Fazíamos as reuniões de preparação individualizada na casa casa da mãe dela, pois o plano era ir pra lá quando as contrações começassem. Matheus trabalhava e estudava em outra cidade, e havia esse pequeno temor de ficar sozinha enquanto ele não chegasse. A casa da mãe sendo perto, ela iria pra lá ainda enquanto estivesse em pródromos.
Durante as reuniões assistimos videos de parto, tiraram duvidas, conversamos muito, passeamos no quintal imaginando o que poderia ser feito no dia do parto, como poderíamos esquentar o ambiente caso o dia estivesse frio, e onde poderíamos encher uma banheira, caso isso fosse necessário.
Reta final da gestação, e a vida resolveu mandar umas provinhas!
Médico obstetra com viagem marcada para o período em que o João poderia escolher pra nascer, então Marisa fazia pré natal com dois médicos ao mesmo tempo, e ainda tentou marcar com um terceiro, pra ter um back up mais confiável caso nascesse mesmo durante a viagem do médico de escolha.
Uma irmã doente, em outro país, e a mãe delas super dividida entre ir socorrer a irmã e deixar a Marisa aqui, tão perto do parto.
E no meio disso tudo corre um boato de que o convênio médico descredenciaria o hospital/maternidade onde ela pretendia ter seu parto.
É ou não é pra estar ansiosa? Parecia que tudo acontecia ao mesmo tempo, sem tempo pra respirar entre um problema e outro!
Um dia ela me escreveu contando que tinha ido a um homeopata pra falar sobre a ansiedade.
Que tristeza termos que passar por isso! No Brasil a briga é pra parir. :P
Então... 1996 a OMS já alertava contra esses procedimentos. E aí alguém que já está um pouco ansiosa vai ao médico e escuta um monte de besteiras! Que tristeza!
Vamos em frente que tá vindo gente!
Marcamos, conversamos, andamos mais pelo quintal.
A irmã melhorou, a mãe não precisou viajar.
Médico de escolha chegou de viagem.
Convênio médico anunciou que o descredenciamento não atingiria a maternidade.
Finalmente a paz se fazendo presente!
E então...
Recebi mensagens com poucos minutos de intervalo.
- "Vânia as contrações começaram".
- "Vânia, a bolsa rompeu. Estou indo pra maternidade".
- "Já avisei o Matheus, ele está vindo".
- "A dilatação já está em 5, vamos ficar. Pode vir direto pro hospital".
Me lembro de estar subindo as escadas até a maternidade, a mãe dela chegando junto comigo, trocamos palavras e sorrisos, tudo estava correndo bem.
Entrei no quarto, encontrei o casal bem conectado, ele apoiando e incentivando, ela aceitando o apoio e pedindo ajuda quando precisava. Mudava de posição, aceitava as massagens, revesou entre chuveiro, banqueta e banheira, bebê descendo lentamente, hora da covardia chegou com força. Cansaço, dúvidas sobre ser forte o suficiente, choro.
As duas avós vieram, a mãe da Marisa e a mãe do Matheus, e ficaram no corredor vigiando a porta. De vez em quando espiavam pela porta, quando alguém estava entrando ou saindo. Perguntavam se ela queria que buscassem alguma coisa, mandavam beijinhos... Uma hora a Marisa ficou brava e proibiu que elas espiassem de novo. rsrsrsr
Já falei que quando a mulher fica brava aumenta a minha fé de que vai nascer? :)
Mas o momento de covardia continuava e continuava, até que a braveza se voltou para o parto, e aí foi o meu momento de ficar brava com ela. Superou tanta coisa, passou por tanta ansiedade na gestação, quis tanto esse parto, pra desistir na reta final? Nada disso! Acha seu norte, busca tua força, vc está bem e o bebê também. O que mais podemos fazer por vc?
E neste meio tempo fiz perguntas sobre a religião/espiritualidade do Matheus, estava com uma música religiosa martelando na cabeça, fez sentido com o que ele me falou. Não me lembrava da música toda, mas passei a cantar o pedaço que insistia em vir à minha consciência toda vez que ela tinha uma contração. Cantei baixinho, ao mesmo tempo em que fazia as massagens, dando passagem à espiritualidade e chamando João pro lado de cá. É interessante isso. Nas reuniões do GAPN falamos tanto sobre ciência, sobre sentir-se segura e fazer seu plano de parto individual. E de repente lá estava eu fazendo tudo ao contrário, e sentindo que estava fazendo o certo. Fui contra a decisão dela pela cesárea, e fiquei ali fazendo esse papel horroroso de impor limites às escolhas dela. E ainda cantei um hino religioso que não estava previsto. Mas então... ela começou a fazer força. Muita força!
Enfermeira veio e examinou, realmente parecia bem próximo, então obstetra e pediatra foram chamados, berço aquecido ligado, tudo preparado, Marisa na banqueta, Matheus apoiando suas costas, médico chegou e sentou-se no chão à frente dela. No quarto, eu, enfermeira, duas tecnicas e a pediatra, todas torcendo e incentivando. Marisa fazia força e a cabecinha vinha um pouquinho de cada vez, só mais um pouquinho, só mais um pouquinho...
Aí teve uma força maior, e a cabecinha deu uma descida maior, vindo até a metade pra fora. Todas comemoramos, fizemos um coro de "Eeeeeeeeeeee"! E o médico deu uma olhada pra trás, com o olhar zangado, cuja mensagem era - "Silêncio na torcida"!
Kkkkkkkk, ficamos todas cabisbaixas, tentando não rir pela trapalhada coletiva!
E nesse clima de silêncio e respeito pelo seu tempo, João chegou, direto pro colo de sua mãe e o abraço de seu pai. O casal trocou vários beijinhos e ele repetia como ela tinha sido forte. O parto reconecta o casal de uma forma maravilhosa!
Logo as avós puderam entrar pra conhecer o netinho, e assim nesse clima de alegria e confiança deixei-os. Família linda, unida e completa!
Muito honrada por ter atendido esse parto! (E muito feliz por mais de um ano depois tê-los encontrado na porta da maternidade quando subiam para conhecer a sobrinha recém-nascida, também recebida com naturalidade, força e confiança).
Aos poucos vamos mudando a história dos nascimentos no Brasil. Que assim seja!
Parabéns Marisa, Matheus e João! Beijos!
( Detalhe: essa foi a minha centésima doulagem!)
Fazíamos as reuniões de preparação individualizada na casa casa da mãe dela, pois o plano era ir pra lá quando as contrações começassem. Matheus trabalhava e estudava em outra cidade, e havia esse pequeno temor de ficar sozinha enquanto ele não chegasse. A casa da mãe sendo perto, ela iria pra lá ainda enquanto estivesse em pródromos.
Durante as reuniões assistimos videos de parto, tiraram duvidas, conversamos muito, passeamos no quintal imaginando o que poderia ser feito no dia do parto, como poderíamos esquentar o ambiente caso o dia estivesse frio, e onde poderíamos encher uma banheira, caso isso fosse necessário.
Reta final da gestação, e a vida resolveu mandar umas provinhas!
Médico obstetra com viagem marcada para o período em que o João poderia escolher pra nascer, então Marisa fazia pré natal com dois médicos ao mesmo tempo, e ainda tentou marcar com um terceiro, pra ter um back up mais confiável caso nascesse mesmo durante a viagem do médico de escolha.
Uma irmã doente, em outro país, e a mãe delas super dividida entre ir socorrer a irmã e deixar a Marisa aqui, tão perto do parto.
E no meio disso tudo corre um boato de que o convênio médico descredenciaria o hospital/maternidade onde ela pretendia ter seu parto.
É ou não é pra estar ansiosa? Parecia que tudo acontecia ao mesmo tempo, sem tempo pra respirar entre um problema e outro!
Um dia ela me escreveu contando que tinha ido a um homeopata pra falar sobre a ansiedade.
Que tristeza termos que passar por isso! No Brasil a briga é pra parir. :P
Então... 1996 a OMS já alertava contra esses procedimentos. E aí alguém que já está um pouco ansiosa vai ao médico e escuta um monte de besteiras! Que tristeza!
Vamos em frente que tá vindo gente!
Marcamos, conversamos, andamos mais pelo quintal.
A irmã melhorou, a mãe não precisou viajar.
Médico de escolha chegou de viagem.
Convênio médico anunciou que o descredenciamento não atingiria a maternidade.
Finalmente a paz se fazendo presente!
E então...
Recebi mensagens com poucos minutos de intervalo.
- "Vânia as contrações começaram".
- "Vânia, a bolsa rompeu. Estou indo pra maternidade".
- "Já avisei o Matheus, ele está vindo".
- "A dilatação já está em 5, vamos ficar. Pode vir direto pro hospital".
Me lembro de estar subindo as escadas até a maternidade, a mãe dela chegando junto comigo, trocamos palavras e sorrisos, tudo estava correndo bem.
Entrei no quarto, encontrei o casal bem conectado, ele apoiando e incentivando, ela aceitando o apoio e pedindo ajuda quando precisava. Mudava de posição, aceitava as massagens, revesou entre chuveiro, banqueta e banheira, bebê descendo lentamente, hora da covardia chegou com força. Cansaço, dúvidas sobre ser forte o suficiente, choro.
As duas avós vieram, a mãe da Marisa e a mãe do Matheus, e ficaram no corredor vigiando a porta. De vez em quando espiavam pela porta, quando alguém estava entrando ou saindo. Perguntavam se ela queria que buscassem alguma coisa, mandavam beijinhos... Uma hora a Marisa ficou brava e proibiu que elas espiassem de novo. rsrsrsr
Já falei que quando a mulher fica brava aumenta a minha fé de que vai nascer? :)
Mas o momento de covardia continuava e continuava, até que a braveza se voltou para o parto, e aí foi o meu momento de ficar brava com ela. Superou tanta coisa, passou por tanta ansiedade na gestação, quis tanto esse parto, pra desistir na reta final? Nada disso! Acha seu norte, busca tua força, vc está bem e o bebê também. O que mais podemos fazer por vc?
E neste meio tempo fiz perguntas sobre a religião/espiritualidade do Matheus, estava com uma música religiosa martelando na cabeça, fez sentido com o que ele me falou. Não me lembrava da música toda, mas passei a cantar o pedaço que insistia em vir à minha consciência toda vez que ela tinha uma contração. Cantei baixinho, ao mesmo tempo em que fazia as massagens, dando passagem à espiritualidade e chamando João pro lado de cá. É interessante isso. Nas reuniões do GAPN falamos tanto sobre ciência, sobre sentir-se segura e fazer seu plano de parto individual. E de repente lá estava eu fazendo tudo ao contrário, e sentindo que estava fazendo o certo. Fui contra a decisão dela pela cesárea, e fiquei ali fazendo esse papel horroroso de impor limites às escolhas dela. E ainda cantei um hino religioso que não estava previsto. Mas então... ela começou a fazer força. Muita força!
Enfermeira veio e examinou, realmente parecia bem próximo, então obstetra e pediatra foram chamados, berço aquecido ligado, tudo preparado, Marisa na banqueta, Matheus apoiando suas costas, médico chegou e sentou-se no chão à frente dela. No quarto, eu, enfermeira, duas tecnicas e a pediatra, todas torcendo e incentivando. Marisa fazia força e a cabecinha vinha um pouquinho de cada vez, só mais um pouquinho, só mais um pouquinho...
Aí teve uma força maior, e a cabecinha deu uma descida maior, vindo até a metade pra fora. Todas comemoramos, fizemos um coro de "Eeeeeeeeeeee"! E o médico deu uma olhada pra trás, com o olhar zangado, cuja mensagem era - "Silêncio na torcida"!
Kkkkkkkk, ficamos todas cabisbaixas, tentando não rir pela trapalhada coletiva!
E nesse clima de silêncio e respeito pelo seu tempo, João chegou, direto pro colo de sua mãe e o abraço de seu pai. O casal trocou vários beijinhos e ele repetia como ela tinha sido forte. O parto reconecta o casal de uma forma maravilhosa!
Logo as avós puderam entrar pra conhecer o netinho, e assim nesse clima de alegria e confiança deixei-os. Família linda, unida e completa!
Muito honrada por ter atendido esse parto! (E muito feliz por mais de um ano depois tê-los encontrado na porta da maternidade quando subiam para conhecer a sobrinha recém-nascida, também recebida com naturalidade, força e confiança).
Aos poucos vamos mudando a história dos nascimentos no Brasil. Que assim seja!
Parabéns Marisa, Matheus e João! Beijos!
( Detalhe: essa foi a minha centésima doulagem!)
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